Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Indígenas eram mais violentos que portugueses? Um debate histórico-ético https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/10/26/indigenas-eram-mais-violentos-que-portugueses-um-debate-historico-etico/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/10/26/indigenas-eram-mais-violentos-que-portugueses-um-debate-historico-etico/#respond Tue, 26 Oct 2021 16:40:40 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/Theodor_de_Bry_-_Canibais-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6670 O último vídeo do nosso canal no YouTube, sobre o lado sombrio da genômica dos brasileiros, despertou algumas reações bizarras vindas dos alçapões da internet. Teve gente querendo colocar a violência de diferentes civilizações na balança e afirmando categoricamente que os indígenas eram “muuuuito piores” que os portugueses. Bem, lá vamos nós discutir história e ética. Confira a breve resposta a esses comentários no vídeo abaixo.

SPOILER: europeus do século 16 não tinham nenhum motivo pra bater no peito e se dizer melhores.

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Um guia para entender o lado sombrio do genoma dos brasileiros https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/10/20/um-guia-para-entender-o-lado-sombrio-do-genoma-dos-brasileiros/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/10/20/um-guia-para-entender-o-lado-sombrio-do-genoma-dos-brasileiros/#respond Wed, 20 Oct 2021 13:29:55 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/maldição-de-Cam-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6660 Quando os cientistas examinam o DNA da população brasileira, percebem que há uma disparidade enorme entre as linhagens paterna e materna no genoma dos habitantes do Brasil. Do lado masculino, há um predomínio muito alto da herança europeia, e a herança indígena quase desaparece; do lado materno, há um aparente equilíbrio entre os genes de origem ameríndia, africana e europeia.

Como explicar isso? É o que tento fazer neste vídeo longo, mas bastante completo. Spoiler: é muito difícil explicar isso sem levar em conta a brutalidade do processo de colonização do país. Confiram abaixo.

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Lucy vai a Guarulhos na exposição Do Macaco ao Homem https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/10/16/lucy-vai-a-guarulhos-na-exposicao-do-macaco-ao-homem/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/10/16/lucy-vai-a-guarulhos-na-exposicao-do-macaco-ao-homem/#respond Sat, 16 Oct 2021 13:55:47 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/Reconstruction_of_the_fossil_skeleton_of__Lucy__the_Australopithecus_afarensis-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6649 Se você está em busca de algo bacana para fazer neste final de semana na Grande São Paulo, recomendo fortemente que você coloque uma máscara de boa qualidade (a pandemia não acabou, afinal de contas) e dê uma passada na exposição “Do Macaco ao Homem — Transições”, que fica até o dia 30 de outubro de 2021 no Internacional Shopping, em Guarulhos. É a sua chance de ver, por exemplo, uma reprodução fidelíssima do esqueleto acima, a célebre Lucy, de 3,2 milhões de anos.

Lucy era membro da espécie de primata bípede Australopithecus afarensis, é um ícone da história evolutiva dos nossos ancestrais, e é apenas uma das atrações da mostra, que conta ainda com reproduções de crânios e ferramentas de pedra e bustos dos hominínios (membros da linhagem humana).

A curadoria é do bioantropólogo Walter Neves, professor sênior da USP e um dos expoentes dessa área de pesquisa no país. E outros shoppings do país deverão receber esse pequeno tesouro. Mais informações aqui. O horário de visitação é de 10h às 22h.

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A mitologia do roubo do fogo e a teoria da evolução numa só obra https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/05/04/a-mitologia-do-roubo-do-fogo-e-a-teoria-da-evolucao-numa-so-obra/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/05/04/a-mitologia-do-roubo-do-fogo-e-a-teoria-da-evolucao-numa-so-obra/#respond Tue, 04 May 2021 13:48:39 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/05/alberto-mussa-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6601 Chegou por aqui um livro que tem tudo para ser uma das leituras mais instigantes que farei neste ano. O escritor Alberto Mussa gentilmente me enviou o exemplar acima de “A Origem da Espécie: O roubo do fogo e a noção de humanidade”.

Na maior parte do tempo, Mussa escreve ficção, mas eu já conhecia sua aguçada capacidade de transformar o conhecimento antropológico e etnográfico em algo gostoso de ler quando topei com “Meu Destino É Ser Onça”, sua recriação e análise da mitologia tupinambá.

No novo livro, o autor é ainda mais ambicioso: usa dados sobre a trajetória evolutiva humana e a mitologia comparativa das mais variadas regiões do planeta para analisar as histórias do roubo do fogo primordial. Aliás, ele recolheu centenas de histórias diferentes relativas a esse mitologema (como dizem os especialistas) numa das seções do livro.

Assim que terminar a leitura, conto mais aqui.

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Qual seria o cartaz na parede de uma convenção de bonobos? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/22/qual-seria-o-cartaz-na-parede-de-uma-convencao-de-bonobos/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/22/qual-seria-o-cartaz-na-parede-de-uma-convencao-de-bonobos/#respond Mon, 22 Mar 2021 20:55:35 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/bonoba-menor-180x119.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6560 É só uma piada, mas me pareceu boa demais para não compartilhar com o gentil leitor do blog.

Qual seria o lema de uma convenção de bonobos (Pan paniscus), os simpáticos primos dos chimpanzés-comuns (também conhecidos como chimpanzés-pigmeus)?

“Bonobos: só não vale dar uns pegas na mamãe. Ache um buraco e seja feliz.”

(Para quem não sabe, os bonobos se notabilizam pela vida sexual promíscua e relaxada e pela baixa agressividade.)

A piada vem do divertidíssimo episódio sobre neandertais do podcast You’re Dead To Me, da BBC, apresentado pelo historiador Greg Jenner e com participação da especialista em neandertais Becky Wragg Sykes e do humorista Tim Minchin.

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Novos fósseis ajudam a reconstruir avô de todos os primatas https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/novos-fosseis-ajudam-a-reconstruir-avo-de-todos-os-primatas/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/08/novos-fosseis-ajudam-a-reconstruir-avo-de-todos-os-primatas/#respond Mon, 08 Mar 2021 12:59:13 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/Purgatorius_web-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6541 O nome científico e a história do bichinho são irresistíveis: o Purgatorius mckeeveri, cuja reconstrução artística você pode conferir em toda a sua glória na imagem, é o mais antigo membro da linhagem dos primatas, a mesma que daria origem a micos-leões-dourados, chimpanzés e, claro, a eu e você.

Quão antigo? Quase tão antigo quanto os dinossauros. Os autores da descoberta da nova espécie de Purgatorius, liderados por Gregory Wilson Mantilla, da Universidade de Washington, em Seattle (EUA), estimam que o animal viveu há 65,9 milhões de anos, meros 100 mil anos após o evento de extinção em massa que acabou com o reinado dos dinossauros não-avianos. (A expressão exclui as aves, as quais, é claro, também são dinossauros. Digo “nova espécie de Purgatorius” porque o gênero já era conhecido.

Membro do grupo dos plesiadapiformes, o animalejo era onívoro, mas provavelmente tinha especial predileção por frutas. Os fósseis foram achados no estado americano de Montana, e a descrição oficial da descoberta está na revista especializada Royal Society Open Science.

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Projeto da USP aborda evolução humana com enfoque plural e inclusivo https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/02/27/projeto-da-usp-aborda-evolucao-humana-com-enfoque-plural-e-inclusivo/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/02/27/projeto-da-usp-aborda-evolucao-humana-com-enfoque-plural-e-inclusivo/#respond Sat, 27 Feb 2021 13:46:12 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/EVOLUÇÃO-PARA-TODES-CIENTISTAS-1-320x213.png https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6527 É um imenso prazer chamar a atenção do leitor do blog para um projeto de divulgação científica muito interessante criado pelo pessoal do LAAAE-USP (Laboratório de Arqueologia, Antropologia Ambiental e Evolutiva da USP). Trata-se do Evolução para Todes, sob a batuta de três pós-graduandas do laboratório: Mariana Inglez, Lisiane Müller e Eliane Chim.

O trio chama a atenção para um problema óbvio da comunidade acadêmica e de divulgação científica brasileira (e mundial): somos muito pouco diversos. A participação e a representação de profissionais que não sejam brancos e do sexo masculino nessas áreas ainda são baixíssimas. E isso talvez seja especialmente grave em áreas como a arqueologia e paleoantropologia, que possuem uma relação histórica com o colonialismo e o racismo — a qual, óbvio, precisa ser discutida e criticada. A grande ironia, claro, é que a grande maioria dos eventos cruciais da evolução humana ocorreram na África e em outras regiões distantes da Europa, envolvendo populações que hoje classificaríamos como negras.

Por isso, fica aqui o convite para conhecer o trabalho competente das moças. Você pode acessar o Instagram do projeto, por exemplo. E, para quem tem pequenos cientistas em casa, está sendo produzida uma fofíssima série de vídeos sobre os temas aos quais o grupo se dedica. Você pode conferir os dois primeiros aqui:

E aqui:

(Quem conhece a Cidade Universitária na capital paulista certamente reconhecerá o prédio do Instituto de Biociências da USP logo no primeiro quadro do segundo vídeo. Bateu até uma saudade.)

Parabéns pela iniciativa e longa vida ao projeto!

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Reis neandertais na Idade Média em livro de fantasia alternativa https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/reis-neandertais-na-idade-media-em-livro-de-fantasia-alternativa/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/reis-neandertais-na-idade-media-em-livro-de-fantasia-alternativa/#respond Mon, 11 Jan 2021 17:36:56 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/neanderthal-king-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6518 Por essa eu não esperava: guerreiros neandertais na Idade Média (?!).

Ao menos é o que diz o resumo do livro do escritor americano Matt Ward, batizado de “Neanderthal King” (“Rei Neandertal”):

“O ano é 1107, e o império neandertal, antes poderoso, agora não existe mais, destruído pelo sombrio rei sapien, Isaac, o mesmo bastardo que massacrou os jovens herdeiros da rainha thal. Um revés brutal do poder medieval, forjado em sangue e alimentado pela ingenuidade sap.

Mas um bebê escapou da ira do rei louco.

Criado como filho de um simples pastor thal, Maralek é um rapaz durão com o temperamento e orgulho ferozes de seu povo arruinado, um desprezo por regras e governantes, e menos do que um pouco de criatividade em seu crânio espesso. Numa palavra, o típico neandertal.”

Achei especialmente divertido o jeito como o autor usa versões curtas dos nomes de espécies — “sap” para “sapiens” (ou “sapien”, sem s — dica, o “s” aí não é plural), “thal” para neandertal e assim vai.

Não tem como esse negócio ser bom, certo? Mas parabéns ao autor pela coragem, pelo menos.

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Quando os europeus eram considerados atrasados pelo seu clima https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/14/quando-os-europeus-eram-considerados-atrasados-pelo-seu-clima/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/14/quando-os-europeus-eram-considerados-atrasados-pelo-seu-clima/#respond Mon, 14 Dec 2020 15:57:54 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/View_of_Toledo_AD_976-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6469 Volta e meia alguém ressuscita a conversinha mole de que os habitantes de nações quentes (tipo esta aqui em que estamos) são mais pobres/atrasados/preguiçosos etc. do que os dos países temperados por causa do clima. Sabe como é, calor tropical dá uma leseira, né?

Ahã. Senta lá, Claudia.

Depois de ouvir algumas vezes esse papo, foi uma grata surpresa ver que, no século 11 da Era Cristã, um escritor muçulmano usou exatamente esse argumento do determinismo climático DE FORMA INVERSA. Afinal, no tempo dele, a frígida Europa, nas latitudes temperadas da Inglaterra, Alemanha etc. é que era social, cultural e tecnologicamente atrasada perto do mundo islâmico. Vejam só o que ele diz:

“As outras pessoas desse grupo [o dos bárbaros], que não cultivaram as ciências, são mais semelhantes a feras do que a homens. Pois para aqueles que vivem mais ao norte, entre o último dos sete climas e os limites do mundo habitado, a distância excessiva do sol em relação à linha do zênite faz com que o ar se torne frio, e o céu, nebuloso. Os temperamentos deles, portanto, são frígidos, seus humores, cruentos, seus ventres, fartos, sua cor, pálida, seus cabelos, longos e escorridos. Assim, falta-lhes agudeza de compreensão e clareza de inteligência, e são sobrepujados pela ignorância e apatia, falta de discernimento e estupidez.”

Aqui, os molengas são os que vivem no frio, e não os que vivem em lugares quentes. As palavras acima foram escritas por Said ibn Ahmada, em 1068, na cidade espanhola de Toledo.

O mundo não gira, gentil leitor — ele capota mesmo.

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Caverna no México pode ter ocupação humana mais antiga das Américas https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/07/22/caverna-no-mexico-pode-ter-ocupacao-humana-mais-antiga-das-americas/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/07/22/caverna-no-mexico-pode-ter-ocupacao-humana-mais-antiga-das-americas/#respond Wed, 22 Jul 2020 15:27:50 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/caverna-mexicana-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6331 Artefatos de pedra descobertos numa caverna do México sugerem que os seres humanos começaram a colonizar o continente americano há cerca de 30 mil anos, e não há apenas 15 milênios, como a maioria dos arqueólogos acredita hoje. Se os dados estiverem corretos, será preciso repensar quase todo o consenso construído ao longo das últimas décadas sobre a chegada do Homo sapiens às Américas.

Os instrumentos antigos foram encontrados na caverna de Chiquihuite (estado de Zacatecas, centro-norte do México). Trata-se de uma região montanhosa, quase 3.000 metros acima do nível do mar. As escavações e a análise dos artefatos, conduzidas por uma equipe internacional de cientistas, foram coordenadas por Ciprian Ardelean, da Universidade Autônoma de Zacatecas, e publicadas na revista científica Nature.

Também assinam o trabalho três pesquisadores da USP: Jennifer Watling, do Museu de Arqueologia e Etnologia da universidade brasileira, e Vanda de Medeiros e Paulo de Oliveira, do Instituto de Geociências. O trio foi responsável pela análise de vestígios vegetais presentes na caverna: fitólitos (grãozinhos de sílica produzidos pelas plantas) e pólen. Investigar esses restos ajudou a equipe a reconstruir o ambiente que circundava o abrigo rochoso há dezenas de milhares de anos.

A caverna tem sido estudada desde 2012, e dados preliminares obtidos naquela época já sugeriam que a presença humana ali poderia ser muito antiga. Depois disso, Ardelean e seus colegas exploraram sistematicamente uma área de 62 m2 (equivalente a um apartamento de dois quartos), com camadas de ocupação humana que alcançavam até 3 metros de profundidade. O trabalho permitiu que eles recuperassem quase 2.000 artefatos de pedra, que vão de pequenas lascas, resultantes do trabalho de quebra de seixos maiores, até instrumentos finalizados, como pontas de lança e lâminas.

Os pesquisadores usaram amostras de carvão, de ossos (de animais) e de sedimentos para datar as diferentes camadas do sítio arqueológico pelo método do carbono-14, o mais usado para estimar a idade de objetos que contêm matéria orgânica. As datações de carbono-14, em geral, confirmam o que indica a sucessão de camadas, ou seja, as mais profundas de fato são as mais antigas.

E as camadas mais antigas, de fato, superam em muito o que se esperava encontrar na região. Os cientistas calculam que a primeira fase de ocupação da caverna teria começado entre 33 mil e 31 mil anos atrás. Depois disso, as datações se estendem por cerca de 20 milênios, chegando a 13 mil anos antes do presente.

Se as datas mais recuadas estiverem corretas, o grande problema vai ser explicar como a ocupação do México em época tão remota se encaixa no cenário mais amplo da chegada do ser humano às Américas.

O que se sabe com base na maioria dos sítios arqueológicos, e também a partir da análise do DNA dos povos indígenas atuais e de antigos esqueletos, indica que os primeiros habitantes do continente vieram da Sibéria, possivelmente atravessando uma ponte de terra que existia entre a Ásia e o Alasca graças ao frio da Era do Gelo, que havia levado ao rebaixamento do nível do mar (pois boa parte da água do planeta estava “represada” em geleiras). Para se espalhar rumo ao sul, esses grupos siberianos talvez tivessem se aproveitado de uma abertura nas geleiras que então recobriam boa parte da América do Norte. Outra possibilidade é que esse avanço tivesse acontecido pela costa do Pacífico, o que permitiria uma migração relativamente rápida de norte a sul do continente.

Tudo isso deveria ter acontecido a partir de 16 mil anos atrás, segundo os modelos mais aceitos hoje. Mas há um punhado de sítios arqueológicos espalhados pelo continente com datas bem mais antigas. Alguns dos mais importantes estão no Brasil, na serra da Capivara (PI), com datas que também chegam a 30 mil anos, e em Santa Elina (MT), com cerca de 20 mil anos. Ambos os sítios ainda estão longe de ter suas datações amplamente aceitas pela comunidade científica internacional, em parte porque há questionamentos sobre os supostos artefatos de pedra achados neles, os quais, para alguns arqueólogos, poderiam ter sido alterados por causas naturais. Haveria razão para achar que a situação será dififerente no caso do sítio mexicano?

“Vai ser muito difícil que a maioria dos arqueólogos especializados na América antiga aceite essas datas”, alerta Ruth Grun, do Departamento de Antropologia da Universidade de Alberta, no Canadá, que comentou as novas pesquisas a pedido da “Nature”. Já André Menezes Strauss, pesquisador do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP que não participou do novo estudo, é mais otimista.

“A impressão que eu tenho é que ninguém vai discutir esses novos artefatos. Não só eles têm uma definição muito mais clara como eles são muito mais padronizados. E, como eles dizem, é uma indústria lítica [um estilo de produção de instrumentos] que a gente nunca viu na América antes. Então parece fazer sentido: uma coisa que é anterior com uma definição que a gente não conhecia antes. Claro que não vai convencer todo mundo, mas muda o cenário”, diz Strauss. “Agora, a grande questão que fica é: quem eram esses caras?”

A pergunta é especialmente intrigante porque, apesar de um esforço concentrado para tentar obter DNA humano na caverna, o grupo só conseguiu identificar material genético de diversos animais (como cavalos selvagens). Também não há ossos humanos no abrigo.

“Não podemos dizer se essas populações muito antigas sobreviveram por tempo suficiente para serem absorvidas pelos grupos que chegaram mais tarde. Se isso aconteceu, é provável que a contribuição delas tenha sido tão pequena que se tornou impossível de rastrear geneticamente”, diz Jennifer Watling, da USP.

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