Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O que distingue uma espécie inteligente de um animal? Compaixão https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/10/02/o-que-distingue-uma-especie-inteligente-de-um-animal-compaixao/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/10/02/o-que-distingue-uma-especie-inteligente-de-um-animal-compaixao/#respond Tue, 02 Oct 2018 16:33:59 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/1024px-Scott_Card-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5378 Ou, pelo menos, é o que creio que aprendi ao ler “Speaker for the Dead” (em português do Brasil ficou “Orador dos Mortos”), do escritor de ficção científica americano Orson Scott Card (em primeiro plano na foto acima). O sujeito lançou uma série de polêmicas nos últimos anos com declarações homofóbicas e uma oposição meio biruta ao governo Obama, mas “Speaker for the Dead” é um primor. É o que a ficção científica realmente deveria ser: força narrativa e profundidade filosófica mescladas num todo viciante. Mas o que me pegou pelos colarinhos foi a pseudoepígrafe do livro, um trecho de outro “livro ficcional dentro do livro” que é uma reflexão sobre o que significa ser humano, e ser uma criatura racional, num Universo tão vasto quanto o nosso:

“Já que ainda não estamos totalmente confortáveis com a ideia de que pessoas do vilarejo vizinho são tão humanas quanto nós mesmos, é presunçoso ao extremo supor que algum dia seríamos capazes de observar criaturas sociáveis e criadoras de ferramentas que surgiram de outras trajetórias evolutivas e ver não feras, mas irmãos, não rivais, mas companheiros de peregrinação rumo ao santuário da inteligência.

Contudo, é isso o que vejo, ou o que anseio por ver. A diferença entre ‘raman’ [criatura racional] e ‘varelse’ [animal não racional] não está na criatura julgada, mas na criatura que julga. Quando declaramos que uma espécie diferente é ‘raman’, não significa que eles atravessaram um limiar de maturidade moral. Significa que nós o atravessamos.”

Em dias como estes que vivemos, pensar nisso me conforta um pouco. Quem não mira no alto não acerta nem no meio.

]]>
0
Arte para Sagan https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/10/11/arte-para-sagan/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/10/11/arte-para-sagan/#respond Tue, 11 Oct 2016 14:11:03 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/10/5a.-Paisagem-com-pedras-taken-by-Viking_recortado-alta-e1476194912166-180x58.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3817 Se você se interessa por ciência em alguma medida, sou capaz de apostar que tem dedo do saudoso astrônomo Carl Sagan (1934-1996) na jogada. Uma exposição de arte em São Paulo que estreia neste dia 14, sexta-feira, celebra justamente o legado do velho Sagan, criador da versão original da série “Cosmos” e de livros clássicos como “O Mundo Assombrado pelos Demônios” e “Pálido Ponto Azul”.

Recriação artística de uma imagem do Telescópio Espacial Hubble (Crédito: Divulgação)
Recriação artística de uma imagem do Telescópio Espacial Hubble (Crédito: Divulgação)

E, por falar nesse segundo livro, as 20 obras do artista Ricardo Alves receberam o título coletivo “Desse Pálido Ponto” (para quem não conhece a referência, essa é a expressão cunhada por Sagan para se referir à Terra vista a partir dos confins do Sistema Solar).  Pareceu-me especialmente simpática a recriação de uma paisagem marciana feita por Alves (que está no alto deste post). O texto e a curadoria são de Thais Rivitti, e a visita à mostra é gratuita. Confiram mais detalhes sobre locais e horários abaixo e boa viagem cósmica a todos!

Serviço:

Desse pálido ponto – Ricardo Alves
Data: de 14 de outubro a 5 de novembro
Horário: de terça a sexta-feira das 10h às 19h, aos sábados das 10h às 17h
Entrada: gratuita
Endereço: Galeria Sancovsky – Praça Benedito Calixto, 103, São Paulo – SP.
www.galeriasancovsky.com
(11) 3086 0784 | (11) 3086 0783

——————–

Visite o novo canal do blog no YouTube!

Conheça meus livros de divulgação científica

Conheça e curta a página do blog Darwin e Deus no Facebook

Quer saber quem sou? Confira meu currículo Lattes

Siga-me no Twitter ou no Facebook

]]>
0
O Mensageiro Sideral entre nós! https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/05/17/o-mensageiro-sideral-entre-nos/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/05/17/o-mensageiro-sideral-entre-nos/#respond Tue, 17 May 2016 19:28:12 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/05/mensageiro-e1463496717882-180x51.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3662 Pois é, recebi a ilustre visita de ninguém menos do que nosso querido Mensageiro Sideral, o jornalista de ciência Salvador Nogueira, que teve a gentileza de bater um rápido papo comigo sobre as possibilidades de vida extraterrestre nesta nossa querida galáxia. Confira como foi no novo vídeo do canal do blog no YouTube, cá embaixo — com participação especial do meu filhote, vejam só.

——————–

Visite o novo canal do blog no YouTube!

Conheça meus livros de divulgação científica

Conheça e curta a página do blog Darwin e Deus no Facebook

Quer saber quem sou? Confira meu currículo Lattes

Siga-me no Twitter ou no Facebook

]]>
0
Comida de micróbio marciano https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/09/28/comida-de-microbio-marciano/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/09/28/comida-de-microbio-marciano/#respond Mon, 28 Sep 2015 20:17:33 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2928 A esta altura do campeonato, você só não ficou sabendo ainda da possível descoberta de água corrente sazonal em Marte se… bem, se você literalmente mora em Marte e não possui ao menos um radinho de pilha. (Para mais informações qualificadíssimas sobre o achado da Nasa, faça um favor a si mesmo e visite o blog Mensageiro Sideral, do meu amigo e colega Salvador Nogueira.) Neste breve post, vou me arriscar na seara do Salvador para tentar abordar a biologia e a bioquímica — especulativas ainda, claro — da coisa.

Ocorre que as supostas “águas de Marte”, ao que tudo indica, possuem alta concentração de sais conhecidos pelos singelos nomes de perclorato de sódio e perclorato de magnésio, entre outros. Desempacotando um pouco a nomenclatura: “perclorato” nada mais é que o nome dado à parte eletricamente negativa desses sais, que contém um átomo do elemento químico cloro (daí o nome) e quatro átomos de oxigênio. Esse treco é tóxico para seres humanos, podendo causar problemas de tireoide ou mesmo de pressão alta, segundo alguns estudos. Sinal vermelho para a suposta vida marciana, portanto?

Não se estivermos falando de bactérias e outros micróbios, como as misteriosas Archaea. Existem mais de 40 linhagens diferentes de micro-organismos que “comem” perclorato, ou seja, conseguem usá-lo em seu metabolismo.

Em geral, isso é feito graças a enzimas especiais, ou seja, moléculas que aceleram reações químicas no organismo dos micróbios, ajudando-os a “quebrar” moléculas complexas em pedaços menores. As tais enzimas, a perclorato-redutase e a clorito-dismutase, servem para fatiar esses sais, liberando os átomos de cloro e, veja você, o gás oxigênio, aquele mesmo que respiramos. Além da fotossíntese, realizada pelas plantas e por outros micróbios, o “desmanche” dos percloratos é um dos poucos processos biológicos que produzem oxigênio.

Fica aí, portanto, a dica para futuras missões da Nasa (é óbvio que eles já devem saber disso por lá): talvez farejar pequeninas quantidades de oxigênio perto dos “ribeirões” de Marte seja um caminho para detectar vida microbiana comendo percloratos por lá.

ADENDO RÁPIDO: A Nasa tem afirmado que as concentrações salinas dos riachos temporários marcianos são tão altas que nenhum micróbio terrestre aguentaria o tranco. Pode ser, mas e um micróbio nascido e criado em Marte?

———————

Conheça meu novo livro — “Deus: Como Ele Nasceu”, uma história da crença em Deus das cavernas ao Islã. Disponível nos sites da Livraria Cultura e da Saraiva

Conheça e curta a página do blog Darwin e Deus no Facebook

Quer saber quem sou? Confira meu currículo Lattes

Siga-me no Twitter

]]>
0
Blogueiro convidado: os mares de Titã https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/08/08/blogueiro-convidado-os-mares-de-tita/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/08/08/blogueiro-convidado-os-mares-de-tita/#respond Fri, 08 Aug 2014 17:31:55 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=1744 Eu já disse pra vocês como é legal contar com leitores inteligentes e criativos, né? Pois tive mais uma grata surpresa nesta semana, quando um rapaz de apenas 17 anos, o Augusto César da Silva, que está terminando o ensino médio na Escola Estadual São José, em Ibiá (MG), resolveu me escrever, meio que do nada, oferecendo para publicação um texto que escreveu sobre a possível existência de formas rudimentares de vida em Titã, a superlua de Saturno.

Fico feliz em dizer que o texto está caprichado, ainda mais quando se considera a juventude do missivista (como diziam lá nos anos 1930). Portanto, nada mais justo, como um pequeno incentivo, que eu o publique por aqui e confira ao Augusto o título de blogueiro convidado. Ele me contou, por e-mail, que gostaria de fazer medicina, especializando-se na área de genética humana, ou então física. Seja como for, gostaria de pedir ao rapaz publicamente que não deixe totalmente de lado sua capacidade de escrever sobre ciência de forma correta e gostosa de ler.

Sem mais delongas, vamos ao texto dele! Fiz mínimas modificações editoriais por conta de errinhos de digitação.

Titã: um novo lar alaranjado

Titã, a maior lua de Saturno, possui características curiosamente semelhantes às da Terra primitiva, com intensa atividade geológica, uma atmosfera densa e uma complexa química com corpos líquidos em sua superfície. Além disso, há quantidade significativa de hidrocarbonetos – compostos orgânicos essenciais no desenvolvimento dos primeiros seres vivos em nosso planeta-, o que alimenta a hipótese de haver algum tipo de vida pulsando na atmosfera titânica. Essas características são fascinantes e fazem jus ao nome desse satélite. Titã é extraordinária. Desde que Christiaan Huygens, em uma noite de 1655, surpreendeu-se ao ver uma grande lua além dos anéis de Saturno, despertou-se especial interesse entre cientistas e curiosos sobre os mistérios guardados por Titã.

Bonito flagra do sistema saturniano: anéis de Saturno com Titã ao fundo, encimados pelo satélite Epimeteu. (Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute)
Bonito flagra do sistema saturniano: anéis de Saturno com Titã ao fundo, encimados pelo satélite Epimeteu. (Crédito: NASA/JPL/Space Science Institute)

A sonda Cassini a tem observado por quase dez anos, mostrando-nos que ainda não sabemos tudo sobre ela. Torna-se evidente que devemos nos preocupar em estudar mais sobre esse misterioso satélite se quisermos avançar no conhecimento do Universo e da vida cósmica. Estudos revelaram que o hidrogênio que existe em abundância na atmosfera titânica desaparece quase por completo quando chega à superfície, fortalecendo a possibilidade de que pequenos organismos vivos o estão respirando.

A descoberta da vida em outro canto do Universo seria uma das grandes descobertas do século e da humanidade. Afinal, o fato de que a vida possa ocorrer em condições diferentes daquilo que consideramos ‘habitável’ e o fato de que os ácidos nucleicos podem não ser as únicas biomoléculas no Universo capazes de codificar a vida, não seria um tipo de Santo Graal da astrobiologia?

Recentemente, instrumentos a bordo do orbitador Cassini capturaram imagens de regiões escuras detectadas no hemisfério Norte de Titã, indicando a descoberta de lagos e “mares” de hidrocarbonetos em sua superfície. Novas imagens de sua região polar norte podem nos render resultados surpreendentes.

Podemos obter fortes evidências que respondam à pergunta que assombra a psique humana: existe vida extraterrestre? Além de pôr um ponto final nos debates sobre a existência de vida em Titã, essa descoberta poderia alterar não só o curso de futuras missões espaciais, mas também a nossa concepção da vida como um fenômeno cósmico. Estamos muito longe de desvendar todas as faces do “dodecaedro de Platão”. Estamos muito longe de responder a todas as questões existenciais e científicas. Talvez nunca saibamos o que há atrás da cortina da criação do Universo e de nós mesmos. Mas podemos desvendar o que é o brilho especial na superfície titânica. Não podemos esperar que o vento solar a que Titã está diretamente exposta nos traga essa resposta. Muitos cientistas acreditam que Titã viaje gritando pela Via Láctea a resposta para o mistério da vida extraterrestre, mas ainda não a ouvimos. Saturno é um grande agricultor. E pode estar cultivando em Titã a mais bela e excitante das culturas em todo o cosmos: a vida.

]]>
0
O brilho de outros sóis https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/01/07/o-brilho-de-outros-sois/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/01/07/o-brilho-de-outros-sois/#respond Tue, 07 Jan 2014 13:41:48 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=915 Peço licença para adentrar um pouco (na verdade, um muito) a seara do blog do colega e grande amigo Salvador Nogueira (se você ainda não conhece o seu Mensageiro Sideral, sugiro que clique aqui neste instante). É que, como sou um sujeito lerdo, só atinei agora para um fato óbvio: nos últimos 15 anos (mais ou menos o meu tempo de vida profissional como jornalista de ciência), uma revolução científica aconteceu, e das grandes, e eu ainda não tinha me dado conta plena do conjunto da obra.

Estou falando da descoberta de planetas fora do Sistema Solar, coisa que durante muito tempo foi simples especulação de ficção científica. Foi só em 1995 que o primeiro exoplaneta (como esse tipo de astro é conhecido) teve sua existência confirmada. Eu me lembro do tempo em que praticamente qualquer descoberta de exoplaneta era notícia. Hoje, esse número chega a 1.055 — e um único telescópio espacial, o Kepler, da Nasa, já achou mais de 3.500 outros “planetas candidatos”, cuja existência precisa ser confirmada com mais observações. Como brinca a colega e amiga Giuliana Miranda, descoberta de exoplaneta agora só é notícia se acharem 200 de uma vez. Se as estimativas atuais estiverem corretas, existem 100 bilhões de planetas só na nossa galáxia, dos quais mais de 10 bilhões devem ser do tamanho da Terra, orbitando a zona habitável (a faixa onde a água é líquida, e a vida, possível) de sóis parecidos com o nosso.

Concepção artística da nossa galáxia repleta de sistemas estelares. (Crédito: ESO)
Concepção artística da nossa galáxia repleta de sistemas estelares. (Crédito: ESO)

Permita-me ser repetitivo, porque é importante: se esse novo conhecimento não é uma revolução científica, então, bicho, eu realmente não sei o que seria.

Sim, esses planetas ainda estão absurdamente distantes de nós, mesmo se quiséssemos enviar apenas sondas robóticas até eles. Mas, mesmo usando apenas telescópios baseados na nossa órbita, muito provavelmente a próxima década verá um acúmulo cada vez maior de informações sobre esses astros ainda tão misteriosos, inclusive sobre a composição de suas atmosferas e sobre a possibilidade de esses corpos celestes (é, expressão meio com cheiro de naftalina, eu sei) abrigarem vida.

E é claro que isso terá um impacto monstruoso sobre como pensamos a origem da própria vida na Terra. Até hoje, só dispomos de um único “filme da evolução”. Só sabemos (por enquanto, em linhas muito gerais) em que condições a vida surgiu num único planetinha. Qualquer cientista será capaz de te dizer que uma amostragem com um único exemplar (n = 1, como escrevem nos papers, ou artigos científicos) não é a coisa mais confiável do mundo.

Mas, com milhares de exoplanetas para estudar, dá para tentar responder de forma mais embasada todo tipo de pergunta. Uma lua grande como a nossa é importante por estabilizar a órbita ou pode ser dispensada? Há uma força gravitacional ótima? Qual a melhor densidade atmosférica? E a atividade vulcânica/tectônica? Enfim, finalmente estamos escapando da maldição do n = 1, mesmo que demoremos para achar evidências definitivas de vida “lá fora”.

Por tudo isso, um brinde à revolução que já aconteceu — e outro, de copo ainda mais transbordante, à revolução que virá.

]]>
0