Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Caudas de pavão, chifres de alce e outras obras-primas da seleção sexual https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2019/09/09/caudas-de-pavao-chifres-de-alce-e-outras-obras-primas-da-selecao-sexual/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2019/09/09/caudas-de-pavao-chifres-de-alce-e-outras-obras-primas-da-selecao-sexual/#respond Mon, 09 Sep 2019 14:46:13 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/800px-Irish_Elk_Side_white_background-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5898 Continuando nossa série de vídeos sobre conceitos básicos da teoria da evolução, está na hora de falar da faceta mais carnavalesca do processo: as estruturas exageradas, coloridas ou mesmo perigosas que os animais (em geral, mas nem sempre, do sexo masculino) desenvolvem para atrair parceiros. Tá na hora de compreender a célebre seleção sexual! Saiba mais assistindo ao vídeo abaixo e não se esqueça de se inscrever no canal!

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O infravermelho que ajuda a tratar e estudar animais silvestres https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/11/28/o-infravermelho-que-ajuda-a-tratar-e-estudar-animais-silvestres/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/11/28/o-infravermelho-que-ajuda-a-tratar-e-estudar-animais-silvestres/#respond Wed, 28 Nov 2018 17:36:18 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/11/figura-2-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5518 É com prazer que continuamos a nossa série de posts feitos por convidados, alunos da disciplina de pós-graduação Escrita para Divulgação Científica, ministrada pela professora Patricia Domingues de Freitas na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). O primeiro texto da série pode ser conferido aqui.

Desta vez, o nosso tema é uma técnica inovadora usada para tratar e estudar animais silvestres em cativeiro. O texto é de André Luiz Mota da Costa. Boa leitura!

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O uso da termografia infravermelha na medicina veterinária e seu potencial no estudo de animais silvestres

Aparelho capaz de captar o calor corpóreo ajuda a detectar alterações de temperatura em espécies mantidas em cativeiro e na natureza, contribuindo para o diagnóstico precoce e para o estudo de aspectos relacionados à biologia do animal

O diagnóstico de doenças graves em animais de grande porte mantidos em cativeiro vem sendo feito de uma forma inovadora. Usando a termografia infravermelha, técnica que permite medir a temperatura dos animais de maneira precisa até uma distância de 20 metros, uma onça-pintada foi salva de um câncer e um elefante recebeu tratamento local específico em um zoológico de São Paulo. Além disso, o uso dessa tecnologia em animais de vida-livre também está permitido o estudo de espécies com aspectos relacionados à reprodução e biologia ainda pouco compreendidos.

A termografia médica infravermelha é um método seguro e não invasivo de diagnóstico que se baseia na detecção de raios infravermelhos emitidos pelos corpos. Ela permite o diagnóstico de processos patológicos e/ou fisiológicos, baseado em alterações no fluxo sanguíneo e consequente mudança de temperatura. Na medicina humana seu uso vai desde a detecção de lesões musculares em atletas até o diagnóstico de artroses em pacientes na terceira idade. Na medicina veterinária, a termografia começou a ser utilizada em animais de produção a partir de 1950. Mas foi somente em 1994 que dois veterinários alemães, Eulenberger e Kampfer, publicaram os primeiros estudos recomendando a termografia infravermelha em animais silvestres mantidos em zoológicos e também em vida livre. Desde então, o uso do termovisor tem permitido uma avaliação veterinária eficiente à distância, possibilitando o diagnóstico sem que seja necessário capturar o animal, causar estresse ou interferir em seu comportamento natural.

O início do uso do termovisor no diagnóstico animal possibilitou identificar lesões em vacas leiteiras e em galinhas poedeiras e também avaliar o estresse térmico nesses animais mantidos em confinamento. O sucesso dessa técnica logo se expandiu para os animais de estimação, alcançando grande sucesso na avaliação de cavalos, os quais costumam ser muito suscetíveis a lesões articulares e musculares. Com o passar dos anos, a imagem térmica na veterinária começou a ser utilizada também para avaliar o período fértil das fêmeas e confirmar a gestação, além é claro de diagnosticar doenças infecciosas e identificar lesões e inflamações de forma precisa.

No Zoológico de Sorocaba o termovisor vem sendo utilizado com sucesso para diagnóstico veterinário. Inaugurado em 1968, este Zoo é considerado um dos mais completos da América Latina, mantendo cerca de 1.250 indivíduos em suas instalações. Aproximadamente 70% dos animais alocados na instituição é da fauna brasileira. Entretanto, o Zoo também abriga espécies provenientes de diferentes países, como elefantes, hipopótamos, leões, ursos e tigres.

O Parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros (PZMQB), como também é conhecido o Zoo de Sorocaba, é classificado pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) na categoria A, que consiste no grau mais elevado de classificação em termos de excelência de suas instalações e atividades de recreação saudável, que incluem contato com a natureza e programas de educação ambiental, e de pesquisas, através de colaborações nacionais e internacionais que promovem o desenvolvimento e implementação de planos manejo de espécies ameaçadas.

Segundo o médico veterinário André Costa, a ideia de utilizar a termografia no Zoo de Sorocaba surgiu após conversas com colegas de profissão e contato com os trabalhos de alguns estudiosos da área que utilizaram o método para diagnosticar o período fértil e o estágio gestacional em alguns animais mantidos em cativeiro. Hoje esta tecnologia é utilizada com sucesso no Zoo para detectar indícios de processos febris e inflamatórios, lesões e até mesmo doenças graves como câncer.

André, que atualmente desenvolve pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Conservação da Fauna (PPGCFau), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) em parceria com a Fundação Parque Zoológico de São Paulo (FPZSP), diz que “devido à dificuldade de avaliar algumas espécies mais perigosas, como os grandes felinos, e outros animais mais sensíveis ao estresse de contenção, como algumas espécies de veados, a termografia se mostra uma excelente alternativa para auxílio no diagnóstico”.

No Brasil, a termografia infravermelha já havia sido empregada com eficiência pelo veterinário Rodrigo Teixeira, professor na Universidade de Sorocaba e na Faculdade Max Planck, ambas situadas no interior paulista. Segundo André, Rodrigo o apresentou a esta tecnologia pela primeira vez quando ambos tentavam descobrir por que um elefante mantido em cativeiro estava mancando. Neste caso, o uso do termovisor permitiu localizar de forma precisa uma lesão na pata do animal e os veterinários puderam focar a terapia no ponto específico. Este diagnóstico facilitou o tratamento de um animal de grande porte e de difícil contenção. Apesar da eficiência desta tecnologia, Rodrigo ressalta, no entanto, que após o uso do termógrafo, deve-se incluir exames complementares para concluir um diagnóstico.

Para Solange Mikail, uma das primeiras profissionais a utilizar o termovisor na medicina veterinária no Brasil, a tecnologia da termografia infravermelha tem um potencial enorme na medicina veterinária de animais domesticados e mantidos em cativeiro, mas também em animais de vida livre. Solange, que iniciou o uso do termovisor em equinos, logo expandiu sua aplicação para outras espécies, incluindo insetos. Segundo a veterinária, um pesquisador de Harvard que veio ao Brasil para estudar um fungo que acomete as formigas cortadeiras nos países tropicais a convidou para integrar-se ao seu grupo de pesquisa e utilizar a termografia em plena floresta. Solange também comenta que já detectou gestação em espécies silvestres e que conseguiu determinar com precisão o período reprodutivo nos lêmures, um tipo de primata que fica no cio apenas um dia ao ano. Para ela, embora o uso do termovisor ainda seja mais aplicado em animais domesticados, essa tecnologia tem um enorme potencial para estudos em espécies com hábitos noturnos ou com a biologia e fisiologia ainda pouco conhecida. Além disso, em cativeiro pode-se fazer uso do termovisor para avaliar a temperatura de recintos e assegurar o bem-estar dos animais, finaliza.

Após quase 70 anos do uso da termografia no diagnóstico animal, exemplos de sucesso confirmam o emprego efetivo do uso desta tecnologia na veterinária no Brasil. O diagnóstico precoce de um câncer em uma onça-pintada, por exemplo, permitiu o tratamento adequado, evitando que a doença progredisse nesse animal. Vagalume, como é conhecido esse macho de Panthera onca, havia sido resgatado em 1997, após a morte de sua mãe em uma região do Pantanal mato-grossense, sendo levado para ser cuidado no Zoo de Sorocaba, onde permanece até hoje. Recentemente, o uso do termógrafo neste animal acusou um aumento de temperatura na região da virilha. Após três dias monitorando a temperatura corpórea à distância, notou-se que o calor excessivo nesta área não cedia. Com base nesta observação, o animal foi anestesiado e exames mais específicos foram realizados. A intervenção acusou a presença de um tumor maligno, ainda em estágio inicial, que foi posteriormente removido por procedimento cirúrgico. Na fase de recuperação pós-cirúrgica, o monitoramento à distância também foi eficaz, mostrando não haver mais alterações de temperatura na região em que o tumor se localizava. São exemplos como estes que são objeto de pesquisas relativas ao uso e eficácia da termografia infra-vermelha na medicina veterinária.

Termografia: a lógica básica por trás do sistema

A termografia permite mapear as temperaturas nas partes do corpo de diferentes espécies e realizar um monitoramento ao longo do tempo. Alterações no padrão de temperatura sugerem alterações do fluxo sanguíneo, sempre associado a um processo fisiológico ou patológico; a interpretação desses dados pode levar ao diagnóstico, muitas vezes anterior ao aparecimento de sintomas. Vale lembrar que o raio infravermelho é uma frequência eletromagnética naturalmente emitida por qualquer corpo, porém essa frequência está além da capacidade humana de visão. Dessa forma, o termovisor não só identifica como também mensura a frequência dos raios; tornando extremamente fácil a localização de regiões quentes ou frias, através da interpretação dos termogramas que fornecem imagens, em faixas de temperaturas representadas por gradiente de cores (que podem cobrir de – 40°C a 1500ºC).

Desde os tempos de Hipócrates

A primeira aplicação médica do conceito da “termografia” foi utilizada por Hipócrates, o pai da Medicina, que viveu entre 460 e 375 aC. Ao aplicar lama na pele de seus pacientes, com função terapêutica, Hipócrates notava que nas áreas em que a lama secava mais rápido, a temperatura corpórea aumentava, sendo possível assim detectar o local da afecção. Entretanto, foi apenas em 1800 que o astrônomo alemão William Herschel (descobridor do planeta Urano) conseguiu provar a existência dos raios infra-vermelhos, sendo criado o primeiro termógrafo em 1830 por John Herschel, seu filho. Na medicina humana a termografia começou a ser empregada em 1960 e foi usada para detecção precoce de doenças apenas nos anos 80.

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O dia em que a gorila xingou o antropólogo (em linguagem de sinais) https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/06/30/o-dia-em-que-a-gorila-xingou-o-antropologo-em-linguagem-de-sinais/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/06/30/o-dia-em-que-a-gorila-xingou-o-antropologo-em-linguagem-de-sinais/#respond Sat, 30 Jun 2018 13:06:42 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/koko-320x213.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5210 Fomos surpreendidos na semana passada pelo falecimento de Koko, a gorila americana de 46 anos que se celebrizou pela capacidade de se comunicar com a linguagem de sinais manuais criada por humanos (a mesma usada por pessoas com deficiência auditiva). Existem muitos relatos sobre o jeito criativo, ainda que bastante rudimentar, com o qual a símia usava os sinais, mas um dos mais interessantes está no livro “Moral Origins” (“Origens Morais”), do antropólogo americano Christopher Boehm. O pesquisador relata seu encontro com a gorila, que tinha um fascínio pelas obturações dos dentes dos humanos e não parava de lhe fazer o sinal de “mostrar dente” porque queria examinar a dentição de Boehm cuidadosamente.

Cansado de ficar de boca aberta, Boehm tentava mudar de assunto, enquanto a gorila continuava sinalizando “mostrar dente”, “mostrar dente”. O antropólogo enfim fechou a boca e não abriu mais. Koko então fez o sinal para… “privada”. É, aquele lugar que a gente usa para fazer as necessidades que ninguém pode fazer por nós. “Ela basicamente me chamou de cocô”, recorda Boehm. Pode um negócio desses?

Que a terra lhe seja leve, querida Koko.

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Corvos conseguem recriar instrumentos de memória, indica pesquisa https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/corvos-conseguem-recriar-instrumentos-de-memoria-indica-pesquisa/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/06/28/corvos-conseguem-recriar-instrumentos-de-memoria-indica-pesquisa/#respond Thu, 28 Jun 2018 18:42:29 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/corvo-ishperto-320x213.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5204 Se você ainda não sabia, anote aí: corvos são os gênios do mundo das aves. A flexibilidade da inteligência dos bichos já foi demonstrada numa série de domínios, inclusive no que diz respeito à produção de instrumentos que eles usam para se alimentar. Um novo estudo adiciona mais uma pecinha nesse quebra-cabeças fascinante ao revelar que os bichos são capazes de recriar instrumentos “de memória”.

O estudo é de Sarah Jelbert, da Universidade de Cambridge (Reino Unido), saiu no periódico Scientific Reports e diz respeito aos corvos-da-nova-caledônia (Corvus moneduloides), a espécie mais impressionante do grupo em termos cognitivos.

Os pesquisadores ensinaram, de início, os bichos (oito deles) a usar um equivalente de máquinas de comida de escritório, colocando pedaços de papel numa fenda para obter alimento. Só pedaços de papel com o formato correto permitiam a retirada da guloseima, porém, de forma que os corvos, com a desenvoltura que lhes caracteriza, aprenderam qual era a ficha certa.

Próximo passo: dar aos corvos pedações grandes de papel, sem nenhum “molde” que os guiasse na produção de novas fichas. Pois não é que eles conseguiram retalhar os cartões até eles adquirirem o formato certo para funcionar na máquina de comida? Estamos aqui à espera do momento em que eles vão aprender a investir em bitcoins.

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Um outro olhar poético sobre a relação entre humanos e animais https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/06/06/um-outro-olhar-poetico-sobre-a-relacao-entre-humanos-e-animais/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/06/06/um-outro-olhar-poetico-sobre-a-relacao-entre-humanos-e-animais/#respond Wed, 06 Jun 2018 17:53:12 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/Akrotiri_dolphins-320x213.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5163 Este nanopost é só para compartilhar com vocês a citação magnífica abaixo, de autoria do escritor e naturalista americano Henry Beston (1888-1968), um dos pioneiros do movimento ambientalista, em seu livro “The Outermost House”. Qual é, afinal, a relação entre seres humanos e animais, e como evitar a arrogância humana quando pensamos sobre isso? Vejam o que ele diz.

“Nós os tratamos com condescendência por sua incompletude, pela sina trágica de terem tomado forma tão inferior à nossa. E nisso erramos, e erramos grandemente. Pois o animal não há de ser medido pelo homem. Num mundo mais antigo e mais completo que o nosso eles se movem terminados e completos, dotados de extensões dos sentidos que perdemos ou nunca tivemos, vivendo por vozes que jamais ouviremos. Não são nossos irmãos, não são nossos subalternos; são outras nações, apanhadas conosco na rede da vida e do tempo, companheiros de prisão do esplendor e da labuta da Terra.”

Achei esse trechinho no livro “Beyond Words”, de Carl Safina.

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Mosca faz bolha de cuspe para resfriar o organismo, diz estudo https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/04/19/mosca-faz-bolha-de-cuspe-para-resfriar-o-organismo-diz-estudo/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/04/19/mosca-faz-bolha-de-cuspe-para-resfriar-o-organismo-diz-estudo/#respond Thu, 19 Apr 2018 18:33:32 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/04/mosca-babona-320x213.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5043 Ter nojo de varejeiras (Chrysomya megacephala) é humano, demasiado humano, e desconfio que esse asco só aumenta se eu disser que elas costumem fazer bolhinhas de cuspe repetidas vezes. Mas encaremos a coisa por outro ângulo, como a ciência nos ajuda a fazer, e descobriremos, como demonstraram pesquisadores da USP de São Carlos e da Unesp de Rio Claro, que esse comportamento é praticamente a mesma coisa que aquela fofice dos cachorrinhos ofegantes, dos leõezinhos de língua de fora na savana africana. As moscas fazem isso para resfriar o organismo, dissipando calor, assim como os cães (ou eu e você quando suamos).

A pesquisa, que pode ser lida gratuitamente no original da revista especializada “Scientific Reports“, usou imagens de infravermelho (que medem calor) para saber exatamente o que acontecia no organismo dos insetos durante o processo de produzir e engolir vez após outra a tal bolha de cuspe. “Cuspe” é, confesso, licença poética: o que temos nas gotículas é um fluido que consiste numa mistura complexa de líquidos dos alimentos ingeridos pelo bicho, enzimas (substâncias orgânicas que aceleram reações químicas) de suas glândulas salivares e compostos microbianos da porção superior do sistema digestivo da mosquinha.

Seja como for, o que acontece é o seguinte: enquanto a bolha de líquido é colocada boca afora, o calor faz com que parte da água ali evapore, o que acaba resfriando o que sobrou da baba de mosca. O bicho engole de novo o negócio e, logo depois, faz a bolhinha de novo. Repetindo esse processo, a varejeira consegue esfriar várias partes do corpo a diferentes taxas, perdendo de 3 graus Celsius (no caso da cabeça) a 0,8 graus Celsius (caso do abdômen).

Lembre-se de que o bicho é pequenininho e não controla sozinho a sua temperatura corporal, ao contrário de nós, mamíferos. Por isso, as varejeiras modulam cuidadosamente o processo dependendo da temperatura ambiente e do seu nível de atividade (já que voar esquenta muito o corpo).

Os autores da pesquisa são Guilherme Gomes e Roland Köberle, da USP, e Claudio Zuben e Denis Andrade, da Unesp.

E, se você me permite o bairrismo científico, o qual já virou marca registrada deste blog, é claro que uma descoberta tão sensacional quanto essa só poderia ter vindo de São Carlos, a Atenas Paulista, o município com maior proporção de pessoas com doutorado por habitante na América Latina e, vejam só que coincidência, minha cidade natal e onde moro hoje, com a graça de Deus e de Darwin.

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Por que a vida das mães humanas é tão complicada? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/por-que-a-vida-das-maes-humanas-e-tao-complicada/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/03/19/por-que-a-vida-das-maes-humanas-e-tao-complicada/#respond Mon, 19 Mar 2018 18:09:03 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/mulher-veia-320x213.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4893 Por motivos de falta de espaço, um texto que eu havia preparado para uma revista sobre as raízes biológicas da maternidade humana acabou não sendo publicado. É com prazer, portanto, que compartilho essa minha tentativa de resumir o que significa ser mãe na nossa espécie com os leitores do blog. Espero que gostem – o título de trabalho original era algo como “Predestinada a dar à luz?”.

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Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso há de concordar que ser mulher e mãe não é brincadeira. Aliás, tem sido quase sempre assim desde antes de existirem mulheres propriamente ditas. A vida dura das genitoras humanas já estava esboçada, em grande medida, centenas de milhões de anos atrás, quando surgiram as diferenças de tamanho e características que ainda distinguem óvulos de espermatozoides.

Pode parecer maluquice, mas é a pura verdade. Essa distinção, que provavelmente é tão antiga quanto a origem dos primeiros animais, é o elemento mais básico que separa um sexo do outro e tem uma série de consequências importantes. A primeira delas: óvulos são proporcionalmente enormes – basta dizer que eles estão entre as raras células que a gente consegue observar a olho nu –, enquanto espermatozoides costumam ser nanicos. Esse tamanhão dos óvulos permite que eles armazenem uma quantidade considerável de nutrientes e outras moléculas essenciais para o desenvolvimento do futuro embrião; por outro lado, suas contrapartes masculinas não passam de micronadadores de longa distância, sem nem um tiquinho de gordura sobrando em sua estrutura celular.

Outra diferença crucial: óvulos são relativamente escassos, em especial entre mamíferos – não é à toa que existe o chamado ciclo menstrual, durante o qual eles são liberados aos pouquinhos (um por um ou, bem mais raramente, dois por vez no caso dos seres humanos) num período específico do mês. Em comparação, a tradicional falta de sutileza masculina fica clara: centenas de milhões de espermatozoides jorrados a cada ejaculação. Chega a dar vergonha.

Questão de economia
E daí? Daí que essas diferenças podem ser traduzidas em linguagem econômica de um jeito bem simples: em geral (grife mentalmente esse “em geral”, porque existe muita variação na natureza, óbvio), óvulos são caros, espermatozoides são baratos. Ou, só pra continuar falando em economês, o investimento reprodutivo que as moças da maioria das espécies fazem tende a ser maior do o que dos rapazes (de novo, em média, com exceções etc.). Isso acontece porque, primeiro, o organismo normalmente gasta mais energia e recursos para produzir células sexuais femininas do que masculinas.

Esse desequilíbrio fica ainda mais claro quando o óvulo fecundado é gestado dentro da barriga da mãe, como acontece com quase todos os mamíferos (embora certos machos também fiquem grávidos, como é o caso dos cavalos-marinhos). Além disso, é relativamente comum que investimentos pesados, daqueles que nem o BNDES toparia financiar, continuem após o nascimento da filharada, com a maior parte ou a totalidade do chamado cuidado parental – amamentar, carregar de lá para cá etc. – ficando nas costas da garota (de novo, exceções não faltam; em muitas espécies de aves, o papai tem grandes responsabilidades nessa esfera). Esse cenário geral vale para uma grande variedade de animais que adotam o cuidado parental – o que, claro, não é o caso dos muitos bichos que apenas botam seus ovos e deixam os bebês se virarem desde o nascimento, como as tartarugas-marinhas – e provavelmente é a regra para os mamíferos desde que eles surgiram, lá se vão mais de 200 milhões de anos.

Tartaruga-marinha: sem cuidado parental, diferentemente da nossa espécie (Crédito: Creative Commons)

Recorde agora que nós somos, no fundo, não mais que um tipo de grande símio africano com postura ereta e pouco pelo. As fêmeas humanas gestam seus bebês por nove meses e, quando os bichinhos nascem, são completamente indefesos, descoordenados e precisam mamar, às vezes por anos a fio. Tudo isso significa que o padrão mais comum de investimento reprodutivo entre outros mamíferos – e as assimetrias e os desequilíbrios entre os sexos que derivam dele – também se manifesta entre nós de certa maneira, o que explica parte importante do peso que recai sobre os ombros das mulheres desde que o mundo é mundo.

Ainda seguindo o raciocínio econômico dos últimos parágrafos, faz sentido que elas sejam significativamente mais seletivas na escolha de parceiros sexuais que os homens. Afinal, na era pré-anticoncepcionais confiáveis (ou seja, basicamente pelos séculos dos séculos, se descontarmos o piscar de olhos entre os anos 1960 e hoje), o espectro de uma gravidez provocada por sexo com o sujeito errado era assunto muito sério. Sempre que podiam escolher com quem gerar bebês, as mulheres tendiam, sabiamente, a não dar bola para qualquer mané (ou elas ou suas famílias, claro, mas temos boas razões para acreditar que uniões arranjadas são coisa recente, dos últimos 10 mil anos ou menos, quando fatores como riqueza e diferenciação social se tornaram comuns pela primeira vez). Homens, por sua vez, tinham incentivos consideravelmente maiores para investir seu suprimento virtualmente ilimitado de espermatozoides da maneira mais ampla possível: o que caísse na rede era peixe, certo?

Bem, mais ou menos – aqui, é preciso não traçar um cenário unilateral demais. Somos uma espécie mais complicada do que os gorilas ou elefantes-marinhos, bichos que formam haréns nos quais um único macho fecunda regularmente diversas fêmeas, enquanto os demais membros do sexo masculino ficam chupando o dedo (de novo, a poligamia parece ser uma invenção recente entre nós). Os pais da nossa espécie são meio preguiçosos, não se pode negar, mas ainda assim até que dão uma mãozinha considerável na criação dos bebês, e o mesmo deve ter valido desde as origens da linhagem humana, segundo a maioria dos antropólogos. Isso, claro, diminui um pouco a avidez deles no que diz respeito a saltar a cerca de casa. Por outro lado, desde que o mundo é mundo, mulheres assumem o risco de se envolver com outro parceiro se perceberem que o atual é um banana ou não dá a mínima para elas – ou seja, no fundo, quando se dão conta de que ele não está colaborando com sua parte no bolão do investimento reprodutivo.

Ressalvas à parte, porém, o fato é que, em média (e considerando que existe uma enorme variabilidade de comportamento de pessoa para pessoa, algo que a gente nunca pode esquecer), as diferenças entre os sexos que estão ligadas a causas biológicas ainda são significativas. E há dados intrigantes que sugerem que as repercussões disso vão além do comportamento sexual, afetando a maneira como as mulheres lidam com os anos de escola ou o mercado de trabalho, por exemplo.

Uma das defensoras dessa visão é a psicóloga do desenvolvimento canadense Susan Pinker, autora do livro “O Paradoxo Sexual”. O primeiro ponto ressaltado por ela é que, em média, não há diferença detectável de inteligência ou habilidade entre homens e mulheres: é basicamente balela sair por aí dizendo que meninas “não têm cabeça para matemática” ou não conseguem se impor quando viram chefes, por exemplo.

Dilema dos extremos
O curioso, no entanto, é que essa grande semelhança média ao que parece esconde uma diferença estatística significativa. No que diz respeito a diversas variáveis comportamentais e mentais, as mulheres têm uma tendência maior a serem relativamente normais e equilibradas, enquanto os homens acabam se espalhando mais para os extremos. Sem meias-palavras, parece que há mais gênios entre os homens, só que também há mais idiotas entre eles (essa segunda parte não deve ser surpresa para as mulheres, aliás). É plausível – embora seja difícil de demonstrar cabalmente – que isso tenha relação com as estratégias evolutivas diferentes de cada sexo: para os homens, valeria mais a pena “apostar” (de forma inconsciente, claro) em comportamentos extremos, que talvez trouxessem mais retorno em quantidade de parceiras sexuais, do que para as mulheres, para as quais táticas mais conservadoras seriam um jeito melhor de fazer desabrochar seu potencial reprodutivo.

Para Susan, isso também ajudaria a explicar por que, apesar do aumento do número de mulheres em posições de destaque em áreas como o direito e as ciências biológicas, elas ainda são minoria em física ou computação (campos que favorecem interesses muito específicos e, por vezes, estreitos) ou no comando de grandes empresas (ocupações nas quais se espera que o sujeito basicamente não tenha mais vida pessoal).

O indefectível Sheldon de “The Big Bang Theory”: exemplo dos extremos masculinos? (Crédito: Divulgação)

Isso quer dizer que as mulheres não são tão duronas profissionalmente? Pode ser justamente o contrário, argumenta ela. “Durante a crise financeira de 2008, mais homens perderam seus empregos e cometeram suicídio, enquanto as mulheres se recuperaram com muito mais facilidade, porque elas tinham uma tendência menor a colocar todos os seus ovos no mesmo cesto. Enquanto muitos homens trabalhavam 70 horas semanais num emprego único que envolvia um só conjunto de habilidades, elas tinham dois trabalhos de meio período, em ramos como serviços ou educação, que não fecham vagas com tanta facilidade”, diz Susan. Faz sentido imaginar que há alguma ligação entre tudo isso e a responsabilidade biológica que a mulher assume com a cria. Aliás, há alguns indícios de que o cérebro feminino lida melhor com o “multitasking”, a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo, e que isso tem relação com o efeito dos hormônios femininos sobre o sistema nervoso.

Será que tudo isso significa que exigir participação igual das mulheres em todas as áreas do conhecimento e do mercado de trabalho é utópico e até contraproducente, gerando um conflito desnecessário entre os sexos? Bem, a coisa é complicada. De um lado, ignorar a influência da biologia sobre tudo o que nós somos equivale a tapar o Sol com a peneira. De outro, biologia é importante, mas não é destino escrito nas estrelas – do contrário muita gente lendo esse texto teria morrido na infância por causa de infecções bobas que dizimavam as pessoas antes da invenção dos antibióticos. Talvez a maioria das mulheres continue a não se empolgar com a ideia de trabalhar como mecânica de caminhões ou de liderar uma multinacional, mesmo que as portas dessas carreiras estejam totalmente abertas para elas – e tudo bem, ora: a liberdade de escolher também deveria valer para quem não vê problema em seguir o caminho que parece ser o mais natural. Tudo bem, repito, desde que a gente não esqueça que pessoas são indivíduos, não médias populacionais: algumas mulheres (talvez a minoria?) escolherão caminhos que veríamos como “masculinos” – e não serão menos femininas, ou menos humanas, por causa disso. Nenhuma das duas possibilidades é motivo para a gente ficar arrancando os cabelos.

Por outro lado, não há motivo para não repensarmos o que entendemos por “sucesso” ou “liderança”, hoje com base em critérios tradicionalmente masculinos. Por que diabos uma alta executiva ou uma professora universitária de renome internacional deveriam ser forçadas a ficar longe de seus filhos, ou até se sentirem pressionadas a não formar uma família, para conseguir cumprir o papel tradicional de escravo do trabalho? Por que não criar incentivos para que empresas e órgãos governamentais deem mais espaço para creches de qualidade, horários flexíveis e “home office” (o popular trabalho em casa)? Medidas como essas podem muito bem criar ambientes mais equitativos e recompensadores pra todos, homens e mulheres. O escriba que vos fala sabe bem o que é isso: abri mão de ser editor de Ciência na Folha para morar no interior de São Paulo com a minha família e poder ver meus filhos todo santo dia. Não acho que eu seja “menos homem” por causa disso. Diferenças biológicas não deveriam ser vistas como camisas-de-força.

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Entenda a evolução do ser humano em 12 aulas com Walter Neves https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/03/10/entenda-a-evolucao-do-ser-humano-em-12-aulas-com-walter-neves/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/03/10/entenda-a-evolucao-do-ser-humano-em-12-aulas-com-walter-neves/#respond Sat, 10 Mar 2018 13:55:12 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/03/waltinho-320x213.jpeg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4868 Encontrar materiais confiáveis, bem-feitos e gratuitos sobre evolução humana em português do Brasil é uma perpétua dor de cabeça. Mas nada tema, nobre leitor: um dos principais pesquisadores da área no país resolveu oferecer tudo isso de mão beijada para você no YouTube. Walter Neves, professor aposentado — mas ainda altamente ativo — do Instituto de Biociências da USP, que se notabilizou por seu trabalho com a célebre Luzia, a mulher mais antiga das Américas (seu esqueleto tem idade estimada em 12 mil anos), preparou 12 aulas no canal da USP na plataforma online sobre o tema.

Eis o primeiro gostinho, sobre humanos versus chimpanzés.

A playlist inteira das aulas está neste link. Divirta-se e aprenda!

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Vacine-se contra visões simplistas da biologia https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/01/29/vacine-se-contra-visoes-simplistas-da-biologia/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/01/29/vacine-se-contra-visoes-simplistas-da-biologia/#respond Mon, 29 Jan 2018 12:41:24 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/frenologia-180x147.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4762 Só pra continuar rapidamente o assunto de um post e de uma coluna recentes, é com prazer que reproduzo aqui uma citação do neurobiólogo americano Robert Sapolsky sobre como a gente deve encarar as influências da biologia sobre o comportamento — em resumo, é complicado:

“Em vez de funcionar com base em causas simples, a biologia funciona o tempo todo com base em propensões, potenciais, vulnerabilidades, predisposições, inclinações, interações, modulações, contingências, cláusulas do tipo ‘se-então’, dependências de contexto, exacerbação ou diminuição de tendências preexistentes. Círculos e voltas e espirais e fitas de Möbius. Ninguém disse que isso aqui ia ser fácil. Mas o assunto é importante.”

O fantástico livro de Sapolsky sobre o assunto, “Behave: The Biology of Humans at Our Best and Worst” (“Comporte-se: A Biologia dos Seres Humanos No que Eles Têm de Melhor e Pior”), saiu no ano passado e está sendo devidamente deglutido por este escriba. Mais sobre ele a qualquer momento.

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A lição de Hans, o Esperto https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/02/21/a-licao-de-hans-o-esperto/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2017/02/21/a-licao-de-hans-o-esperto/#respond Tue, 21 Feb 2017 06:19:09 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2017/02/CleverHans-e1487656737726-180x72.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4090 Crianças, vou lhes contar a história de um cavalo chamado Hans, uma celebridade — no mau sentido — dos estudos sobre inteligência animal. Olha ele aí em cima.

Hans, o Esperto — em alemão, “der Kluge Hans” — viveu na Alemanha do começo do século 20. Seu dono, o professor de matemática Wilhelm von Osten, dizia ter treinado o bicho para, entre outras coisas, somar, subtrair, multiplicar, dividir, lidar com frações, dizer as horas, ter noções do calendário humano, entender a diferença entre tons musicais, ler, soletrar e entender alemão.

Coisa de louco, certo? Pois Hans parecia mesmo ser capaz de realizar todas essas proezas ao “responder”, com batidinhas de casco, as perguntas que seu dono lhe fazia. Exemplo: “Se o oitavo dia do mês cai numa terça-feira, qual é a data da sexta-feira seguinte?”. Hans, todo bonitinho, ia lá e batia a pata no chão 11 vezes, dando a resposta correta.

Infelizmente, alguns incrédulos entraram em ação, entre eles o psicólogo Carl Stumpf. Ele e um comitê de especialistas determinaram que não havia truque ou sacanagem na história, mas perceberam que Hans só conseguia dar uma resposta correta quando seu dono (ou outra pessoa que lhe fizesse perguntas) também sabia a resposta. O que acontecia é que, conforme o equino ia batendo o casco e chegando perto do número certo, quem estava fazendo a pergunta inconscientemente mudava ligeiramente sua postura e expressão facial, o que permitia ao cavalo sacar que estava na hora de terminar sua “resposta”, parando de bater a pata.

Será que a moral da história é que cavalos e pessoas são altamente propensos ao autoengao? Talvez, mas o etólogo (especialista em comportamento animal) Frans de Waal tem uma opinião muito mais otimista sobre o tema.

De Waal aponta a incrível capacidade de Hans de captar os mais sutis sinais inconscientes dos humanos ao seu redor para dar suas respostas, ainda que sem entendê-las. Uma espécie totalmente diferente da nossa é capaz de “ler a nossa mente”, portanto. Hans podia não ser capaz de fazer contas, mas seu comportamento é prova de uma inteligência animal bem superior à que costumamos admitir como plausível, adverte o pesquisador.

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