Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Um guia para entender o clássico “Armas, Germes e Aço” https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/03/07/um-guia-para-entender-o-classico-armas-germes-e-aco/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/03/07/um-guia-para-entender-o-classico-armas-germes-e-aco/#respond Wed, 07 Mar 2018 13:57:29 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/gunsgerms-320x213.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4857 Nunca leu o clássico “Armas, Germes e Aço”, do biogeógrafo Jared Diamond? Não sabe o que está perdendo, gentil leitor(a)! Neste vídeo, explico as cinco grandes ideias dessa obra seminal que examina a história humana com a ajuda da biologia evolutiva. Confira!

Aproveito também para compartilhar de novo um vídeo do nosso canal no YouTube sobre o papel crucial das doenças trazidas por animais domésticos na história humana.

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Bichos domésticos foram ‘arma secreta’ de europeus contra índios https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/10/18/bichos-domesticos-foram-arma-secreta-de-europeus-contra-indios/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/10/18/bichos-domesticos-foram-arma-secreta-de-europeus-contra-indios/#respond Wed, 18 Oct 2017 18:25:20 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2017/10/Boi_caracu_no_pasto-180x136.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4596 Esqueça o Estado monárquico, as espadas e armaduras de aço, os canhões e outras armas turbinadas pela pólvora: o fator crucial para a vitória europeia contra os indígenas do Brasil e de outros lugares das Américas foi a presença de animais domesticados no Velho Mundo, enquanto eles quase não existiam por aqui. Esses bichos foram cruciais não só pelo seu uso direto, mas pelas doenças infecciosas que traziam. Entenda essa história no novo vídeo do canal do blog no YouTube.

Resumindo uma história comprida: a convivência de longo prazo entre os europeus e seus bichos domésticos levou ao surgimento de doenças infecciosas com tremendo potencial destruidor  — como o sarampo, a varíola e a gripe — derivadas desses bichos. Os europeus tiveram tempo de desenvolver resistência natural a essas doenças, as quais, enquanto essa capacidade não evoluiu entre os indígenas. Muitos europeus pegavam essas doenças quando eram pequenos e, se não morriam, ficavam imunes a elas pelo resto da vida.

O resultado, quando houve o contato, é o que costumo chamar de cenário de “Walking Dead”: mortandade em massa de gente de todas as idades — homens, mulheres e crianças –, com o resultado de uma profunda desarticulação das sociedades indígenas, às vezes antes mesmo do contado direto com os invasores.

Esse foi o caso do Império Inca, aliás — antes mesmo da chegada dos soldados espanhóis liderados por Francisco Pizarro, uma epidemia de varíola vinda dos domínios espanhóis do Panamá já estava dizimando os habitantes do império e desencadeando uma guerra civil.

É por isso que uma parte considerável do genocídio indígena foi não intencional — basicamente porque os europeus, nem ninguém daquela época, eram capazes de entender processos básicos de epidemiologia e transmissão de doenças, não sabiam que havia bactérias e vírus no mundo etc. Claro que eles pioraram muito a situação ao reunir muitos indígenas em espaços confinados nas missões religiosas e escravizando esses povos.

E por que os indígenas quase não chegaram a domesticar animais por aqui? Porque quase todos os mamíferos de grande porte e com estrutura social que favorecia a domesticação desapareceram nas Américas com o fim da Era do Gelo.

O vídeo explica tudo isso e muito mais — assim como meu novo livro, “1499: O Brasil Antes de Cabral”.

Mais vídeos sobre o Brasil pré-histórico? Confira abaixo!

Cidades perdidas do Xingu

Marajó, a “Veneza” pré-cabralina

1499 explicado em 1 minuto

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Lêmures da Lemúria https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/07/25/lemures-da-lemuria/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/07/25/lemures-da-lemuria/#respond Tue, 25 Jul 2017 11:21:45 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/Eulemur_mongoz_male_-_face-180x135.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4405 Você já se perguntou de onde veio aquele papo furado sobre o continente perdido da Lemúria, a “prima” da Atlântida? Pois é, veio dos lêmures mesmo.

É, lêmures, tipo o rei Julien, acredite se quiser — e de uma hipótese ultrapassada sobre pontes de terra entre continentes que ajudariam a explicar a distribuição de certas espécies pelo planeta, como esses primatinhas primitivos e bizarros. É o que explico no vídeo de hoje.

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A ciência de Moana https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/01/21/a-ciencia-de-moana/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/01/21/a-ciencia-de-moana/#respond Sat, 21 Jan 2017 13:55:22 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2017/01/THUMBNAIL-Moana-180x74.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4002 Tem ciência em “Moana: Um Mar de Aventuras”? Tem, sim senhor – arqueologia, antropologia, geologia e biologia evolutiva se unem para ajudar a gente a contar uma das maiores aventuras da história da humanidade, a expansão dos polinésios pela vastidão do Pacífico. É o que conto no novo vídeo do nosso canal no YouTube, com direito a cenário praiano e barulho do mar ao fundo 😉 Confiram!

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Um elefante incomoda? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/11/05/um-elefante-incomoda/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/11/05/um-elefante-incomoda/#respond Thu, 05 Nov 2015 16:18:29 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3030 Com a crise político-econômica constrangedora dos últimos meses dilacerando o país, sou capaz de apostar que muita gente regozijar-se-ia caso uma manada de elefantes de repente invadisse Brasília, adentrasse os principais estabelecimentos do Executivo e do Legislativo federais e pisoteasse tudo pelo caminho. Acontece que, para alguns biólogos e ecólogos, há boas razões evolutivas para propor algo vagamente parecido com esse cenário doido. Trazer elefantes para o cerrado do Planalto Central não seria mais do que corrigir uma injustiça histórica.

Futuros vizinhos de Eduardo Cunha? (Crédito: Creative Commons)
Futuros vizinhos de Eduardo Cunha? (Crédito: Creative Commons)

É o que leio em reportagem do veterano jornalista de ciência Peter Moon, recentemente publicada no site da Agência Fapesp. O texto assinado por Moon detalha algumas das conclusões de um artigo na revista científica americana “PNAS”, assinado por uma equipe internacional de pesquisadores que inclui o brasileiro Mauro Galetti, da Unesp de Rio Claro (outro município da Grande São Carlos, como costumo dizer). Anote aí o termo-chave da ideia: “rewilding” – algo como “resselvagenização”, se for o caso de a gente criar uma tradução tosca, porém precisa, em português. Um termo alternativo: refaunação trófica.

O conceito é simples, na verdade. Ocorre que, desde o fim da última Era do Gelo, há pouco mais de 10 mil anos, o planeta perdeu boa parte de suas espécies de mamíferos de grande porte – em muitos casos, com uma contribuição significativa da ação humana. Os últimos mamutes sumiram da Sibéria quando os faraós estavam construindo as grandes pirâmides; a Europa já foi cheia de bois e cavalos selvagens, caçados até o extermínio; na época bíblica havia leões em Israel e elefantes na Síria (!!!); e por aí vai.

A situação do Brasil não é tão diferente assim. Basta dizer que, antes da chegada do ser humano ao nosso país, há talvez uns 15 mil anos, havia mastodontes (primos distantes extintos dos elefantes) em quase todas as áreas abertas do futuro território brasileiro, do Nordeste aos pampas. Havia ainda lhamas (!), cavalos selvagens, ursos (!!!), preguiças e tatus gigantes, dentes-de-sabre – a lista é enorme. Foram todos para o saco, talvez por uma combinação de efeitos da mudança climática que pôs um ponto final na Era do Gelo e da presença de primatas caçadores espertos e bem armados.

Essa bicharada toda se foi, mas seu impacto evolutivo ainda pode ser sentido. Galetti e seus colegas da Unesp têm estudado diversas plantas de quase todos os ambientes brasileiros cujos frutos são tão grandes, possuem casca tão dura e sementes tão avantajadas que, para eles, provavelmente evoluíram para ser dispersadas – ou seja, “plantadas” Brasil afora – por bichos muito maiores do que os atuais. Um mastodonte ou preguiça-gigante não teria grandes dificuldades em comer esses frutos e, bem, lançá-los ao léu na hora de fazer o número 2 no banheiro, já com uma cobertura de fertilizante.

E este seria um legítimo "elefante" extinto brasileiro, o "Stegomastodon" (Crédito: Reprodução)
E este seria um legítimo “elefante” extinto brasileiro, o “Stegomastodon” (Crédito: Reprodução)

ODEBRECHT AMBIENTAL

Bichos grandalhões também são considerados engenheiros de ecossistemas, abrindo espaço na mata com seu corpanzil, reciclando nutrientes e fazendo uma série de outros serviços. Tudo indica que ambientes nos quais eles não estão presentes tendem a ficar mais pobres.

Não dá para trazer esses bichos de volta à vida (bem, depende. Veja esta reportagem recente do escriba que vos fala.) Os adeptos do “rewilding” propõem usar análogos dos monstros extintos – elefantes no lugar dos mastodontes, digamos – para testar a ideia de que eles de fato criam ambientes mais diversificados e robustos com sua presença.

O que nos traz de volta aos nossos paquidermes hipotéticos pisoteando a praça dos Três Poderes e destruindo obras-primas de Niemeyer.

É importante ressaltar que nenhum dos especialistas está propondo simplesmente soltar uma bicharada gigante ao léu na natureza. A ideia inicial é fazer experimentos ecológicos controlados, em fazendas, por exemplo, para ver como a presença de elefantes (ou zebras, digamos) modifica o ambiente. Só depois, lentamente e dependendo dos resultados iniciais, o “rewilding” prosseguiria.

Será mesmo uma tremenda ideia de jerico, como talvez pareça? Depende. Por um lado, é verdade que se passaram 10 mil anos desde que megamamíferos de porte africano andaram por aqui. Os ambientes do Brasil tiveram um tempo considerável para alcançar um novo estado de equilíbrio, ainda que precário, sem a presença dessa megafauna.

Por outro lado, com monitoramento e controle, não vejo por que não tentar – na pior das hipóteses, o processo traria uma “aposentadoria” com muito mais qualidade de vida para elefantes de circo ou de zoológico, por exemplo. Se for possível demonstrar que não haverá danos ambientais ligados à presença dos grandalhões, quem sabe futuros leitores de “Grande Sertão: Veredas” não terão de se perguntar por que Guimarães Rosa não retratou algumas trombas majestosas entre os buritis?

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Confira meus outros livros de divulgação científica: “Além de Darwin” (ebook por apenas R$ 2!) e “Os 11 Maiores Mistérios do Universo” (em ebook aqui e aqui ou em papel aqui)

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Game of Darwin https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/09/16/game-of-darwin/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/09/16/game-of-darwin/#respond Wed, 16 Sep 2015 21:09:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2876 Daenerys Targaryen, do sangue da antiga Valíria: isso é que é seleção natural, seu Darwin (Crédito: Divulgação)
Daenerys Targaryen, do sangue da antiga Valíria: isso é que é seleção natural, seu Darwin (Crédito: Divulgação)

Estava eu entretido na leitura de meu exemplar recém-adquirido de “O Mundo de Gelo & Fogo: A História Não Contada de Westeros e As Crônicas de Gelo e Fogo” quando me deparei com uma passagem positivamente darwinista. Vejam só:

“A grande beleza dos valirianos — com o cabelo loiro-prateado ou dourado-pálido e olhos em tons de violeta não encontrados em outras pessoas do mundo — é bem conhecida e, em geral, usada como prova de que este povo não era inteiramente do mesmo sangue dos outros homens. Mesmo assim, há meistres que apontam que, através do cruzamento cuidadoso de animais, é possível obter um resultado desejável, e que populações isoladas com frequência podem mostrar variações bastante notáveis do que poderia ser considerado comum. Essa pode ser uma resposta mais provável ao mistério da origem valiriana.”

Quem já leu “A Origem das Espécies” talvez perceba que essa passagem é praticamente uma paródia do estilo vitoriano do véio Darwin — o começo do clássico fundador da biologia evolutiva é justamente uma ampla discussão de como a seleção artificial de características de animais é capaz de produzir, num intervalo de tempo curto, efeitos similares ao que a evolução produz em períodos bem mais compridos.

Como se não bastasse, aquele finalzinho sobre as populações isoladas bate muito bem com o que os biólogos modernos sabem sobre o chamado efeito fundador, quando parte de uma população maior coloniza uma região isolada e, por carregar apenas uma fração pequena da diversidade genética da população original, acaba tendo características peculiares num grau muito mais comum do que se esperaria.

Até que esses meistres de Westeros não estavam mal pra uma civilização de nível tecnológico medieval. Esse tal de Game of Thrones virou meio que um Game of Darwin, senhoras e senhores.

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Frase do dia https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/frase-do-dia-3/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/02/05/frase-do-dia-3/#respond Thu, 05 Feb 2015 12:21:46 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2329 “As pessoas costumam dizer que as regiões intertropicais são, ao mesmo tempo, museus e fábricas de espécies, graças à sua grande diversidade de ambientes. Os bichos primitivos sempre têm um lugarzinho onde se refugiar, e novas espécies também estão sempre surgindo” (Mario Alberto Cozzuol, paleontólogo da Universidade Federal de Minas Gerais).

Não sei quanto a vocês, mas eu adoro viver em meio a um museu-fábrica da evolução.

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Por amor à vida https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/04/09/por-amor-a-vida/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/04/09/por-amor-a-vida/#respond Wed, 09 Apr 2014 17:29:57 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=1299 Compartilhando o que diz um dos meus heróis, Edward O. Wilson, em seu “O Futuro da Vida”:

“Suponha, só para efeito de discussão, que seremos capazes de criar novas espécies e construir ecossistemas estáveis a partir delas. Com esse potencial distante em mente, deveríamos ir em frente e, em nome do lucro de curto prazo, permitir que as espécies e os ecossistemas originais da Terra desapareçam? Sim? Apagar a história vivente da Terra? Que então queimemos também as bibliotecas e as galerias de arte, façamos carvão com os instrumentos musicais, reciclemos o papel das partituras, apaguemos Shakespeare, Beethoven e Goethe, e os Beatles também, porque tudo isso — ou ao menos substitutos bastante passáveis — também pode ser recriado.

A questão, como todas as grandes decisões, é moral. A ciência e a tecnologia são o que nós somos capazes de fazer. A ética a partir da qual construímos as decisões morais é uma norma ou padrão de comportamento que surgiu em apoio a valores, e valores, por sua vez, dependem de um propósito. E o propósito, seja pessoal ou global, nascido da consciência ou gravado em escritura sagrada, expressa a imagem que temos de nós mesmos e de nossa sociedade.”

O conhecimento científico precioso trazido pela teoria da evolução aponta — aliás, aponta não, grita no nosso ouvido — para a unidade das formas de vida. O que vamos fazer ou deixar de fazer com ele, no entanto, é uma questão de ética, valores e senso de propósito que a ciência, sozinha, jamais será capaz de resolver.

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Dez coisas que você não sabia sobre Noé https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/04/03/dez-coisas-que-voce-nao-sabia-sobre-noe/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/04/03/dez-coisas-que-voce-nao-sabia-sobre-noe/#respond Thu, 03 Apr 2014 17:01:13 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=1251 Noé versão Russell Crowe: macho até debaixo d´água. (Crédito: Divulgação)
Noé versão Russell Crowe: macho até debaixo d’água. (Crédito: Divulgação)

Depois de um longo hiato, as superproduções bíblicas hollywoodianas voltam às telas com a estreia de “Noé”, dirigido por Darren Aronofsky, com o “gladiador” Russel Crowe no papel-título e até com participação especial de Hermione, digo, de Emma Watson como a esposa de Sem, o filho mais velho do construtor da arca. Na Folha de hoje, fiz uma breve análise da maneira como o filme transformou suas fontes bíblicas para tentar criar uma narrativa com mais plausibilidade psicológica (se conseguiu esse objetivo aí já é outra história…). De qualquer maneira, como a Arca é um dos temas mais populares nas discussões sobre ciência e religião, resolvi ampliar um bocado o debate com uma lista de dez coisas que você, gentil leitor, possivelmente não sabia sobre Noé. Ei-la.

1)Criacionistas usam a narrativa do Dilúvio para explicar a existência de camadas de fósseis no planeta

Segundo os criacionistas que acreditam que a narrativa do livro do Gênesis descreve com absoluta fidelidade histórica o desenvolvimento do nosso planeta, os animais extintos que conhecemos por meio de fósseis, como os dinossauros, são espécies que foram soterradas rapidamente pela lama do Dilúvio, tendo sido preservadas como prova da ação divina.

Valeu a tentativa, pessoal, mas essa explicação não faz sentido nem do ponto de vista científico, nem do ponto de vista bíblico. Para começar, as ordens de Deus a Noé no texto da Bíblia são claras: é para salvar TODAS as espécies de animais, sem essa de esquecer os dinossauros (ou deixá-los de lado porque não cabiam na Arca).

Em segundo lugar, atribuir todas as camadas de fósseis do planeta, ou mesmo várias delas, ao Dilúvio, simplesmente não casa com a maneira com as características geológicas das rochas onde os fósseis são encontrados hoje. Elas variam em composição química, tipo de sedimento (alguns de origem marinha, outros de natureza fluvial, outros ainda alterados pelo vento) – e, claro, idade, em alguns casos de vários bilhões de anos.

2)O conhecimento da época sobre a diversidade de espécies animais era muito mais limitado

Ainda falando sobre essa relação entre os bichos da Arca e a biodiversidade do mundo real, é interessante notar que os criacionistas também costumam dizer que Noé não colocou todas as espécies de animais existentes hoje na Arca. Teria apenas trazido ancestrais deles (talvez no nível de gênero, ou no máximo de família; nesse último caso, um casal de canídeos ancestral de todos os cães, raposas e lobos de hoje, por exemplo) e, mais tarde, eles teriam se diversificado mundo afora.

Essa visão tem razão numa coisa: realmente seria impossível enfiar centenas de milhares de espécies de animais numa única Arca. A questão, porém, é que o termo hebraico usado para designar cada tipo de bicho na narrativa é, infelizmente para os criacionistas, a palavra normalmente usada para espécies separadas, e não para grupos abrangentes de animais (um conceito, aliás, que é muito genérico e difuso em hebraico bíblico). Realmente não rola.

Hermione, você por aqui? (Crédito: Divulgação)
Hermione, você por aqui? (Crédito: Divulgação)

E, é claro, a gente esbarra na questão do tempo. As pessoas falam em diversificação de gêneros e famílias de animais, inclusive de vertebrados, como se fosse coisa que dá para acontecer de uma hora para a outra. Todas as indicações científicas que temos sobre esse fenômeno, no entanto, sugerem fortemente que se trata de algo que demora milhões de anos para acontecer.

3)Noé é um “recém-chegado” à história do Dilúvio

Não só porque inúmeras culturas mundo afora possuem histórias semelhantes a respeito de uma destruição da humanidade pela força das águas, mas principalmente porque logo ali, no Oriente Médio, ao lado dos antigos israelitas que nos legaram a história bíblica do Dilúvio, versões a respeito da tragédia aquática já circulavam por escrito quase 2.000 anos antes de Cristo, na antiga Mesopotâmia (atual Iraque). Por outro lado, ao que tudo indica, a versão bíblica da saga só ganhou a forma que conhecemos hoje por volta do ano 550 a.C. (Não, não foi Moisés que a escreveu, diferentemente da atribuição tradicional de autoria da narrativa, mas isso é conversa para outro post.)

Os paralelos entre as histórias israelita e mesopotâmica (na qual o herói não é Noé, sendo conhecido por nomes como Athrahasis, Ziusudra ou Utnapishti) são muitos, desde a ordem para construir um barco, a ideia de reunir neles casais das várias espécies de animais e até o sacrifício feito a Deus (bem, no caso mesopotâmico, aos deuses) pelo construtor do barco depois que ele termina a jornada são e salvo, assim como a promessa divina de que um novo dilúvio não ocorreria.

4)Nas histórias mais antigas, o motivo para destruir a humanidade era muito pior

Continuando o item anterior, o grande contraste entre a narrativa do Gênesis e a dos antigos mitos da Mesopotâmia é a motivação divina para resolver afogar a humanidade inteira. Na Bíblia, o motivo da condenação é uma palavra hebraica que significa “violência, derramamento de sangue” – a humanidade ficou basicamente dominada por assassinos cruéis, levando Deus à decisão de destruí-la. Já nas versões em acadiano e sumério (antigos idiomas da região), os deuses decidem matar todo mundo por causa do… barulho. A humanidade tinha ficado muito barulhenta e bagunceira e, com isso, os deuses não conseguiam mais dormir. Isso é o que eu chamo de aplicação draconiana da Lei do Silêncio. Da próxima vez que seu vizinho ficar escutando pancadão a todo volume às 23h, informe-o discretamente de que você é devoto de Ishtar e Marduk. Vale também presenteá-lo com uma cópia da Epopeia de Gilgamesh (uma das versões mesopotâmicas do mito). Quem sabe ele abaixa o volume.

"Tudo que se arrasta pela terra" também tem lugar na Arca. (Crédito: Divulgação)
“Tudo que se arrasta pela terra” também tem lugar na Arca. (Crédito: Divulgação)

5)Mas, mesmo na Bíblia, Deus não acabou matando um monte de gente inocente com essa ideia?

Do nosso ponto de vista, sim, é claro. É questão é que a maior parte do Antigo Testamento (não toda essa porção da Bíblia, mas a parte dominante) foi escrita a partir da perspectiva cultural da responsabilidade “socialmente compartilhada” do mal. Isso significa que, para muitos autores bíblicos, sociedades em que o mal tinha rédeas livres para pintar e bordar eram coletivamente responsáveis por ele, já que não coibiam quem estava praticando essas más ações. Da mesma maneira, o que contava não era propriamente o indivíduo isolado, mas sua linhagem familiar. Isso valia dos dois lados: tanto filhos podiam ser punidos pelos pecados dos pais, de acordo com sua mentalidade, como esses mesmos filhos, ainda que indignos, podiam ser recompensados por Deus pelas boas ações praticadas por seus pais.

6)A história que temos no Gênesis é a fusão de duas narrativas antes independentes

É o que afirmam os principais estudiosos do texto bíblico, que usam a linguagem e a estrutura literária dos parágrafos para postular duas fontes nessa parte da Bíblia: a chamada fonte J (ou javista) e a fonte P (ou sacerdotal). Entre outras diferenças, a fonte J designa o Criador de “Senhor Deus” (“Yahweh Elohim”, em hebraico), enquanto P usa apenas o termo “Elohim”, ou simplesmente “Deus”.

7)Aliás, isso parece estar por trás de uma aparente confusão matemática no texto

Sim, porque primeiro Deus (Elohim) ordena que Noé um casal de cada espécie de animal, enquanto o Senhor Deus (Yahweh Elohim) diz que o construtor da Arca precisa arrebanhar sete casais de cada um dos animais puros e um casal dos animais impuros (uma distinção ritual que, aliás, só aparece séculos mais tarde na narrativa bíblica, quando Deus transmite sua Lei a Moisés).

Isso explica porque, afinal de contas, Noé pôde sacrificar animais ao Senhor Deus no final de sua jornada. Do contrário, ele teria levado à extinção de uma das espécies que tentara salvar!

ATENÇÃO, SPOILERS DO FILME!

8)Matusalém realmente morreu na época do Dilúvio

Bem, ninguém diga que eu não avisei. A questão é que o avô de Noé, Matusalém, proverbialmente conhecido como o ser humano mais idoso de todos os tempos, teria morrido, segundo a cronologia bíblica, no ano do Dilúvio, depois de viver 969 longos anos. No filme, essa coincidência é usada para transformar o velhinho em mentor espiritual de Noé e mostrá-lo morrendo voluntariamente quando o Dilúvio desaba.

Tubal-Caim: mau que nem pica-pau. (Crédito: Divulgação)
Tubal-Caim: mau que nem pica-pau. (Crédito: Divulgação)

9)O diretor tentou seguir uma antiga tradição judaica de interpretação bíblica

O diretor do filme declarou que seu objetivo foi seguir a linha da “midrash”, que é uma espécie de interpretação narrativa dos textos da Bíblia feita pelos antigos rabinos. Como os textos bíblicos raramente são ricos em detalhes, fica muito difícil entender a motivação dos personagens ou a vida interior deles. Os “midrashim” (plural de “midrash”) suprem essa necessidade criando esses detalhes que preenchem a narrativa bíblica sem contradizê-la diretamente.

10)Vilão do filme já tinha má fama em antigas tradições

O rei Tubal-Caim, que aparece em “Noé” como arqui-inimigo do protagonista, é descrito simplesmente na Bíblia como o primeiro a descobrir como produzir instrumentos de metal. Tradições judaicas posteriores, no entanto, já associavam isso ao uso de armas de metal na guerra, levando à ideia de transformar o personagem num vilão guerreiro.

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Biologia, teu sobrenome é Queiroz https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/03/17/biologia-teu-sobrenome-e-queiroz/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/03/17/biologia-teu-sobrenome-e-queiroz/#respond Mon, 17 Mar 2014 14:02:19 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=1165 Alan de Queiroz, da Universidade de Neva em Reno (Crédito: Divulgação)
Alan de Queiroz, da Universidade de Neva em Reno (Crédito: Divulgação)

Foi um bocado divertido ler o livro “The Monkey’s Voyage” (“A Viagem do Macaco”), do biólogo americano Alan de Queiroz, e contar um pouco da perspectiva histórica sobre a origem da biodiversidade que o livro traz em reportagem na edição de hoje desta Folha. (Resumo da ópera: travessias oceânicas de plantas, insetos, répteis, aves e até anfíbios e mamíferos são absurdamente comuns na história do planeta e ajudaram a forjar espécies conhecidíssimas e muito importantes ecologicamente, como os nossos macacos sul-americanos, que vieram da África). Mas mais divertido ainda foi quando eu me dei conta do seguinte: hmmm, peraí. Alan DE QUEIROZ? Biólogo americano, interessado em biodiversidade? Onde é que eu já vi isso antes mesmo?

A resposta era óbvia e ficou clara logo nas primeiras páginas do livro. Alan é irmão de Kevin de Queiroz, também biólogo, a respeito de quem eu já escrevi diversas vezes (a primeira foi neste texto para o finado caderno Mais! desta Folha. Putzgrila, faz mais de dez anos…). Se você está se perguntando sobre o sobrenome suspeitamente com cara de português da dupla, veja como o próprio Kevin explicou sua história familiar:

“Sim, o meu sobrenome é português, mas o meu avô era mexicano e se chamava Padilla. Ele mudou de nome várias vezes, volta e meia adotando nomes portugueses. Queiroz é o nome que ele usava quando meu pai nasceu.” E a família ainda tem ascendência parcialmente japonesa. “Acho que meus nomes e meu sangue são bem misturados”, brinca. Não tem quem diga 😛

As coincidências entre os dois irmãos vão além do sangue, dos nomes e do curso de graduação. Ambos acabaram sendo herpetólogos — especialistas em répteis e anfíbios –, por exemplo. E ambos têm um gosto apurado na hora de escolher seus temas de pesquisa, sempre enfocando algumas das grandes questões teóricas da biologia moderna.

Kevin de Queiroz, herpetólogo do Museu Nacional de História Natural dos EUA (Crédito: Divulgação)
Kevin de Queiroz, herpetólogo do Museu Nacional de História Natural dos EUA (Crédito: Divulgação)

Kevin, por exemplo, é uma das mentes por trás do polêmico PhyloCode, um novo sistema de classificação dos seres vivos que propõe deixar de lado categorias clássicas, como família e ordem, por exemplo, e definir suas classificações exclusivamente com base nas relações evolutivas entre as espécies classificadas. Já o novo livro de Alan é uma exploração bastante detalhada, bem escrita e bem humorada, de como os biólogos (bem, originalmente, os naturalistas) pensaram as relações entre espécies que, apesar de separadas por oceanos, pareciam ter parentesco entre si.

Um dos pontos mais interessantes de “The Monkey’s Voyage” é justamente mostrar como a ciência também não está isenta de modas e de vieses, com o progresso da pesquisa às vezes travado (graças a Deus, temporariamente, em geral) por pesquisadores que só conseguem pensar dentro de um paradigma que eles mesmos defendem, sem ouvir opiniões divergentes.

Longa vida, portanto, à carreira da família Queiroz na biologia!

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