Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Genoma do rinoceronte-de-sumatra é saudável apesar da população pequena https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/04/28/genoma-do-rinoceronte-de-sumatra-e-saudavel-apesar-da-populacao-pequena/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/04/28/genoma-do-rinoceronte-de-sumatra-e-saudavel-apesar-da-populacao-pequena/#respond Wed, 28 Apr 2021 12:42:11 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/rinoceronte-de-Sumatra-Kertam-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6571 Querido leitor, diga olá para o Kertam. Ele é um jovem rinoceronte-de-sumatra, membro de uma espécie ameaçadíssima– aliás, o mamífero mais ameaçado do mundo de acordo com algumas estimativas, com menos de uma centena de exemplares ainda vivo. Situação horrorosa, concordo, mas o primeiro estudo feito sobre o genoma completo dos bichos –no qual o DNA do próprio Kertam foi “soletrado”– traz uma pequena boa notícia em meio à desgraça.

Ocorre que, em espécies de população reduzida, existe uma tendência à consanguinidade. Com poucas opções de parceiros, os animais muitas vezes acabam se acasalando com parentes próximos. Isso é péssimo para a saúde dos filhotes, já que tende a concentrar, nos mesmos indivíduos, genes ligados a doenças, malformações etc.

A sorte, porém, é que isso ainda não aconteceu nas populações do rinoceronte nas ilhas de Sumatra e Bornéu (Sudeste Asiático). A equipe da nova pesquisa, liderada por Johanna von Seth, do Centro de Paleogenética de Estocolmo, na Suécia, mostrou que a consanguinidade ainda não afeta significativamente os paquidermes que sobraram, provavelmente porque a perda populacional severa é um fenômeno recente na espécie. Para evitar que o pior aconteça, os rinocerontes-de-sumatra precisam de proteção para que sua população volte a crescer.

O estudo sobre o genoma da espécie está na revista especializada Nature Communications.

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Livro digital gratuito revela a beleza do Gran Chaco brasileiro https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/01/livro-digital-gratuito-revela-a-beleza-do-gran-chaco-brasileiro/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/01/livro-digital-gratuito-revela-a-beleza-do-gran-chaco-brasileiro/#respond Mon, 01 Mar 2021 13:39:07 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/IMG-7300-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6534 Uma gratíssima surpresa apareceu na minha caixa de mensagens nesta manha de segunda-feira. Falo do livro “Chaco Brasileiro: Um Manifesto Fotográfico da Biodiversidade” (ricamente ilustrado, em formato eletrônico PDF, que você pode baixar de graça clicando aqui). A obra é um guia de mais de 300 páginas que ajuda a conhecer — e, aposto, amar — a porção brasileira do Gran Chaco, um peculiaríssimo bioma sul-americano que muita gente nem faz ideia de que existe por aqui.

O Gran Chaco é uma mistura única de semiárido, cerrado e Pantanal, com gramíneas, cactos e matas influenciadas pela alternância das estações seca e chuvosa. Os panoramas revelados no livro, os detalhes de flores e frutos e da fauna (em especial as aves) são de tirar o fôlego. Boa parte do que resta do bioma no Brasil fica no município de Porto Murtinho (MS).

Os autores são Paulo Robson de Souza, Ângela Lúcia Bagnatori Sartori, Arnildo Pott, Flávia Maria Leme, Thomaz Ricardo Favreto Sinani, Rosani do Carmo de Oliveira Arruda e Adriano Afonso Spielmann. Parabéns a eles pela bela iniciativa!

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As aves do bosque vizinho, um microretrato da biodiversidade https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/as-aves-do-bosque-vizinho-um-microretrato-da-biodiversidade/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/11/as-aves-do-bosque-vizinho-um-microretrato-da-biodiversidade/#respond Mon, 11 Jan 2021 14:47:10 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/mutum-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6510 Tenho a sorte tremenda de morar do lado de um fragmento de mata (área de transição de mata atlântica com cerrado) faz sete anos. Com a ajuda de um guia de observação de aves da Wildlife Conservation Society, volta e meio tento identificar as espécies aladas que vejo por aqui, em especial quando consigo caminhar perto do bosque bem cedo. Neste fim de semana, consegui fazer o inventário de todos os bichos que lembro de ter visto nesses anos. Ei-la (lembrando que posso ter me confundido em alguns casos, é claro — meu olho não é dos mais treinados):

1)Jacupemba (Penelope superciliaris)
2)Mutum-de-penacho (Crax fasciolata)
3)Socozinho (Butorides striatus)
4)Garça-branca-grande (Ardea alba)
5)Curicaca (Theristicus causaria)
6)Urubu-preto (Coragyps atratus)
7)Carcará (Caracara plancus)
8)Quero-quero (Vanellus chilensis)
9)Asa-branca (Patagioenas picazuro)
10)Rolinha-caldo-de-feijão (Columbina talpacoti)
11)Periquitão-maracanã (Aratinga leucophtalma)
12)Periquito-de-encontro-amarelo (Brotogeris chiriri)
13)Anu-preto (Crotophaga ani)
14)Anu-branco (Guira guira)
15)Tucanuçu (Ramphastos toco)
16)Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris)
17)Arapaçu-do-cerrado (Lepidocolaptes angustirostris)
18)João-de-barro (Furnarius rufus)
19)Choró-boi (Taraba-major)
20)Choca-barrada (Thamnophilus doriatus)
21)Bentevi (Pitangus sulfuratus)
22)Siriri (Tyrannus melancholicus)
23)Tangará (Chiroxiphia caudata)
24)Gralha-do-campo (Cyanocorax cristatellus)
25)Sabiá-do-campo (Mimus saturninus)
26)Corruíra (Troglodytes musculus)
27)Sabiá-barranco (Turdus leucomelas)
28)Saí-azul (Dacnis cayana)
29)Saíra-amarela (Tangara cayana)
30)Gaturamo-verdadeiro (Euphonia violacea)
31)Sanhaço-cinza (Thraupis sayaca)
32)Sanhaço-do-coqueiro (Thraupis palmarum)
33)Pipira-vermelha (Ramphocelus carbo)
34)Coleirinha (Sporophila caerulescens)
35)Canário-da-terra (Sicalis flaveola)
36)Tico-tico (Zonotrichia capensis)
37)Chupim (Molothrus bonariensis)

(Beija-flores são relativamente comuns aqui, mas não tenho olho pra identificá-los, então não constam da lista.)

E você, quantas aves já viu na sua vizinhança?

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Nova espécie de caracol é experimento evolutivo em ilha do Paraná https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/07/nova-especie-de-caramujo-e-experimento-evolutivo-em-ilha-do-parana/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/07/nova-especie-de-caramujo-e-experimento-evolutivo-em-ilha-do-parana/#respond Thu, 07 Jan 2021 20:06:03 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/Caramujo-paranaense-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6497 Os fatos dos últimos dias têm se sucedido com uma velocidade tão indecente para um mês de janeiro que é preciso desacelerar — e, para isso, nada melhor que uma nova espécie de caracol, não é mesmo?

Apresento ao gentil leitor o simpático Drymaeus currais, descoberto por Carlos Eduardo Belz, da UFPR (Universidade Federal do Paraná), junto com outros cientistas, nas ilhas dos Currais, no litoral paranaense. O bicho é terrestre, mas está “preso” num ambiente insular provavelmente por conta de um experimento evolutivo durante a Era do Gelo: naquela época, o nível do mar era muito mais baixo do que hoje, e as ilhas faziam parte do continente.

Quando o mar subiu, o pequeno D. currais acabou ficando isolado e provavelmente desenvolveu suas características únicas ao longo de milhares de anos. E a situação peculiar, claro, também o torna peculiarmente vulnerável a perturbações naturais ou causadas pelo homem.

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Cientistas se mobilizam contra fusão entre Ibama e Instituto Chico Mendes https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/10/21/cientistas-se-mobilizam-contra-fusao-entre-ibama-e-instituto-chico-mendes/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/10/21/cientistas-se-mobilizam-contra-fusao-entre-ibama-e-instituto-chico-mendes/#respond Wed, 21 Oct 2020 15:16:45 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/676px-Chrysocyon.brachyurus-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6434 A movimentação do governo federal para fundir o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade) está sendo compreensivelmente mal recebido por pesquisadores da área de zoologia no país. Recebi e republico abaixo a carta enviada ao Ministério do Meio Ambiente pelo Fórum de Sociedades Científicas da Área de Zoologia expondo os motivos de sua contrariedade em relação a essa possível medida. Recomendo a leitura. Infelizmente, parece-me altamente improvável que o ministro Ricardo Salles dê qualquer atenção a argumentos como os expostos.

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Fórum de Sociedades Científicas da Área de Zoologia
Curitiba, 13 de Outubro de 2020.
Ilmo Sr. Luís Gustavo Biagioni
Secretário-Executivo do Ministério do Meio Ambiente
Ministério do Meio Ambiente
Brasília, D.F.; E-mail: se@mma.gov.br

Prezado Secretário,

A portaria número 524, de 01 de outubro de 2020 do Ministério do Meio Ambiente, que estabelece a criação de um grupo de trabalho (GT), tem por objetivo estudar a fusão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) e Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), com o propósito de analisar as “potenciais sinergias e ganhos de eficiência administrativa”. Na avaliação das sociedades científicas que assinam essa carta, tal fusão poderá enfraquecer consideravelmente as políticas ambientais que foram conquistadas nos últimos anos de forma independente por estes dois institutos.

A atuação do ICMBio na gestão e manutenção das 344 unidades de conservação no País tem possibilitado importantes avanços relacionados ao papel destas como reservas da biodiversidade brasileira e também avanços relacionados ao seu papel sócio-educativo. Desde sua implementação em 2007, houve um aumento significativo da integração e colaboração entre técnicos e pesquisadores do ICMBio e acadêmicos e pesquisadores de instituições científicas para fomentar e executar programas de pesquisa, proteção e conservação da biodiversidade, assim como divulgação e sensibilização sobre a educação ambiental. Uma das mais importantes consequências dessa atuação conjunta tem sido a relevante tarefa de sensibilizar nossa população da importância da biodiversidade e das belezas naturais de nosso país, assim como do uso desses recursos, por meio do ecoturismo e exploração econômica sustentável de ativos biológicos.

O ICMBio e seus centros especializados são responsáveis pela articulação, organização e realização de oficinas de planejamento para a conservação de espécies ameaçadas de extinção, que têm sido norteadoras para importantes políticas de conservação in-situ e ex-situ. Dentre estas, destaca-se a elaboração da “Lista Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção”, que é realizada de forma colaborativa com especialistas de diversos setores, e serve de subsídio para a elaboração da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN (União Internacional para Conservação da Natureza). O ICMBio também realiza outras importantes ações, como a elaboração e o monitoramento dos Planos de Ação Nacionais (PAN’s) para as espécies ameaçadas. Os PAN’s têm sido importantes ferramentas para o estabelecimento de políticas públicas para a conservação da flora e fauna, envolvendo diversos atores de forma sinérgica, como gestores, acadêmicos, empresários, membros da sociedade civil, em um esforço para diminuir e quando possível eliminar as ameaças às quais estas espécies estão expostas.

O IBAMA, uma instituição que há mais de 30 anos presta relevantes serviços em defesa da biodiversidade e das riquezas naturais do Brasil, por sua vez, é imprescindível na fiscalização visando a proteção ambiental, da fauna e da flora em todo o território nacional, incluindo ambientes terrestres e aquáticos. A proteção desses ativos nacionais é, a cada dia mais, solicitada pela sociedade brasileira principalmente no combate ao desmatamento e aos incêndios florestais. Além disso, as ações do IBAMA são amplas e se relacionam com diversos setores da sociedade, protegendo a saúde da população brasileira e a qualidade do meio ambiente, como no caso das análises de risco e controle/monitoramento ambiental de substâncias tóxicas, como os agrotóxicos, no licenciamento de grandes obras e ações para manutenção de qualidade ambiental, na elaboração de normas, informações e padrões de qualidade ambiental; além da realização e execução das campanhas educacionais voltadas à conservação do meio ambiente.

As sociedades científicas ligadas à área de zoologia, organizadas neste Fórum, e signatárias deste documento, acreditam que uma possível fusão destes institutos que hoje têm atribuições completamente distintas, traria grandes perdas às políticas de conservação da biodiversidade, enfraquecendo cada qual e tornando o cumprimento de suas atribuições menos eficiente. Essa fusão seria um retrocesso ambiental e Fórum de Sociedades Científicas da Área de Zoologia político, que pode comprometer a conservação da nossa biodiversidade já submetida a tantas pressões e cada vez mais aceleradas nas últimas décadas. Destacamos que este GT deveria considerar não apenas analisar “potenciais sinergias e ganhos de eficiência administrativa”, mas também os retrocessos, incluindo a perda de autonomia e efetividade na gestão ambiental por parte do poder público.

Sendo o que se apresenta para o momento, colocamo-nos à disposição para qualquer esclarecimento que se faça necessário.

Atenciosamente,
Profa Dra Luciane Marinoni
pelo Fórum de Sociedades Científicas da área de Zoologia e Sociedade Brasileira de Zoologia
Associação Brasileira de Oceanografia AOCEANO
Sociedade Brasileira de Carcinologia – SBC
Sociedade Brasileira de Entomologia – SBE
Sociedade Brasileira de Etologia – SBEt
Fórum de Sociedades Científicas da Área de Zoologia
Sociedade Brasileira de Ictiologia – SBI
Sociedade Brasileira de Malacologia – SBMa
Sociedade Brasileira de Mastozoologia – SBMz
Sociedade Brasileira de Ornitologia – SBO
Sociedade Brasileira de Primatologia – SBPR
Sociedade Brasileira Herpetologia – SBHerpeto
Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios – SBEEL
Sociedade rasileira para o Estudo de Quirópteros – SBEQ
Sociedade Entomológica do Brasil – SEB

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Mais proteção garante diversidade de mamíferos no cerrado https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/09/11/mais-protecao-garante-diversidade-de-mamiferos-no-cerrado/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/09/11/mais-protecao-garante-diversidade-de-mamiferos-no-cerrado/#respond Fri, 11 Sep 2020 18:27:55 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/676px-Chrysocyon.brachyurus-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6406 Hoje, 11 de setembro, é Dia do Cerrado. O lugar frequentemente é visto como uma espécie de patinho feio dos biomas brasileiros, o que é uma tremenda injustiça — estamos falando de um dos ambientes ao mesmo tempo mais ricos em biodiversidade E mais ameaçados do Brasil e do mundo. Apenas 3% da área do cerrado corresponde a áreas com regras mais estritas de preservação ambiental. E, conforme mostra um novo estudo, a presença de tais áreas faz muita diferença para a variedade de espécies nesses locais.

Os dados estão neste artigo da revista Biological Conservation, que me foi gentilmente enviado por seu primeiro autor, Guilherme Braga Ferreira, do University College de Londres. Ferreira e seus colegas examinaram a diversidade de mamíferos em 517 locais espalhados pelo chamado mosaico Sertão Veredas-Peruaçu. Trata-se de um conjunto de áreas protegidas na margem esquerda do rio São Francisco, abrangendo partes do norte/noroeste de Minas e do sudoeste da Bahia.

Das 21 espécies estudadas, nove eram mais presentes nas áreas com proteção estrita e apenas uma era mais comum nas áreas com regras de proteção menos severas (dez delas não tiveram sua presença afetada por essa variável, aparentemente). A riqueza de espécies (ou seja, o número total de espécies diferentes) era quase o dobro nas áreas sob proteção rígida, e o efeito é ainda maior para os mamíferos de porte médio e grande (mais de 15 kg).

Isso significa, como bem me lembrou o autor do estudo pelo Twitter, maior chance de proteger espécies carismáticas, ameaçadas e importantíssimas para a dinâmica ecológica de seus ambientes, como tatus-canastras, lobos-guarás e antas.

Taí algo que vale muito mais do que uma nota de 200 reais. Que São Guimarães Rosa proteja o cerrado (já que dos atuais governos se pode esperar quase nada).

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Proteção ambiental seria prevenção barata contra novas pandemias, diz grupo https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/07/23/protecao-ambiental-seria-prevencao-barata-contra-novas-pandemias-diz-grupo/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/07/23/protecao-ambiental-seria-prevencao-barata-contra-novas-pandemias-diz-grupo/#respond Thu, 23 Jul 2020 19:14:29 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/Pteronotus_parnellii-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6338 Investimentos em redução do desmatamento, controle do tráfico de animais silvestres e monitoramento de possíveis doenças emergentes seriam uma maneira relativamente barata de evitar estragos causados por futuras pandemias, afirma um grupo de cientistas — principalmente se essas medidas forem comparadas com o custo de não fazer nada.

Em artigo na revista especializada Science, eles calculam que um programa de prevenção global desse tipo custaria, ao longo de dez anos, apenas 2% do prejuízo que a economia do planeta deve sofrer em 2020 com a crise da Covid-19 (pelo menos US$ 5 trilhões). Mesmo que uma pandemia com efeitos severos acontecesse apenas uma vez a cada cem ou 200 anos, o investimento ainda valeria a pena se ajudasse a reduzir o risco de um evento como esse pela metade.

Assinado por uma equipe internacional de pesquisadores em países como os EUA, o Quênia e a China, o trabalho contou ainda com a participação de Mariana Vale, do Departamento de Ecologia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O ponto de partida dos pesquisadores é simples: ao menos 60% das doenças emergentes modernas surgiram como moléstias infecciosas oriundas de animais, e a maioria delas veio de espécies silvestres. Em muitos casos, além disso, o surgimento de uma nova doença infecciosa depende de um tripé epidemiológico: 1)a espécie selvagem que funciona como reservatório de um novo vírus, 2)animais domésticos que entram em contato com essa espécie e passam a transmitir o patógeno e, por fim, 3)os seres humanos.

“A taxa de contato das pessoas com animais silvestres, o tamanho da população humana e de animais de criação e o tamanho da população de espécies que são possíveis reservatórios de novas doenças são três fatores importantes para o surgimento de novas pandemias”, diz a pesquisadora da UFRJ.

Entre essas espécies que funcionam como reservatórios, destacam-se os primatas e os morcegos, dois grupos muito abundantes e diversificados na Amazônia. Levando em conta o desmatamento crescente na região, bem como a presença de duas metrópoles (Belém e Manaus) com milhões de habitantes na região amazônica, ela considera que não se pode minimizar a chance de aparecimento de uma nova doença viral na área. “Não é um risco altíssimo, mas é alto, até porque são cidades conectadas com o resto do mundo, com voos internacionais para os EUA, por exemplo.”

A situação da Amazônia espelha a de outras regiões com florestas tropicais e alta biodiversidade mundo afora, como  boa parte da África e o Sudeste Asiático. Além do desmatamento puro e simples, essas regiões também estão sob pressão da fragmentação florestal, ou seja, a subdivisão da mata original em pedaços isolados, cercados de áreas de cultivo ou mesmo bairros urbanos por todos os lados. A fragmentação, por si só, aumenta as oportunidades de contato entre as espécies silvestres e as áreas dominadas por humanos, favorecendo, portanto, o risco de saltos de patógenos de uma espécie para outra.

Para os autores do artigo, a receita do que fazer é relativamente clara. Um dos primeiros passos, e talvez o mais hercúleo deles, é mapear em detalhes a diversidade de vírus e outros patógenos de reservatórios selvagens que poderiam infectar as populações humanas. Nesse ponto, o desconhecimento ainda impera. “Não consegui encontrar nenhum levantamento sobre os coronavírus em morcegos amazônicos, por exemplo. A lacuna é enorme, e no Brasil esse tipo de estudo é ainda mais incipiente do que no resto do mundo”, diz Vale.

Outra medida essencial é fortalecer os órgãos que controlam o tráfico de animais silvestres, que pode potencializar o contato entre pessoas e novos patógenos. Finalmente, ainda falta muito para uma vigilância eficaz de episódios em que um novo vírus fez o salto do hospedeiro animal para o ser humano — um estudo com financiamento de apenas US$ 200 mil em Bangladesh triplicou o número de detecções desses eventos no caso do vírus Nipah. Ele é causador de problemas respiratórios em porcos e encefalite (inflamação do cérebro) em humanos e seu reservatório são os morcegos.

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Movimento Cientistas Engajados sai em defesa do Inpe e da Amazônia https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/07/20/movimento-cientistas-engajados-sai-em-defesa-do-inpe-e-da-amazonia/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/07/20/movimento-cientistas-engajados-sai-em-defesa-do-inpe-e-da-amazonia/#respond Mon, 20 Jul 2020 21:18:20 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2019/04/marcos-pontes-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6315 O movimento Cientistas Engajados, formado por pesquisadores que buscam dar mais representatividade política à ciência no Brasil, divulgou um manifesto em defesa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em meio ao complicado contexto de reestruturação e desprestígio do órgão, encurralado pela política antiambiental do governo Bolsonaro. É com prazer que reproduzo o texto aqui no blog. Confira abaixo.

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Em julho de 2019, após reagir tecnicamente às acusações sem base factual feitas ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais pelo presidente Bolsonaro e seus colaboradores, o diretor Ricardo Galvão foi exonerado do cargo. Restando ainda por cumprir 13 meses de mandato, o Senhor Ministro nomeou como Diretor Interino um militar. Após dois meses de gestão, o diretor, num movimento atípico para um interino, convocou a comunidade interna do Inpe para informar que pretendia promover uma reestruturação do instituto. Segundo ele, essa reestruturação se daria a partir de supostos “profundos estudos” sobre a atuação, objetivos e fins dos diversos segmentos da instituição.

Como não apresentou nenhuma documentação que comprovasse o uso de um método reconhecido nos estudos realizados, nem tampouco apresentou evidências da suposta insuficiência de desempenho que justificassem a necessidade de uma reestruturação, o Diretor Interino foi, nas semanas seguintes, amplamente criticado pela atitude amadora e autoritária com que pretendia conduzir as mudanças por ele anunciadas.

Nesse meio tempo, a permanência do Diretor Interino no cargo foi se estendendo, não obstante a necessidade de busca pela normalidade na gestão do INPE, com estabelecimento rápido de um processo seletivo de Diretor mediante comitê de busca. Foram meses de espera para que o Ministro designasse o comitê de busca para escolha do novo diretor, mantendo no cargo um militar que não havia passado pelo escrutínio da comunidade científica, sem o qual não tinha credibilidade perante os colegas.

Somente no início de 2020, e após muitas críticas dos servidores do INPE e da comunidade científica nacional e internacional, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, entendeu por designar um Comitê de Busca para selecionar a lista tríplice que é usada como base para a seleção do Diretor. Para quem não conhece essa forma de escolha, é dessa lista que deve sair o futuro diretor do INPE, após um minucioso processo de seleção, com debates, questionamentos e exposições públicas. Os candidatos são selecionados para a lista tríplice, que depois é submetida ao Ministro, conforme os critérios e requisitos explicitados no Edital No 75/2020, publicado no DOU, 14 de abril de 2020, cujo prazo foi encerrado em 05/07/2020.

Ao transcorrer do tempo foi ficando clara a incapacidade do Diretor Interino de agregar e liderar qualquer processo de reestruturação interna, uma vez que está enfraquecido pela forma imprópria, do ponto de vista acadêmico, pela qual foi levado ao cargo.

Essa incapacidade foi ficando cada vez mais evidente, dado que, a partir de uma avalanche de críticas técnicas à forma de condução do processo, o diretor interino se recolheu e não mais voltou a apresentar proposta alguma de reestruturação.

Ao se dizer isso, constata-se um fato que não está vinculado a qualquer ilação sobre ausência de qualidades profissionais do Diretor Interino, o qual tem reputação ilibada e contribuições para o setor. No entanto, ao aceitar o papel que lhe foi prescrito pelo Ministro, na forma que lhe foi imposta, é natural que essa falta de legitimidade dificulte um trabalho eficaz à frente do INPE, gerando crises contínuas que atrapalham o bom andamento dos trabalhos. Qualquer reestruturação séria precisaria ocorrer de forma colegiada, cabendo ao Diretor apenas o papel de organizar e avaliar os debates, principalmente no caso de um Diretor com tão pouco tempo de casa e com pouca experiência de gestão de unidades de pesquisa do porte do INPE.

Não obstante a situação insustentável de uma gestão não legitimada pelos pares, recentemente, pesquisadores do INPE voltaram a descrever rumores de que novamente se gestava, desta vez em segredo, a tal propalada reestruturação, uma situação de falta de transparência impensável no ambiente acadêmico. Mais do que rumores, havia evidências de que o diretor interino não mais se reunia com os alguns dos responsáveis por postos estratégicos, preferindo tratar de assuntos relativos àquelas áreas com pessoas outras, não investidas legalmente em cargos públicos. Sobre isso, cabe invocar o princípio da publicidade, entre outros: a sociedade só consegue fiscalizar o governo se o responsável pela atividade estiver devidamente investido no cargo público, com nomeação formal e amplamente divulgada. Os princípios do Art. 37 da Constituição Federal e as demais previsões legais indicam que o gestor, com competência para tal, deve dar publicidade à escolha do servidor público que realizará uma determinada atividade.

Ignorando também a instância maior de assessoramento do INPE, o Conselho Técnico-Científico, prosseguiu o Diretor Interino com seu processo seletivo fora dos regulamentos e da publicidade, razão pela qual pode ser, inclusive, referido como autoritário, causando preocupação entre os pesquisadores da instituição principalmente no que se refere ao atendimento das previsões regimentais, outro instrumento de publicidade que explicita a forma como o órgão público se organiza.

Nesse ponto, cabe enfatizar que é OBRIGAÇÃO do servidor público representar contra uma possível ilegalidade, para que uma investigação possa transcorrer. Por essa razão, os membros da comunidade interna não se furtaram a divulgar documento público subscrito por todos os membros eleitos do CTC, do qual pode ser extraído o seguinte recorte: “Somente o Diretor Interino e poucos  servidores que fazem parte da atual estrutura de gestão participaram da elaboração do novo Regimento Interno e das diretrizes do novo Plano Diretor, tendo, assim, conhecimento de seu conteúdo. Entendemos que, do ponto de vista organizacional e de sua interface com o MCTI, tanto o Regimento Interno quanto o Plano Diretor contêm informações relevantes para que cada candidato a diretor possa exprimir com clareza ‘sua visão de futuro e seu projeto de gestão’. Assim sendo, tanto o discurso de candidatos a diretor quanto a análise do referido discurso por parte do Comitê devem estar respaldados em informações disponíveis nos documentos acima. Entretanto, a ausência de informações sobre as novas versões destes documentos limita e/ou distorce a análise da ‘visão de futuro e projeto de gestão’”.

O texto do CTC traz evidência da existência de um processo de reestruturação em andamento, bem como de alterações estatutárias que, em condições de normalidade, se dariam dentro dos bem conhecidos ritos das decisões colegiadas que regem as unidades federais civis e, em particular, as de pesquisa, a saber: notas técnicas, apresentação de projetos, discussão pública, submissão às competentes instâncias internas e externas para avaliação, parecer jurídico e, finalmente, aprovação pelo Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações. Porém, agindo em desacordo com o processo regular, em apenas 11 meses após sua nomeação como Diretor Interino do INPE, está prestes a concluir a primeira fase de um projeto de transformação institucional, sem que o devido controle interno, representado no caso pelas decisões colegiadas, pudesse se manifestar. Muito menos houve oportunidade de submeter à comunidade científica interna e externa os novos desígnios, que saíram de um grupo muito pequeno e sem representatividade.

Sem opção de manter escondida por mais tempo a intempestiva reestruturação, principalmente a partir da exposição pública da exoneração súbita da Dra. Lúbia Vinhas, tal propósito foi finalmente publicado no site do INPE no dia 13/07/2020 e ratificado pelo ministro Pontes na coletiva de imprensa que concedeu em 14/07/2020, para surpresa dos técnicos do INPE, que são, em última análise, os especialistas que detém, verdadeiramente, o conhecimento de décadas sobre o funcionamento institucional.

Em agosto, o INPE completará 59 anos. Desde a sua criação tem se mantido e comportado como uma instituição civil do Estado brasileiro e não a serviço de governos. Passou pelos turbulentos anos pré-golpe civil-militar de 1964, produziu com independência e autonomia científica durante todo o período da ditadura e chegou aos anos da redemocratização íntegro na sua missão científica. Nesse período, o INPE construiu espaços de transparência e maior participação de sua comunidade em órgãos colegiados e nas escolhas de seus dirigentes e gestores, uma forma moderna de gestão que garante o controle interno e qualidade de suas decisões.

Porém, nos últimos dois meses vive o INPE uma situação peculiar e única na sua história: convive com uma estrutura administrativa oficial, a que está no regimento atual e válido, e uma estrutura paralela, que opera, governa e decide sobre o INPE, mas que não existe na regulação administrativa e, portanto, não pode ser fiscalizada. Isso, por si só, já configura um problema a ser analisado no campo da probidade administrativa, pois coloca em risco a capacidade da sociedade de auditar o INPE. É importante ressaltar que essa estrutura paralela de gestão incluiu a verticalização e unificação de comando aos moldes das estruturas militares, claramente na contramão das tendências atuais de atuação matricial e em redes colaborativas, com liberdade acadêmica e autonomia científica.

A falta de transparência com que o assunto vem sendo conduzido tem outros desdobramentos além dos administrativos-legais, sobressaindo-se os éticos. Ao centralizar as informações institucionais em um pequeno grupo, sem transparência, o Diretor Interino passa a ter informações privilegiadas sobre a instituição, prejudicando a competitividade de outras candidaturas a Diretor. Essa situação é claramente antiética e um recurso de quem não estaria preparado para os processos de escolha típicos da academia, o que não se deseja acreditar que seja o caso do atual diretor. A sociedade em geral, e os os demais candidatos em particular, não tiveram acesso às propostas urdidas em silêncio e, aparentemente sob a anuência do MCTI. É impossível um concurso com igualdade de condições quando há falta de transparência sobre a nova estrutura de trabalho, que só foi apresentada após o final do prazo de inscrição de candidatos, quando seus documentos já estavam com o Comitê. Evidente que os candidatos sem o mesmo trânsito nos meios militares como o do Diretor Interino apresentaram Planos de Trabalho com base no Regimento Interno vigente, já que este é o Regimento Interno oficial e legalmente válido. É possível também que os membros do Comitê de Busca ignorem estes arranjos infralegais promovidos pelo diretor interino, promovendo uma indevida interferência no processo seletivo, que perde, por isso, a isonomia imprescindível aos princípios da Administração Pública previstos no Art. 37 da C.F.

Para uma instituição do porte e tradição do INPE, não há dúvidas de que a forma como o processo de reestruturação está sendo conduzido traz grande risco para o seu futuro. Também não faz sentido uma injustificada  reestruturação num órgão que tem cumprido seus termos de compromisso de gestão.

Toda essa movimentação extemporânea, intempestiva, açodada e amadora corrobora com a percepção de que pode estar em curso uma tentativa de impedir que o INPE continue desempenhando seu papel de vigilância sobre o desmatamento da Amazônia, razão pela qual, nós, do Movimento Cientistas Engajados, solicitamos:

a) que o MCTI adote medidas de investigação sobre as condutas praticadas, principalmente no que tange ao estabelecimento de uma estrutura paralela. Esta investigação deve ter como meta tornar públicos todos os documentos referentes à estruturação em curso;

b) que o MCTI interrompa imediatamente o processo de reestruturação até que a investigação mencionada seja finalizada;

c) que o Comitê de Busca, durante o processo de escolha do novo Diretor, utilize como parâmetro para a seleção exclusivamente o regimento interno público e válido;

d) que o MPF abra investigação para avaliar condutas da Direção da instituição, visando garantir que as boas práticas de gestão colegiada, previstas no âmbito das Unidades Gestoras do Governo Federal, sejam observadas, interrompendo qualquer atuação da Direção fora do contexto do Regimento Interno válido;

e) que o Ministério exclua do Comitê de Busca membros cuja titulação
acadêmica esteja abaixo das requeridas dos candidatos no Edital.
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Milhares de cientistas assinam carta contra política ambiental de Bolsonaro https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/milhares-de-cientistas-assinam-carta-contra-politica-ambiental-de-bolsonaro/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/02/06/milhares-de-cientistas-assinam-carta-contra-politica-ambiental-de-bolsonaro/#respond Thu, 06 Feb 2020 15:00:51 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2019/02/Auraucaria_angsmall3-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6091 Recebo da ecóloga Carolina Levis, pesquisadora de pós-doutorado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), o link para acessar um importante artigo assinado por ela e por seu colega Bernardo Flores, da Unicamp, na revista científica Nature Ecology & Evolution. Trata-se de um manifesto contra o desmonte da política ambiental brasileira promovida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. A dupla e seus colegas conseguiram que o manifesto fosse endossado por uma impressionante lista de 1.230 cientistas brasileiros das mais variadas instituições dentro e fora do Brasil.

A boa notícia é que se trata de um dos textos mais sensatos, claros e baseados em dados já publicados sobre a questão. Didaticamente, Levis, Flores e companhia explicam a importância dos serviços prestados pelos ecossistemas naturais do Brasil:

– Regulação do clima e do ciclo da água;

– Sequestro de carbono (cada vez mais importante num mundo que sofre com as mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis);

– Alimentos, matérias-primas, diversidade genética para a agricultura e inspiração para a indústria e a biotecnologia;

– Valores imateriais culturais e espirituais.

Enquanto a política bolsonarista enxerga esses ecossistemas apenas como espaço para ampliar áreas de cultivo, a equipe advoga, corretamente:

– O uso inteligente de áreas já degradadas para evitar novos desmates;

– O investimento numa cadeia de produtos biotecnológicos criados a partir da pesquisa com a biodiversidade brasileira;

– A valorização do conhecimento das populações tradicionais (indígenas, ribeirinhos, quilombolas etc.) para o uso sustentável desses recursos.

Infelizmente, é quase certo que toda essa sensatez encontre apenas ouvidos moucos no Planalto. Ignorar as complexidades apontadas pelos cientistas é o projeto do governo Bolsonaro. Mas o trabalho tem a grande virtude de mostrar a gravidade do cenário atual para a comunidade acadêmica do mundo todo. E pressões externas talvez sejam mais eficazes que as internas, no longo prazo.

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A incrível larva azul-fluorescente descoberta no Brasil https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2019/09/12/a-incrivel-larva-azul-fluorescente-descoberta-no-brasil/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2019/09/12/a-incrivel-larva-azul-fluorescente-descoberta-no-brasil/#respond Thu, 12 Sep 2019 17:24:43 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/larva-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5878 Se você ainda tinha alguma dúvida de que a biodiversidade brasileira é um troço incrível e surpreendentemente pouco conhecido, é com alegria que apresento o bicho do título: Neoceroplatus betaryensis, a incrível larva de mosquito que emite luz azul-fluorescente. Sim, é sério, e a foto acima definitivamente não me deixa mentir.

A descrição oficial do bicho pode ser lida gratuitamente (em inglês) neste artigo na revista especializada Scientific Reports. A espécie vem de um trecho de mata atlântica da Reserva Betary, em Iporanga (SP), sob os cuidados do IPBio (Instituto de Pesquisas da Biodiversidade). Participaram da descoberta cientistas de diversas instituições do país, entre eles Rafaela Falaschi, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PR).

É a primeira vez que um bicho terrestre que emite esse tipo de luminescência é identificado na América Latina como um todo. As luzinhas emanam do último segmento do abdômen (recorde que insetos, como se tivessem montados com pecinhas de Lego, têm o corpo dividido em segmentos) e de dois pontos nas laterais do primeiro segmento do tórax.

Outros animais emitem esse tipo de luz para atrair presas ou para tentar afastar predadores — não está claro se esse é o caso das larvinhas brasileiras, que talvez apenas se alimentem de fungos. Seja como for, sempre é muito útil, além de fascinante, estudar animais “com luz própria” — as substâncias responsáveis pela luminosidade costumam ser muito úteis para a biotecnologia de ponta, ajudando a avaliar a eficácia de remédios e outros processos.

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