Darwin e Deus

Brasileiros descobrem incêndio florestal na Antártida da Era dos Dinossauros

Reinaldo José Lopes — Mon, 25 Oct 2021 13:55:32 +0000

A configuração atual dos continentes faz a gente esquecer que a Antártida nem sempre foi esse império do gelo aparentemente eterno. Na Era dos Dinossauros, o lugar era um continente como qualquer outro, com florestas e fauna em seu interior e antigas conexões com a América do Sul, a Austrália e outras partes do finado supercontinente conhecido como Gondwana. Uma pesquisa feita por cientistas brasileiros, cujo resumo você conferir neste link, recoloca a Antártida em seu contexto antigo ao flagrar um incêndio florestal de 75 milhões de anos por lá.

Encabeçado por Flaviana Jorge de Lima, da Universidade Federal de Pernambuco, o trabalho conta ainda com pesquisadores do Museu Nacional da UFRJ e de outras instituições do Brasil. O carvão fóssil que a equipe encontrou no território polar pôde ser associado até mesmo ao grupo de árvores que existiam na floresta antártica do período — no caso, parentes das nossas araucárias.

Como costuma acontecer em outras publicações envolvendo o pessoal do Museu Nacional, o trabalho é ilustrado pelo talentoso paleoartista Maurilio Oliveira, cujo desenho você pode apreciar no alto deste post.

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Lucy vai a Guarulhos na exposição Do Macaco ao Homem

Reinaldo José Lopes — Sat, 16 Oct 2021 13:55:47 +0000

Se você está em busca de algo bacana para fazer neste final de semana na Grande São Paulo, recomendo fortemente que você coloque uma máscara de boa qualidade (a pandemia não acabou, afinal de contas) e dê uma passada na exposição “Do Macaco ao Homem — Transições”, que fica até o dia 30 de outubro de 2021 no Internacional Shopping, em Guarulhos. É a sua chance de ver, por exemplo, uma reprodução fidelíssima do esqueleto acima, a célebre Lucy, de 3,2 milhões de anos.

Lucy era membro da espécie de primata bípede Australopithecus afarensis, é um ícone da história evolutiva dos nossos ancestrais, e é apenas uma das atrações da mostra, que conta ainda com reproduções de crânios e ferramentas de pedra e bustos dos hominínios (membros da linhagem humana).

A curadoria é do bioantropólogo Walter Neves, professor sênior da USP e um dos expoentes dessa área de pesquisa no país. E outros shoppings do país deverão receber esse pequeno tesouro. Mais informações aqui. O horário de visitação é de 10h às 22h.

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Grupo acha minicrocodilo de 80 milhões de anos em MG

Reinaldo José Lopes — Sat, 11 Sep 2021 14:00:56 +0000

A diversidade de parentes extintos dos crocodilos e jacarés no Brasil da Era dos Dinossauros nunca decepciona. E eis que temos um novo integrante pra trupe, cujo nome é ideal caso você esteja precisando de um novo trava-língua. Trata-se do Eptalofosuchus viridi, achado onde hoje fica Uberaba (MG). Se preferir um nome mais simples, pode chamá-lo de “crocodilo-das-sete-colinas”.

Era pequenininho o vivente — não passava de 40 cm de comprimento –, alimentava-se tanto de plantas quanto de pequenos animais e tinha hábitos terrestres.

A descrição da espécie foi capitaneada por Thiago Marinho, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. A bela ilustração do bicho é de autoria de Júlia d’Oliveira.

Você pode ler o resumo do artigo científico original descrevendo a espécie clicando aqui.

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Pequenos cavadores de tocas na Era dos Dinossauros chinesa

Reinaldo José Lopes — Tue, 27 Apr 2021 19:23:46 +0000

Confesso que estou completamente apaixonado pela imagem acima — uma das reconstruções mais simpáticas que já vi da Era dos Dinossauros na atual China. Dinossauro espetacular não falta por lá, mas desta vez os astros são os bichinhos que o gentil leitor está vendo debaixo da terra.

São eles o Fossiomanus sinensis (o maior, em cima) e o Jueconodon cheni (embaixo), descobertos pela equipe de Jin Meng, do Museu Americano de História Natural, na província de Liaoning, e com cerca de 120 milhões de anos de idade.

O primeiro media 32 cm, o segundo 18 cm. E, como a reconstrução artística indica claramente, ambos tinham hábitos fossoriais, sendo claramente cavadores, como os tuco-tucos ou toupeiras de hoje. Curiosamente, essas adaptações evoluíram de forma independente: o F. sinensis, apesar da cara de mamífero, pertencia a um grupo mais primitivo de répteis semelhantes a mamíferos, os cinodontes tritilodontídeos; já o J. cheni era mamífero mesmo, embora também muitíssimo primitivo, bem distante dos grupos atuais de bichos peludos.

A descrição dos bichos está neste artigo na revista científica Nature. Peculiaridades no número das vértebras de ambos ajudam a entender como surgiu a diversidade de formas corpóreas dos mamíferos de hoje.

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Com belas imagens, livro resume novos achados sobre dinos no Brasil

Reinaldo José Lopes — Wed, 06 Jan 2021 14:34:39 +0000

Tive o prazer de receber recentemente a belezura cuja capa o gentil leitor pode conferir acima: “Novos Dinos do Brasil”, escrito pelo professor Luiz E. Anelli e ilustrado por Julio Lacerda, publicado pela Editora Peirópolis. Para quem se interessa pela pré-história brasileira, o trabalho do professor Anelli (inclusive já laureado com o Prêmio Jabuti) deveria dispensar apresentações, tanto para adultos quanto para o público infanto-juvenil (que ele costuma privilegiar em seus livros, com razão).

Ocorre que, nas últimas décadas, tivemos uma explosão de pesquisas sobre a Era dos Dinossauros em território brasileiro, com a descrição de diversas novas espécies. O livro é uma fotografia do que se descobriu principalmente de 2010 para cá (daí o “novos”), com um texto ágil e simples, voltado para o público mais jovem. Do meu ponto de vista, foi especialmente prazeroso revisitar algumas espécies que eu vi “nascer” em artigos científicos dos últimos anos. Todos os bichos estão bem contextualizados em termos de parentesco, localização geográfica e temporal.

Um comentário rápido sobre as ilustrações: nos últimos anos, o Brasil também ganhou um bocado em quantidade e qualidade de paleoartistas, os responsáveis por recriar os ambientes do passado da Terra com conhecimento científico e imaginação. O trabalho de Julio Lacerda me pareceu interessantíssimo, algo no meio do caminho entre o hiper-realismo e a estilização mais divertida que se espera desse tipo de livro. Coisa fina. Vale conferir.

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Todos os abelissauros do Brasil numa imagem de “álbum de família”

Reinaldo José Lopes — Thu, 29 Oct 2020 15:34:15 +0000

É sempre uma alegria difícil de explicar ver o talentoso paleoartista Maurilio Oliveira recriando a fauna extinta do Brasil em cores vibrantes, mas a imagem acima é especial. São os três abelissauros brasileiros — dinossauros carnívoros caracterizados pelos curiosos calombos no crânio e pelas patas da frente curtíssimos – retratados na mesma imagem.

De cima para baixo, e também em ordem de tamanho, temos o Pycnonemosaurus, o Thanos e o Spectrovenator. Uma coisa que une esses bichos é o paleontólogo Rafael Delcourt, da Unicamp, que trabalhou na descrição de todos os animais e compartilhou essa bela imagem com seus seguidores no Twitter. Viva a pré-história brasileira!

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Descobridores do dino zumbi narram a história da criatura em vídeo

Reinaldo José Lopes — Mon, 19 Oct 2020 20:08:38 +0000

Como contei na minha coluna deste domingo, uma equipe de talentosos paleontólogos brasileiros acaba de revelar ao mundo a descoberta dos primeiros parasitas fossilizados dentro dos ossos de um dinossauro. Agora, dois dos participantes da pesquisa, o casal Aline Ghilardi e Tito Aureliano, resolveu contar em detalhes a saga do pobre titanossauro com osteomielite aguda em seu canal do YouTube:

Aproveite e assista a mais vídeos do canal Colecionadores de Ossos — o pessoal manda bem!

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Brasileiros descobrem crustáceo de 75 milhões de anos na Antártida

Reinaldo José Lopes — Thu, 13 Aug 2020 14:48:03 +0000

E os paleontólogos do Museu Nacional da UFRJ, apesar da tragédia que se abateu sobre a instituição em 2018, não param de produzir ciência. O simpático (ou aterrorizante, você decide) bicho acima é prova disso. O Hoploparia echinata é um lagostim da Era dos Dinossauros, com 75 milhões de anos. Os pesquisadores do mais antigo museu brasileiro, junto com colegas da Universidade Federal do Espírito, da Universidade Regional do Cariri (CE) e da Universidade do Contestado (SC), descreveram a nova espécie, cujos fósseis foram encontrados na ilha James Ross. O estudo sobre o bicho territorialista e predador está na revista científica Polar Research.

Os autores da pesquisa são Allysson Pinheiro, Antônio Saraiva, William Santana, Juliana Sayão, Rodrigo Figueiredo, Taissa Rodrigues, Luiz Carlos Weinschultz, Luiza Ponciano e Alexander Kellner.

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Fósseis revelam supergolfinho extinto que media 5 metros

Reinaldo José Lopes — Tue, 21 Jul 2020 14:44:00 +0000

Eis um bicho absolutamente aterrorizante, senhoras e senhores: o Ankylorhiza tiedemani, um golfinho que mais parecia um jacarezão e tinha mais ou menos o tamanho de uma fêmea adulta de orca (4,8 m). Os fósseis da criatura, com idade entre 30 milhões e 25 milhões de anos, foram achados na Carolina do Sul (EUA), e acabam de ser analisados em detalhes neste estudo, assinado pela equipe de Robert Boessenecker, da Faculdade de Charleston e do Museu de Paleontologia da Universidade da Califórnia e publicado na revista Current Biology.

Além da aparência completamente aterradora, o que o bichão tinha de especial? Bem, os detalhes do esqueleto e da dentição indicam que se tratava de um nadador relativamente veloz que conseguia capturar presas de grande porte (peixes-bois, tartarugas-marinhas etc.). Ou seja, tudo indica que a semelhança com as orcas não ficava só no tamanho: o nicho ecológico — ou seja, o estilo de vida da espécie — era basicamente o mesmo. Esses dentes esquisitos na frente? Podem ter sido usados para abalroar as presas ou então em disputas entre os membros da espécie.

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Estudo revela minúsculo tio-avô de dinossauros e pterossauros

Reinaldo José Lopes — Tue, 07 Jul 2020 13:53:49 +0000

A criaturinha cuja reconstrução artística você pode apreciar acima era tão pequena que talvez esteja aparecendo na tela do seu computador com um tamanho maior do que o real. Medindo apenas 10 cm de altura, o Kongonaphon kely (algo como “minúsculo matador de insetos” numa mistura de grego e malgaxe) seria um representante das antigas linhagens de vertebrados que existiam antes que os dinossauros e os pterossauros (répteis voadores) propriamente ditos surgissem. É o que argumentam os descobridores do bichinho na última edição da revista científica PNAS.

Para entender exatamente o que isso significa, pense nos galhos de uma árvore e na maneira como eles se bifurcam. Em determinado momento da evolução dos répteis, um galho se bifurcou, contendo os ancestrais de todos os dinossauros e pterossauros. Esse galho continuou crescendo e, antes que ele se bifurcasse de novo e desse origem a dois novos ramos — o ramo dos dinos e o ramo dos pterossauros –, surgiu um galhinho lateral onde está aninhado o nosso amigo Kongonaphon kely. Daí a metáfora que usei no texto, a de que ele seria um dos “tios-avôs” de todos os dinossauros e pterossauros — já que não se trata de um ancestral direto. (O nome do grupo mais amplo que engloba todas essas espécies, aliás, é Ornithodira.) A idade estimada para a espécie é de 240 milhões de anos.

Quais as implicações disso? Bom, a equipe responsável pela descoberta, liderada por Christian Kammerer, do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte (EUA), propõe algumas hipóteses interessantes sobre o bichinho:

1)Os fósseis que documentam esse momento de transição e divergência entre as linhagens de dinossauros e pterossauros são muito raros (alguns talvez estejam aqui no Brasil e na Argentina, aliás). Se outras espécies também eram minúsculas como o animal de Madagáscar, a escassez talvez seja explicada pelo tamanho. Fósseis muito pequenos, afinal, preservam-se menos, por serem delicados;

2)Se essa miniaturização, como eles dizem, for uma regra mais geral, essa poderia ser uma explicação para a origem do voo dos pterossauros, já que bichos menores teriam mais facilidade para desenvolver as adaptações essenciais para o voo, em parte por serem mais leves. A mesma coisa aconteceu quando alguns dinossauros se tornaram aves — as espécies menores foram as que desenvolveram o voo;

3)O tamanho minúsculo também dificulta o controle da temperatura corporal. Seria outro motivo para desenvolver sistemas de regulação desse calor do corpo, como filamentos ou penas, e tanto pterossauros quanto dinossauros tinham diferentes formas de cobertura como essas. Assim, seria a miniaturização o motivo inicial para os dinos penosos e os pterossauros “peludos”? Algo assim estaria na origem dos mamíferos?

Questões que ainda estão longe de ser respondidas, é claro. O trabalho original, em inglês, pode ser lido aqui.

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