Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Neurociência brasileira revelada em entrevistas no YouTube https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/09/28/neurociencia-brasileira-revelada-em-entrevistas-no-youtube/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/09/28/neurociencia-brasileira-revelada-em-entrevistas-no-youtube/#respond Tue, 28 Sep 2021 19:46:25 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/Neuron_colored-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6638 O gentil leitor procura conteúdo científico relevante e gostoso de assistir no YouTube? Pois o negócio é mergulhar na minissérie “Neurobastidores”, que reúne alguns dos principais neurocientistas do Brasil falando brevemente do seu trabalho.

São temas tão variados quanto o cérebro humano, indo da meditação à psicopatia (#medo). Ponto para o visual apurado e pra excelente edição de vídeo. Os vídeos são uma iniciativa do Idor (Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino) e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), com patrocínio da Faperj, órgão estadual de fomento à pesquisa do Rio. Vale conferir!

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Meus 20 anos de jornalismo científico completados nesta semana https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/09/10/meus-20-anos-de-jornalismo-cientifico-completados-nesta-semana/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/09/10/meus-20-anos-de-jornalismo-cientifico-completados-nesta-semana/#respond Fri, 10 Sep 2021 13:35:07 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2017/07/tarta-e1500382528430-180x144.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6627 Pois é, gentil leitor, a idade chega pra todos. Nesta semana, os afazeres e o impacto da micareta ditatorial-genocida me atrapalharam um pouco na pontualidade, mas o fato é que acabei de completar 20 anos como jornalista de ciência, a maior parte deles transcorridos nesta Folha.

Quer ler o primeiro textinho que saiu assinado com meu nome aqui no jornal? Ei-lo abaixo ou neste link. Saiu, veja você, no dia 7 de setembro de 2001.

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Aquecimento antártico foi duas vezes maior que média mundial
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento da temperatura na Antártida durante o último século foi de 1,2C -pelo menos o dobro da média no resto do planeta, que ficou entre 0,2C e 0,6C, segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática, órgão da ONU).

Parece uma ninharia, mas o aquecimento antártico está modificando radicalmente o ecossistema da região. É o que mostra o estudo publicado pelo britânico David Vaughan e seus colegas do British Antarctic Survey na revista “Science” desta semana. Os pesquisadores ainda não sabem se o problema tem relação com o efeito estufa ou é resultado de mecanismos naturais da região.

As áreas mais afetadas são a península Antártica e o mar de Bellinghausen, regiões a cerca de 1.500 km do sul da Argentina. Na península, sete geleiras desapareceram nos últimos 50 anos.

As mudanças nas populações de pinguins também serviram como indicativo de que as coisas não andavam bem: as espécies que usavam geleiras para se abrigar e procriar começaram a diminuir na região, enquanto os pinguins acostumados a mar aberto colonizaram a península. “Ninhais que eram ocupados há 650 anos sumiram”, contou David Vaughan à Folha.

O pesquisador, contudo, ainda não está convencido de que o vilão antártico seja o efeito estufa. “Há fortes evidências de que esse tipo de mudança, numa escala de décadas, pode acontecer naturalmente”, disse.

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Só tenho a agradecer aos grandes mentores e colegas que me ajudaram a chegar até aqui, em especial Marcelo Leite (o Davi Kopenawa do jornalismo científico brasileiro e mundial), o eterno chefinho Claudio Angelo, combatendo o bom combate hoje fora da imprensa, e o grande amigo Salvador Nogueira. E a todos os irmãos de luta que hoje estão na editoria de Ciência da Folha.

Espero estar por aqui por mais 20 anos e 40 anos, se Eru Ilúvatar quiser!

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O contexto histórico e epidemiológico da tragédia da Covid-19 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/05/03/o-contexto-historico-e-epidemiologico-da-tragedia-da-covid-19/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/05/03/o-contexto-historico-e-epidemiologico-da-tragedia-da-covid-19/#respond Mon, 03 May 2021 17:16:46 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/bolsonarovski-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6598 Em países como o Brasil, que erraram feio na condução da pandemia, a Covid-19 fez a gente voltar um século ou mais no tempo. Tínhamos, a rigor, derrotado as doenças infecciosas e criado uma população que morria, na grande maioria dos casos, por causas crônicas, de longo prazo. Agora, pela primeira vez desde a gripe espanhola, uma única moléstia do tipo mata quase tanto quanto o câncer e problemas cardiovasculares. É esse o tema do novo vídeo do meu canal no YouTube, que acaba de voltar à ativa.

E não se esqueça, gentil leitor, de se inscrever e de ativar as notificações pra acompanhar os futuros vídeos!

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Covid-19 permite observar a evolução acontecendo ao vivo https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/05/02/covid-19-permite-observar-a-evolucao-acontecendo-ao-vivo/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/05/02/covid-19-permite-observar-a-evolucao-acontecendo-ao-vivo/#respond Sun, 02 May 2021 19:46:57 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/coronitos.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6578 Começamos o mês com mais uma participação especial aqui no blog. Desta vez, o autor do post convidado é o professor Milton Groppo, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada no Departamento de Biologia da USP de Ribeirão Preto. Ele explica como o surgimento da Covid-19 abre uma janela para a compreensão do processo evolutivo em tempo real. Para saber mais, é só ler o texto dele abaixo.

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A pandemia de Covid-19 causada pelo Sars-CoV-2 (nome técnico de um tipo de coronavírus) tem se arrastado faz mais de uma ano. As mortes e UTIs lotadas, a discussão sobre medidas restritivas, procedimentos sanitários, que máscara é a melhor, qual vacina é a mais indicada, aglomeração ou não e tudo relacionado à Covid tem dominado os noticiários em todas as mídias no mundo todo.

Como a Covid-19 é um assunto literalmente de vida ou morte, é natural que isso acontecesse. Mas, despercebida por grande parte do grande público, está se desenrolando uma outra história, uma história que muita gente nega e não entende: a evolução biológica, sendo transmitida exatamente agora, ao vivo, em qualquer canal de TV que a gente ligue.

A evolução biológica nada mais é que o processo de transformações que os organismos sofrem ou apresentam ao longo do tempo no nosso planeta. A existência de fósseis de plantas, animais e até de micro-organismos, seres que não existem mais, é um modo bom para mostrar como o conjunto de organismos se modificou ao longo de milhões de anos na Terra. A existência clara de espécies mais semelhantes entre si do que outras, tanto na sua forma quanto no seu desenvolvimento, apontava para uma história de mudanças que essas espécies sofreram vindas de um ancestral comum.

Entretanto, apenas nos últimos cerca de 150 anos começaram a ser apresentadas hipóteses baseadas em dados científicos que apresentassem mecanismos que explicassem a mudança das espécies ao longo do tempo – como a seleção natural de Darwin e Wallace ou a ideia de mutação neutra. De qualquer forma, hoje em dia sabe-se que a evolução só é possível se houver variação nos organismos, variação essa que é causada por mutações no material genético (DNA ou RNA). Como as mudanças nos organismos são mais lentas do que o olhar humano pode captar, sendo processos que envolvem milhares ou milhões de anos para se perceber, é difícil ver a evolução atuando.

Isso é um ponto que favorece os negacionistas da evolução biológica. Entretanto, se observarmos com mais cuidado o que está acontecendo agora com a pandemia da Covid-19 e o seu agente causador, veremos que temos todos os elementos para mostrar que a evolução biológica é um fato e está acontecendo agora.

O Sars-CoV-2

Ele é um parente muito próximo de outro vírus, o Sars-CoV ou Sars-CoV-1, que ocasionou um surto de infectados em seres humanos poucos anos atrás (entre 2002 e 2004). A sigla Sars designa, em inglês, o agente causador da “Síndrome Respiratória Aguda Grave”. São ambos parte de uma “família” de vírus de RNA que causam infecções em diversos organismos, como aves e morcegos.

O Sars-CoV e o Sars-CoV-2 são semelhantes e compartilham cerca de 80% do seu material genético (mais detalhes aqui). Além disso, cerca de 96% do código genético do Sars-CoV-2 é igual ao de outros coronavírus que infectam morcegos. Acredita-se que esses animais possam ter transmitido tais vírus para um outro animal intermediário e depois para as pessoas, ou que a transmissão tenha sido direta.

Como todo vírus, eles são entidades simples, formadas por uma molécula de DNA ou de RNA (no caso dos retrovírus, como os vírus da gripe ou nos Sars-CoV) , muitas vezes protegidos por um envelope formado por proteínas e gorduras. No caso dos Sars-CoV, essa capa tem numerosos espinhos (“spikes” em inglês), que auxiliam os vírus a se fixar nas células que vão infectar – como se fossem carrapichos que grudam nas nossas roupas. Esses espinhos estão presentes em toda a família dos coronavírus.

Os vírus são incapazes de se reproduzir sem penetrar (= infectar) nas células de outro organismo, pois precisam da maquinaria da célula infectada para produzir novas cópias de si mesmos. Por isso até há uma discussão se eles seriam seres vivos ou não. Outra característica dos vírus (incluindo os Sars-CoV) é a sua especificidade, o que significa que um vírus patogênico (isto é, causador de doenças) para plantas não o será necessariamente para humanos. É por isso que existem vírus de gripe canina que não causam gripe em seres humanos e vice-versa, por exemplo.

Mas onde entra a evolução nessa história?

Quando a Covid-19 surgiu e se espalhou, além dos termos isolamento social, máscaras, tratamentos… citados no começo deste texto, foram aparecendo ao longo dos meses outras palavras, como “linhagens” ou “variantes” – variantes do Reino Unido, da África do Sul, do Brasil (com a variante P1 detectada primeiro em Manaus), agora uma possível nova variante na Índia, que conteria uma “dupla mutação”. Mas o que são essas tais de variantes? Como surgiram? Elas sempre existiram? E mutação? E o que a evolução tem a ver com tudo isso?

Nós podemos ter dúvidas de que os chimpanzés e gorilas, apesar de todas as semelhanças compartilhadas com a espécie humana, são nossos parentes e compartilham uma história evolutiva recente comum. Nós não testemunhamos os eventos de diferenciação das linhagens desses organismos, pois isso aconteceu há muitos milhões de anos. Além disso, a diferenciação das linhagens ocorreu de forma lenta e, com os olhos humanos, nós não as perceberíamos, mesmo que entrássemos em uma máquina do tempo.

Outro fato que poderia depor contra a ideia de chimpanzés, gorilas e os humanos terem um ancestral comum recente é que são nítidas as diferenças entre essas espécies atualmente e se não tivéssemos fósseis intermediários (os quais temos hoje em dia) poderíamos achar que tais espécies não foram geradas por transformações gradativas, mas que teriam sido criadas do jeito que são hoje.

Mudança em tempo real

No caso do vírus causador da Covid-19, nós temos visto as mudanças ocorrerem rapidamente, com a formação de novas linhagens em intervalos muito curtos, de meses. Há pouquíssimos anos não tínhamos notícia dos Sars-CoV, pois os coronavírus eram encontrados em outros organismos não humanos, como aves e morcegos. O fato de esses vírus terem adquirido a capacidade de infectar os humanos recentemente está ligado a variações que ocorrem nas populações desses vírus.

Assim como nós humanos, cada vírus é um indivíduo, e eles possuem diferenças genéticas. Essas diferenças genéticas, ou variações, são causadas por mutações no DNA ou RNA. As mutações são a origem da variabilidade nas diferentes espécies e, se fixadas (ou selecionadas), podem levar a mudanças nas populações ao longo do tempo– isto é, podem propiciar a evolução. Entretanto, ao contrário dos organismos “grandes”, os vírus têm uma ciclo de vida muito rápido, às vezes de algumas horas, e geram um número estratosférico de cópias de si mesmos em um curtíssimo espaço de tempo.

As mutações ocorrem em todos os organismos e são a base da variação que eles apresentam. Mas as mutações não são todas ruins ou todas boas: a maioria é neutra e não leva a efeitos imediatos em uma população. Além disso, organismos com o ciclo de vida mais longo (como um ser humano, um elefante, ou uma sequoia, que vive centenas ou até milhares de anos) possuem menor probabilidade de ocorrência de mutações por intervalo de tempo, pois as mutações que interessam no estudo da evolução são aquelas que são passadas para outras gerações.

E é aí que está o pulo-do-gato no caso dos vírus: como eles se multiplicam rapidamente, existe uma chance muito maior de acontecerem mutações por intervalo de tempo que podem ser passadas para outras gerações. E, se acontecem mais mutações, há uma chance maior de ocorrer uma mutação que possibilite àquela cepa (ou linhagem) infectar outros organismos além daqueles que aquele tipo de vírus já infectava.

Foi o que provavelmente aconteceu na China ou em outro local, no começo de tudo: em uma determinado lugar, por acaso havia uma linhagem de coronavírus que infectava outro organismo (provavelmente um morcego) que continha uma mutação que propiciou a essa linhagem específica infectar humanos, sendo então denominadas Sars-CoV. Os vírus causadores da Covid-19 não “pensaram” que seria melhor infectar humanos; foi um evento ao acaso, facilitado, entretanto, pelo contato entre humanos e outros animais (através da criação e/ou do consumo)

Vemos então que mutações que causaram variações nos Sars-CoV propiciaram a infecção muito recente destes vírus em humanos, eventos que não eram registrados antes dos anos 2000. Isso por si só já mostra como a evolução está ocorrendo. Mas a história não para aí. Depois do Sars-CoV-2 infectar humanos e causar a Covid-19, outras mutações ligadas a esse vírus em regiões geográficas específicas foram detectadas ao longo de 2020: no Reino Unido, na África do Sul, no Brasil, como a famigerada P1, tudo isso em menos de um ano.

Essas cepas ou linhagens que apresentam novas mutações possuem diferenças na configuração de proteínas nas projeções em forma de espinho que ocorrem na camada de proteção externa. Com a mudança da conformação desses espinhos, o reconhecimento do sistema imunológico do organismo infectado é prejudicado ou mesmo impossibilitado e a reação do sistema imunológico não é rápida o suficiente. Como as vacinas trabalham ou com cepas de vírus atenuados ou com reconhecimento de RNA, qualquer mutação que ocasione mudanças nos espinhos ou outras porções da camada de proteção dos vírus são encaradas com muita preocupação, pois podem tornar as vacinas ineficazes.

Seleção natural

As novas variantes coexistem com as linhagens que não sofreram as mutações que modificam a conformação dos espinhos da capa protetora. Essas variantes competem entre si por hospedeiros, em um processo de seleção natural (alguém lembrou de Darwin?) onde a variante mais adaptada a uma determinada condição pode aumentar a sua representatividade em uma população viral.

E, quanto mais tempo a pandemia perdurar, maior a chance de acontecimento e fixação de mutações do Sars-CoV-2 ligadas a mudanças de patogenia e virulência, como a P1 de Manaus citada acima, que talvez seja mais contagiosa e mais perigosa para pessoas mais jovens e sem comorbidades. Em outras palavras, quanto mais o tempo passa, mais chances para que ocorram mais variações – isto é, novas mutações que podem ser fixadas nas populações de vírus e maior probabilidade de formação de novas variantes. Ou seja, mais chances de ocorrer… evolução!

O surgimento da Sars-Cov-2 e novas variantes chamam a atenção por terem efeito direto na saúde humana por conta da Covid-19, o que é compreensível, pois se trata da vida ou morte de pessoas. Mas os mecanismos de mutação e fixação dessas mutações nas diferentes variantes dos vírus, a capacidade das novas variantes de infectar outros organismos mostrando novas adaptações e o fenômeno da competição entre as diferentes variantes não são diferentes daquelas mudanças e adaptações que pudemos observar de maneira indireta em todos os organismos que ocorrem na Terra ao longo de milhões de anos.

É evolução biológica acontecendo em tempo real, ao alcance de um celular ou controle remoto. Para além da questão médica urgente, é uma excelente oportunidade de se mostrar que a evolução biológica é uma fato e que esse fato não pode ser mais ignorado por grupos negacionistas da ciência. Mesmo que dolorosa, é uma chance, mais uma vez, de aprendizado.

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Sim, os lockdowns europeus funcionaram; veja o porquê https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/09/sim-os-lockdowns-europeus-funcionaram-veja-o-porque/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/03/09/sim-os-lockdowns-europeus-funcionaram-veja-o-porque/#respond Tue, 09 Mar 2021 12:32:07 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/coronitos.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6551 Minha coluna do domingo que passou nesta Folha foi uma pequena lista das falácias e absurdos sobre a Covid-19 que andam circulando por aí, feito um tsunami de chorume virtual. Tratava-se de um texto para o jornal impresso, inevitavelmente curto — o que cabe naquele espaço são meros  3.500 caracteres, ou pouco mais do que uma página de texto em espaço simples no seu computador. Consegui abordar rapidamente apenas quatro tópicos. Mas é claro que tem milhões de outras coisas sem pé nem cabeça sendo vomitadas internet afora por malucos, idiotas, ignorantes e mal-intencionados. Portanto, vou continuar abordando-as pontualmente, em textos curtos, por aqui.

E, sem mais delongas, vamos à primeira.

Você disse que o lockdown nos países europeus funcionou, mas eles estão com números de mortes por 100 mil habitantes bem piores do que os do Brasil. Como assim?

Trata-se de um clássico caso de confusão de alhos com bugalhos. Além do fato de que a população europeia contém uma proporção de idosos muito superior à nossa — e, como já deveríamos estar calvos de saber, idosos morrem muito mais do que jovens –, quem diz isso está convenientemente esquecendo o fato de que casos e mortes desabaram após os severos lockdowns europeus entre março e maio de 2020. Tanto que o continente reabriu suas atividades quase totalmente ao longo dos meses seguintes.

E logo depois, é claro, levou a pancada do aumento de casos, internações e mortes a partir de outubro. Note que, no meio do ano passado, alguns usaram o argumento “não foi o lockdown que resolveu a parada, foi a imunidade de rebanho”. BALELA, mui gentil leitor. O fato de termos presenciado uma hecatombe europeia no último trimestre de 2020 deixa muito, muito claro que não havia imunidade de rebanho — a tal da proteção à população em geral graças ao espalhamento prévio do vírus nela. Do contrário, não teríamos tantos casos, internações e mortes.

(Aliás, a esta altura, qualquer um que fale em imunidade de rebanho produzida naturalmente pelo Sars-CoV-2 deveria estar na cadeia por crime contra a saúde pública. Um beijo, Osmar TerraPlana!)

A única variável capaz de cortar transmissões, internações e óbitos no cenário europeu foi o lockdown. Caso encerrado. Os números europeus pioraram de novo, voltando a ultrapassar os do Brasil, por um motivo muito, muito simples: relaxaram demais e ainda não tinham vacina.

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Na comunicação pública sobre a Covid-19, fomos derrotados https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/04/na-comunicacao-publica-sobre-a-covid-19-fomos-derrotados/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2021/01/04/na-comunicacao-publica-sobre-a-covid-19-fomos-derrotados/#respond Mon, 04 Jan 2021 20:37:59 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/coronitos.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6479 É difícil não ficar meio arrasado quando penso no relativo otimismo que tomou conta de mim e de muitos colegas, jornalistas de ciência e divulgadores científicos, quando ficou claro o tamanho do desafio que seria cobrir a pandemia de Covid-19 em março do ano passado. Achávamos que realmente seria possível fazer a diferença para o público trazendo informação de qualidade, embasada em ciência séria. Hoje (aliás, ao longo dos últimos vários meses), a minha sensação é de derrota quase completa. Eu me sinto um fracasso total. Falhamos.

Em março de 2020, o argumento que nos dava um grau considerável de esperança era este: numa situação como a que a gente está vivendo, o negacionismo seria inviável. É fácil minimizar ou negar a existência do aquecimento global quando os efeitos mais catastróficos da mudança climática causada pelo homem ainda estão a décadas de se concretizarem claramente. Já o tsunami do coronavírus engole as pessoas na escala de tempo de poucas semanas ou, no máximo, alguns meses, raciocinávamos então. Chegará uma hora em que a negação vai se tornar impossível — algo como gritar “Nem doeu!” depois de levar uma martelada na cabeça que tirou sangue e pode ter fraturado o crânio.

Tolinhos. Subestimamos o quanto as pessoas são capazes de viver em negação. O Brasil nunca tinha tido um movimento antivacinação de massas — antes, eram poucos bichos-grilos endinheirados os que fugiam de vacinas. No momento mais perigoso possível, um movimento desse tipo acaba de florescer, pelo que indicam as pesquisas de opinião.

O pior de tudo na sensação de desamparo, ao menos do meu ponto de vista, é não saber como fazer uma correção de rota na comunicação pública sobre o coronavírus, ou mesmo se uma correção desse tipo é possível. Precisamos tentar outro caminho, mas não faço ideia de qual ele seria. E, como estamos falando de uma doença infecciosa que depende primordialmente dos contatos sociais para continuar se espalhando, não adianta cruzar os braços e dizer que “Darwin cuida” de quem não quiser se proteger. Ou a imensa maioria de nós põe a mão na consciência, ou 200 mil mortos serão só o começo.

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Meus livros lidos em 2020, da divulgação científica à ficção científica https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/31/meus-livros-lidos-em-2020-da-divulgacao-cientifica-a-ficcao-cientifica/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/31/meus-livros-lidos-em-2020-da-divulgacao-cientifica-a-ficcao-cientifica/#respond Thu, 31 Dec 2020 15:46:58 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2019/12/Aleppo_Codex_Joshua_1_1-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6474 Nunca tinha feito o exercício de anotar todos os livros que li durante um ano inteiro. Em 2020, chegou a hora de fazê-lo. Sem mais delongas, apresento ao gentil leitor o resultado das minhas lides literárias deste Ano da Peste. Eis a lista:

1)Dogsbody, Diana Wynne Jones
2)Impérios, Jane Burbank e Frederick Cooper
3)The Testaments, Margaret Atwood
4)Fields of Blood, Karen Armstrong (releitura)
5)Fragile Things, Neil Gaiman (releitura)
6)Homens Elegantes, Samir Machado de Machado
7)Se questo è un uomo, Primo Levi
8)Paletó e Eu, Aparecida Vilaça
9)The Ministry of Truth, Dorian Lynskei
10)Human Diversity, Charles Murray
11)Coraline, Neil Gaiman (releitura)
12)The Tombs of Atuan, Ursula K. Le Guin (releitura)
13)Martinho Lutero: Renegado e Profeta, Lyndal Roper
14)The Farthest Shore, Ursula K. Le Guin (releitura)
15)Sir Gawain and the Green Knight, Pearl and Sir Orfeo, anônimo, tradução de J.R.R. Tolkien (releitura)
16)Big Gods, Ara Norenzayan (releitura)
17)The Greatest Show on Earth, Richard Dawkins
18)A Guerra do Paraguai, Luiz Octavio de Lima
19)A Abolição do Homem, C.S. Lewis
20)A Evolução Improvável, William von Hippel
21)The King Must Die, Mary Renault (releitura)
22)The Bull From the Sea, Mary Renault (releitura)
23)Ebola, David Quammen
24)The Ocean At the End of the Lane, Neil Gaiman (releitura)
25)Spillover, David Quammen
26)The Daughter of Odren, Ursula K. Le Guin
27)The Word for World Is Forest, Ursula K. Le Guin
28)Gilead, Marilynne Robinson
29)Conquerors, Roger Crowley
30)These Truths, Jill Lepore
31)Dominion, Tom Holland
32)The Penguin History of New Zealand, Michael King
33)Seawall, a Life, Simon Stephens e Nick Payne
34)The Rules of Contagion, Adam Kucharski
35)Good Omens, Neil Gaiman e Terry Pratchett (releitura)
36)O Cadete e o Capitão, Luiz Maklouf Carvalho
37)The Darkening Age, Catherine Nixey
38)How to Defeat a Demon King in Ten Easy Steps, Andrew Rowe
39)The Triumph of Christianity, Bart D. Ehrman (releitura)
40)Tales From Earthsea, Ursula K. Le Guin
41)Superior, Angela Saini
42)Kindred, Octavia E. Butler
43)The Absolute Brightness of Leonard Pelkey, James Lecesne
44)A Primate’s Memoir, Robert Sapolsky (releitura)
45)The Life and Times of Prince Albert, Patrick Alitt
46)Five Ways to Forgiveness, Ursula K. Le Guin
47)Herbie, Rich Cohen
48)The Silk Roads, Peter Frankopan
49)Truth and Fiction in The Da Vinci Code, Bart Ehrman
50)O espetáculo das raças, Lilia Moritz Schwarcz
51)The Greek and Persian Wars, John R. Hale
52)A Grown-Up Guide to Dinosaurs, Ben Garrod
53)A Maré Humana, Paul Morland
54)Tehanu, Ursula K. Le Guin (releitura)
55)Imune, Matt Richtel
56)Did Jesus Exist?, Bart Ehrman (releitura)
57)Fire From Heaven, Mary Renault
58)In Search of Black History, Bonnie Greer
59)The Sandman I, Neil Gaiman
60)The Other Wind, Ursula K. Le Guin (releitura)
61)Charles de Gaulle: Uma Biografia, Julian Jackson
62)Against Empathy, Paul Bloom
63)Churchill: Caminhando Com o Destino, Andrew Roberts
64)O Verdadeiro Criador de Tudo, Miguel Nicolelis
65)Wolf Hall, Hilary Mantel
66)The Community of The Beloved Disciple, Raymond E. Brown
67)Summerland, Michael Chabon (releitura)
68)Ender’s Game Alive, Orson Scott Card
69)Caffeine, Michael Pollan
70)Pops, Michael Chabon
71)War! What is It Good For?, Ian Morris
72)Children of Ash and Elm, Neil Price
73)How Jesus Became God, Bart Ehrman (releitura)
74)Os Fuzis e as Flechas, Rubens Valente
75)The Call of The Wild, Jack London
76)The Inklings, Humphrey Carpenter (releitura)
77)Talking to the Enemy, Scott Atran
78)The Wave in the Mind, Ursula K. Le Guin
79)Almost Human, Lee Berger e John Hawks
80)H is for Hawk, Helen MacDonald
81)My Man Jeeves, P. G. Wodehouse
82)Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll
83)Floresta é o Nome do Mundo, Ursula K. Le Guin (releitura)
84)The Dispatcher, John Scalzi
85)Como as Democracias Morrem, Steven Levitsky & Daniel Ziblatt
86)Winnie-the-Pooh, A. A. Milne
87)The Face of Battle, John Keegan
88)No Time to Spare, Ursula K. Le Guin
89)Up from Slavery, Booker T. Washington
90)Beren e Lúthien, J.R.R. Tolkien (releitura)
91)Peter Pan, J.M. Barrie
92)The Space Race, Colin Brake et al.
93)A Revolta da Vacina, Nicolau Sevcenko
94)Hilary Mantel, Bring Up The Bodies
95)Treasure Island, Robert Louis Stevenson
96)The Telling, Ursula K. Le Guin
97)Os Carbonários, Alfredo Sirkis
98)Frankenstein, Mary Shelley
99)A Guerra, Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias
100)A Connecticut Yankee in King Arthur’s Court, Mark Twain
101)Warlords of Ancient Mexico, Peter G. Tsouras
102)A República das Milícias, Bruno Paes Manso
103)The Adventures of Tom Sawyer, Mark Twain
104)Vamos Sonhar Juntos, Papa Francisco e Austen Ivereigh
105)Seventh Son, Orson Scott Card
106)How to Argue With a Racist, Adam Rutherford
107)Palmares, Flavio dos Santos Gomes
108)Heaven and Hell, Bart D. Ehrman
109)The WEIRDest People in The World, Joseph Henrich
110)Among Others, Jo Walton
111)The Big Melt, Jeff Goodell
112)The Causes of War & The Spread of Peace, Azar Gat

Algumas notas rápidas:

1)Desse total, 12 livros, ou um décimo, são da gênia Ursula K. Le Guin. Isso é que é tempo bem gasto, senhoras e senhores;

2)Boa parte disso foi no formato audiobook, embora eu não consiga quantificar exatamente a fração;

3)Ficção não é perda de tempo: alimenta a criatividade e, principalmente, o coração;

Um Ano Novo menos pior pra todos nós!

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Quando os europeus eram considerados atrasados pelo seu clima https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/14/quando-os-europeus-eram-considerados-atrasados-pelo-seu-clima/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/14/quando-os-europeus-eram-considerados-atrasados-pelo-seu-clima/#respond Mon, 14 Dec 2020 15:57:54 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/View_of_Toledo_AD_976-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6469 Volta e meia alguém ressuscita a conversinha mole de que os habitantes de nações quentes (tipo esta aqui em que estamos) são mais pobres/atrasados/preguiçosos etc. do que os dos países temperados por causa do clima. Sabe como é, calor tropical dá uma leseira, né?

Ahã. Senta lá, Claudia.

Depois de ouvir algumas vezes esse papo, foi uma grata surpresa ver que, no século 11 da Era Cristã, um escritor muçulmano usou exatamente esse argumento do determinismo climático DE FORMA INVERSA. Afinal, no tempo dele, a frígida Europa, nas latitudes temperadas da Inglaterra, Alemanha etc. é que era social, cultural e tecnologicamente atrasada perto do mundo islâmico. Vejam só o que ele diz:

“As outras pessoas desse grupo [o dos bárbaros], que não cultivaram as ciências, são mais semelhantes a feras do que a homens. Pois para aqueles que vivem mais ao norte, entre o último dos sete climas e os limites do mundo habitado, a distância excessiva do sol em relação à linha do zênite faz com que o ar se torne frio, e o céu, nebuloso. Os temperamentos deles, portanto, são frígidos, seus humores, cruentos, seus ventres, fartos, sua cor, pálida, seus cabelos, longos e escorridos. Assim, falta-lhes agudeza de compreensão e clareza de inteligência, e são sobrepujados pela ignorância e apatia, falta de discernimento e estupidez.”

Aqui, os molengas são os que vivem no frio, e não os que vivem em lugares quentes. As palavras acima foram escritas por Said ibn Ahmada, em 1068, na cidade espanhola de Toledo.

O mundo não gira, gentil leitor — ele capota mesmo.

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Darwin e Deus em debate no Centro de Estudos do Instituto Oswaldo Cruz https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/11/darwin-e-deus-em-debate-no-centro-de-estudos-do-instituto-oswaldo-cruz/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/11/darwin-e-deus-em-debate-no-centro-de-estudos-do-instituto-oswaldo-cruz/#respond Fri, 11 Dec 2020 21:47:49 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/adamah-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6465 E vamos a mais uma live protagonizada por este escriba que vos fala na pandemia! Desta vez, o pessoal do Instituto Oswaldo Cruz (RJ), da Fiocruz, gentilmente me convidou para falar justamente sobre a experiência de fazer o blog e de falar sobre ciência e religião ao mesmo tempo para esta Folha. O vídeo está abaixo.

Para os leitores que não acompanham o blog há tanto tempo, creio que é uma boa oportunidade para entender por que tive a ideia maluca de criá-lo e quais são as referência e a lógica que utilizo para fazer os posts por aqui. Espero que gostem!

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Participamos do Papo Astral com o grande Marcelo Gleiser! https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/07/participamos-do-papo-astral-com-o-grande-marcelo-gleiser/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2020/12/07/participamos-do-papo-astral-com-o-grande-marcelo-gleiser/#respond Mon, 07 Dec 2020 15:44:53 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/Marcelo-Gleiser-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=6460 Eu e meu amigo Pirula, com quem escrevi o pequeno best-seller “Darwin Sem Frescura”, acabamos não levando o Prêmio Jabuti na categoria Ciência, mas pelo menos tivemos a honra de ser entrevistados pelo grande Marcelo Gleiser, físico e divulgador de ciência dos mais importantes nas últimas décadas para o público brasileiro.

Conversamos com o professor Marcelo no Papo Astral, quadro de seu canal de YouTube. O resultado você pode conferir abaixo.

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