Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Lindos manuscritos bíblicos! https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/05/10/lindos-manuscritos-biblicos/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/05/10/lindos-manuscritos-biblicos/#respond Tue, 10 May 2016 13:22:28 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/05/abrebib-180x51.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3651 Acabo de ficar sabendo de uma preciosidade disponível totalmente de grátis (como dizia o pessoal do Casseta) na internet. O blog gringo OTTC (sigla inglesa de “crítica textual do Antigo Testamento”, ou seja, o pessoal que analisa as diferentes versões dos manuscritos da Bíblia) está fazendo uma compilação de uma quantidade incrível de antigos textos da Bíblia que podem ser acessados via web, frequentemente em altíssima resolução (para ver a lista, infelizmente em inglês, é só clicar no link acima).

Quer ver um dos mais famosos textos bíblicos dos Manuscritos do Mar Morto, o Rolo de Isaías (não é que o profeta fosse enrolado, é que o texto era um rolo de pergaminho mesmo)? Tem, olha só:

Trechinho do livro de Isaías em hebraico (Crédito: Reprodução)
Trechinho do livro de Isaías em hebraico (Crédito: Reprodução)

Que tal então esta linda abertura do livro do Gênesis em hebraico presente na Bíblia de Xanten, feita em 1294?

As letras são absurdamente elegantes, fala a verdade (Crédito: Reprodução)
As letras são absurdamente elegantes, fala a verdade (Crédito: Reprodução)

Mas o manuscrito que realmente me deixou doido foi este aqui, o da Bíblia de Lisboa, completada em Portugal em 1482 — quando ainda se podia ser judeu em Portugal, antes da onda antijudaica na Península Ibérica. É de cair o queixo.

Mano, olha essas cores! (Crédito: Reprodução)
Mano, olha essas cores! (Crédito: Reprodução)

Tem muito mais de onde esses vieram, navega lá!

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Esquerdismo cristão? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/07/20/esquerdismo-cristao/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/07/20/esquerdismo-cristao/#respond Mon, 20 Jul 2015 19:48:59 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2689 Evo, Francisco e o crucifixo para lá de esquisito (Crédito: Associated Press)
Evo, Francisco e o crucifixo para lá de esquisito (Crédito: Associated Press)

A recente visita do papa Francisco à América do Sul deu o que falar, em especial por causa do esquisitíssimo híbrido de crucifixo e símbolo comunista ofertado ao pontífice pelo presidente boliviano, Evo Morales. Francisco estranhou o presente, mas acabou por aceitá-lo. Para críticos do papa, porém, o mais grave foi o teor anticapitalista (ou mesmo “comunista”) dos discursos de Jorge Bergoglio. Em seu blog, Reinaldo Azevedo, colunista da “Veja” e desta Folha, apesar de se declarar católico, afirmou que o “dito papa Francisco” não o representa. Acrescentou ainda que o pontífice era “Sua, não mais minha, Santidade”. Chegou a comparar o teor dos discursos do papa ao que costuma dizer “Kim Jong-un, aquele gordinho tarado que tiraniza a Coreia do Norte”.

Para Azevedo, o grande problema dos discursos do papa está nas críticas aos abusos do capitalismo e da propriedade privada, o que ele enxerga como uma aberração marxista e comunista que distorce a tradição cristã. Gostaria de aproveitar o espaço para que a gente deixe as preferências políticas de lado e examine se, de fato, o papa saiu da linha cristã original ao criticar o capitalismo.

Vamos por partes, citando o texto de Azevedo.

“Evocando um igualitarismo pedestre, disse Sua, não mais minha, Santidade: ‘A distribuição justa dos frutos da terra e do trabalho humano é dever moral. Para os cristãos, um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres o que lhes pertence’. A fala agride a lógica por princípio. Se o tal ‘que’ pertencesse aos pobres, pobres não seriam. A fala repercute a noção essencialmente criminosa de que toda a propriedade é um roubo. Como esquecer que essa concepção de mundo de que fala o papa já governou quase a metade do mundo e produziu atraso, miséria e morte?”

UM POUCO DE NOVO TESTAMENTO

Agora vale a pena considerar como os primeiros séculos cristãos consideravam essa mesma questão. Comecemos pelo Evangelho de Mateus.

“Em verdade vos digo que dificilmente o rico entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil o camelo entrar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no Reino de Deus” — palavras de Jesus em Mateus 19,24.

Temos o Evangelho de Lucas:

“Quem tiver duas túnicas, reparta-as com aquele que não tem, e quem tiver o que comer, faça o mesmo” — palavras de João Batista em Lucas 3,11.

Ainda em Lucas:

“Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes a vossa consolação! Ai de vós, que agora estais saciados, porque tereis fome!” — é o que diz Jesus em Lucas 6,24-25)

Epístola de Tiago:

“Pois bem, agora vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que estão para vos sobrevir. Vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças. Vosso ouro e vossa prata estão enferrujados e a ferrugem testemunhará contra vós e devorará vossas carnes. Entesourastes como que um fogo nos tempos do fim! Lembrai-vos de que o salário, do qual privastes os trabalhadores que ceifaram vossos campos, clama, e os gritos dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor dos Exércitos” (Tiago 5,1-4)

GIGANTES DA IGREJA

Acontece que essas críticas radicais à desigualdade social não estão presentes apenas nos textos do Novo Testamento. Um exemplo são as homilias de São João Crisóstomo (349-407 d.C.), arcebispo de Constantinopla. Ele diz, por exemplo: “O ladrão pobre nunca furta. Só retoma o que é seu”.

E ainda: “Lembrai-vos disso sem falta: não compartilhar nossa riqueza com os pobres é roubar dos pobres; com isso tiramos deles seu meio de vida; não possuímos uma riqueza que é nossa, mas a deles”.

Por falar em papas, que tal o radicalismo de São Gregório Magno (540-604)? Escreveu o antecessor de Francisco: “Quando damos aos indigentes algo de que necessitam, estamos lhes devolvendo o que lhes pertence e não estamos lhes dando o que é nosso. Estamos antes pagando uma dívida de justiça do que realizando uma obra de misericórdia”.

Só pra citar um exemplo mais próximo de nós, veja o que diz o Sermão do Bom Ladrão, do padre Antonio Vieira (1608-1697):

“Basta, senhor, porque roubo em uma barca sou ladrão, e vós que roubais em uma armada sois imperador? Assim é. Roubar pouco é culpa, roubar muito é grandeza. O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao inferno: os que não só vão, mas que levam de que eu trato, são os outros… ladrões de maior calibre e mais alta esfera”.

É difícil dizer, portanto, que a crítica à riqueza e ao capitalismo, bem como o imperativo moral de redistribuir a riqueza, seja alheia ao cristianismo. Talvez esteja mesmo em seu cerne.

Para quem quer saber o que os papas mais recentes disseram sobre essa questão, recomendo o excelente post no blog de um de meus leitores, Otávio Pinto.

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Uma encíclica, dois Franciscos https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/06/11/uma-enciclica-dois-franciscos/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/06/11/uma-enciclica-dois-franciscos/#respond Thu, 11 Jun 2015 12:45:16 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2636 A capa da futura encíclica. (Crédito: Reprodução)
A capa da futura encíclica. (Crédito: Reprodução)

Já abordamos por aqui a vindoura encíclica do papa Francisco, a primeira da história do papado voltada exclusivamente para a questão ambiental. Bem, o Vaticano acaba de confirmar a data de lançamento e o título do documento. O texto sai no dia 18, próxima quinta-feira, e recebeu um nome pra lá de significativo: “Laudato si'” — “Louvado sejas” em italiano medieval. Hein? Italiano medieval? Sim, porque o papa chamado Francisco resolveu usar como mote um poema composto por seu xará e inspirador são Francisco de Assis, o chamado Cântico das Criaturas, composto por volta de 1220 — é o texto poético mais antigo da literatura italiana.

Sabe aquela música (e aquele filme) “Irmão Sol, Irmã Lua”? É exatamente do Cântico das Criaturas que vem a ideia. Trata-se de um louvor extremamente carinhoso e delicado do Universo e do que existe na Terra, dos astros à água e ao fogo. No mínimo, dá pra dizer que a encíclica começou bem, até porque o subtítulo é “sobre o cuidado com a casa comum” — e “ecologia”, pra quem não sabe, é “o estudo da casa”, do lugar onde vivemos, em grego.

Enquanto a gente aguarda o documento papal, vale a pena conferir este gráfico do Centro de Pesquisas Pew, uma espécie de Datafolha dos EUA. Ele mostra quais os papas mais prolíficos na produção de encíclicas desde o fim do século 19. Para alguém que está no começo do pontificado, Francisco até que anda escrevendo bastante, embora ele dificilmente vá bater recordes, na idade provecta em que está.

Encíclicas publicadas por papado desde o fim do século 19 (Crédito: Centro de Pesquisas Pew)
Encíclicas publicadas por papado desde o fim do século 19 (Crédito: Centro de Pesquisas Pew)

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O papa do clima https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/05/04/o-papa-do-clima/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/05/04/o-papa-do-clima/#respond Mon, 04 May 2015 18:45:14 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2535 Leio no “Crux”, site do jornalão americano “Boston Globe” dedicado à cobertura da Igreja Católica nos EUA e no mundo, que membros da direita secular estadunidense, e também alguns grupos mais conservadores dentro do catolicismo, andam se descabelando por antecipação a respeito da futura encíclica ambiental do papa Francisco, que deve sair neste mês de junho. (Eis aqui um bom e sucinto texto do vaticanista John L. Allen Jr. sobre o tema.). As críticas desse pessoal são duas, basicamente:

1)O papa teria comprado a “falsa ciência” do aquecimento global e agora quer enfiá-la goela abaixo dos pobres católicos (essa é a crítica, digamos, secularizada);

2)A “agenda ambientalista” seria essencialmente uma agenda contrária à fé católica por identificar os problemas ambientais com o crescimento populacional e, portanto, por advogar o uso de anticoncepcionais, o aborto e outras supostas técnicas que “querem acabar com a pobreza impedindo que os pobres nasçam”.

O clima não tá fácil, hein, Chicão? (Giampiero Sposito/Reuters)
O clima não tá fácil, hein, Chicão? (Giampiero Sposito/Reuters)

(Parêntese: embora ainda não esteja claro que o principal tema da encíclica será a mudança climática, trata-se de uma suposição razoável porque Francisco já declarou em outras ocasiões que deseja que seu documento influencie positivamente as discussões diplomáticas sobre o tema que ocorrerão em Paris no fim do ano, sob os auspícios da ONU. O sumo pontífice portenho já declarou em outras ocasiões que para ele estava claro que a maior parte da mudança climática era causada pela ação humana e que achava as estratégias para combatê-la pouco ambiciosas. De quebra, há poucos dias o Vaticano foi palco de uma conferência internacional que defendeu justamente a necessidade de atuar contra o aquecimento global.)

Sem meias-palavras: de todas as coisas boas que Francisco tem feito nestes poucos anos de pontificado, tornar-se um paladino da ação contra a mudança climática é uma das melhores. A crítica à suposta falta de confiabilidade científica dos estudos sobre aquecimento global não se sustenta de jeito nenhum — e, em geral, é feita por grupos que têm todo o interesse do mundo em manter o status quo (tipo gente do lobby do carvão e do petróleo nos EUA). Existem alguns cientistas que duvidam sinceramente da validade do fenômeno? Existem, mas o peso das evidências não parece estar do lado deles por enquanto.

E quanto aos supostos impactos da “agenda ambientalista” contra a doutrina católica?

Tá, é verdade que muitos grupos ambientalistas são defensores do acesso amplo a métodos anticoncepcionais artificiais. No entanto, mesmo que a Igreja se oponha a esses métodos (e obviamente ao aborto), isso não deveria ser impedimento diante da necessidade de reconhecer que as questões ambientais são problemas sérios e reais, que representam uma ameaça séria à sobrevivência humana, em especial a das populações mais pobres. Além disso, a doutrina católica atual pode até se opor aos métodos artificiais de contracepção, mas dá liberdade aos pais que considerem ter uma razão moral séria para restringir o número de filhos para decidir qual será o tamanho da família, desde que usem métodos naturais.

A divergência, portanto, é muito mais de método do que de objetivos. E, obviamente, qualquer movimento ambientalista decente e com a cabeça no lugar sabe que o desperdício e o consumismo desenfreado do Primeiro Mundo é um problema ambiental tão grande quanto, e provavelmente até maior que, as massas famintas do Terceiro Mundo — e fazer as pessoas encararem as consequências éticas do abismo entre ricos e pobres tem sido um dos pontos centrais da mensagem de Francisco.

É claro que é difícil saber se a encíclica ambiental terá algum efeito prático. Mas afirmar com clareza que nem todas as opiniões sobre esse tema são igualmente válidas, no clima atual (com o perdão do trocadilho), não deixa de ser corajoso.

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O padre que matou Plutão https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/11/19/o-padre-que-matou-plutao/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/11/19/o-padre-que-matou-plutao/#respond Wed, 19 Nov 2014 11:59:59 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2073 De quem foi a culpa pelo “rebaixamento” de Plutão, excluído de forma desapiedada da lista de planetas do Sistema Solar? Dos jesuítas, óbvio.

Sério, gente — parece trama de romance anticlerical do século 19, mas é a pura verdade — ou ao menos parte dela. Quem coordenou o Comitê de Resoluções da IAU (União Astronômica Internacional) que propôs formalmente a reclassificação do antigo nono planeta, bem como o responsável por escrever o texto que foi votado e aprovado pelos membros do IAU batizando Plutão de mero “planeta-anão”, foi o padre britânico Christopher Corbally, membro da Companhia de Jesus e pesquisador do Observatório do Vaticano. Olha a foto do homem aí embaixo. É o senhor do meio. (Notem que ele não está usando batina. Deve ser pra se disfarçar de um possível atentado dos Illuminati.)

O jesuíta Christopher Corbally (no centro), ao lado de Jocelyne Bell-Burnell (a moça com um boneco do Pluto) e Richard Binzel (Crédito: David Cerny/Reuters)
O jesuíta Christopher Corbally (no centro), ao lado de Jocelyne Bell-Burnell (a moça com um boneco do Pluto) e Richard Binzel (Crédito: David Cerny/Reuters)

Acontece que o Vaticano é um dos Estados-membro da IAU, e sua pequena equipe de astrônomos costuma produzir ciência de excelente qualidade, o que acabou levando à escalação de Corbally para esse papel importante na votação.

É claro que dizer que “Plutão teria escapado, se não fossem esses jesuítas intrometidos”, à la Scooby-Doo, é forçar a barra. Já havia um acúmulo enorme de descobertas mostrando que o antigo nono planeta era apenas mais uma bola de gelo entre a infinidade de corpos parecidos existentes nos confins do Sistema Solar, e que ele pouco tinha em comum com os planetas “verdadeiros”, o que motivou a decisão da IAU e sua aceitação pela comunidade científica.

A votação anti-Plutão aconteceu no já longínquo ano de 2006, mas só me dei conta da filiação religiosa do pesquisador após ler o divertido livro “Would you Baptize an Extraterrestrial?” (“Você Batizaria um Extraterrestre?”), dos jesuítas Guy Consolmagno e Paul Mueller, ambos cientistas do Observatório do Vaticano também. 

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Manhas e patranhas da política papal https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/06/04/manhas-e-patranhas-da-politica-papal/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/06/04/manhas-e-patranhas-da-politica-papal/#respond Wed, 04 Jun 2014 16:49:18 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=1521 Confesso que nunca tive a menor vontade de me tornar repórter de política, apesar dos altos dividendos profissionais que essa escolha poderia trazer — afinal, é MUITO mais fácil se destacar como jornalista cobrindo o Congresso do que escrevendo sobre dinossauros e hominídeos (que é basicamente o que eu faço faz quase 15 anos). E não é nem propriamente pelos problemas éticos que às vezes rondam o jornalismo político (embora eu também os tenha considerado), mas porque eu sou meio mané de nascença e teria sérias dificuldades pra distinguir o joio do trigo num ambiente em que as pessoas mentem uns 95% do tempo (contra os 50% do tempo num ambiente “normal”, vá lá). Geral ia me enrolar facinho, facinho.

Daí o meu “choque de realidade” quando, desde o ano passado, fui escalado por esta Folha para ajudar na cobertura do Vaticano e de todas as reviravoltas que aconteceram por lá entre a renúncia de Bento 16 e a ascensão de Francisco. A missão me coube porque eu conheço relativamente bem teologia católica e história da Igreja, falo italiano e acompanho o que tem acontecido com o papado atentamente (até pelo interesse pessoal de católico praticante), além de eu já ter desempenhado papel parecido quando trabalhava no portal “G1”. Beleza, mas uma coisa é observar o cenário relativamente de longe, outra é seguir o tema todo santo dia, com o máximo de cuidado, esquadrinhando cada linha do que sai nos principais periódicos da Itália, os quais, naturalmente, são os que têm mais especialistas na cobertura do Vaticano.

Depois de alguns meses fazendo isso, minha reação foi mais ou menos a seguinte: socorro, virei repórter de política.

Falando sério, o que mais impressiona a partir de um ponto de vista relativamente ingênuo, como o meu, é como mais ou menos os mesmos fatos recebem tratamento completamente oposto dependendo do “vaticanista” que está escrevendo, ou de como as fontes (ou seja, os entrevistados) “mandam recado” o tempo todo via reportagens supostamente isentas, mesmo quando não estão falando abertamente.

Essa é uma das necessidades, e um dos problemas, do jornalismo de política: quem está em busca de informações exclusivas e importantes precisa muitas vezes descolá-las “em off”, como se diz — ou seja, sem poder revelar a fonte da informação. “Offs”, é claro, podem ser “cruzados”, ou seja, checados com múltiplas fontes para tentar avaliar sua confiabilidade, mas é relativamente fácil, tanto para a fonte quanto para o jornalista, voltarem atrás com esse tipo de informação quando é conveniente.

O resultado de tudo isso é que toda aparente “notícia” é um verdadeiro quebra-cabeças de ângulos e motivações. Fico tentando pensar por que o vaticanista X resolveu fazer um comentário desabonador (ou puxa-saco) sobre o cardeal Y pela enésima vez, ou como a divulgação dessas informações se “coreografam” com a última medida ou declaração do papa Francisco. Depois de um tempo, o triste é que você meio que consegue prever o que Fulano ou Sicrano vão escrever sobre determinado tema muito antes de eles botarem as ideias no papel. E, claro, a cultura política do Vaticano, tradicionalmente avessa à transparência, não ajuda muito nesse exercício interpretativo. Não tá fácil pra ninguém.

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A Igreja estava certa em rejeitar Copérnico? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/01/27/a-igreja-estava-certa-em-rejeitar-copernico/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2014/01/27/a-igreja-estava-certa-em-rejeitar-copernico/#respond Mon, 27 Jan 2014 13:52:55 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=982 Não dá para escapar do peso histórico que as brigas entre a Igreja Católica e alguns dos mais importantes astrônomos do Renascimento tiveram sobre a relação entre ciência e religião nos últimos séculos. Por mais que esse tema tenha deixado de ser fonte de conflito há muito tempo, o trauma relacionado à execução de Giordano Bruno (1548-1600) e à prisão domiciliar de Galileu Galilei (1564-1642) por ordem das autoridades católicas virou, na imaginação popular, o grande modelo do que acontece quando a fé tenta se sobrepor à razão. Por isso mesmo, pode soar impensável a seguinte afirmação: na época, também havia boas razões científicas para duvidar que a Terra girava em torno do Sol, o chamado heliocentrismo, proposto pelo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543).

(OK, chega de datas de nascimento e morte por enquanto, eu prometo.)

Um resumo interessantíssimo e muito claro desses argumentos contra Copérnico, e de como, na verdade, eles demoraram para ser derrubados cientificamente, estão em artigo na edição deste mês da revista “Scientific American” (eis o link, embora seja preciso pagar pelo acesso ao artigo completo).

Meu plano a seguir a resumir esses argumentos, a partir do que dizem os pesquisadores Dennis Danielson e Christopher Graney. Mas, já que o tema é terreno fértil para interpretações maliciosas de todo o tipo, permita o gentil leitor que eu deixe claro o que não estou querendo dizer com esse texto (só por segurança):

1)É lógico que eu não estou dizendo que as autoridades religiosas da Renascença estavam certas em fazer bullying ou mandar para a fogueira quem defendia o ponto de vista de Copérnico. Só estou tentando levar em conta que, além do contexto de manutenção autoritária de um certo tipo de interpretação das Escrituras e do Cosmos, havia também argumentos científicos de um lado e de outro, que foram levados a sério na época por gente que não tinha ligação nenhuma com a Inquisição.

2)E, claro, é lógico que esse negócio não foi só um debate científico bem-educado. A discussão era muito mais ampla, desde questões de poder (ver acima) até, no caso da única execução de um cientista por causa disso, a de Giordano Bruno, porque ele aproveitou para questionar diretamente dogmas religiosos que não tinham nada a ver com o heliocentrismo em si. Apesar do sofrimento pelo qual passou, Galileu continuou sendo um católico fiel, como era antes de ser interrogado, aliás.

Beleza? Adiante, então. Vamos aos argumentos científicos.

1)O problema do mecanismo

O “azar” de Copérnico, digamos, foi formular sua hipótese heliocêntrica numa época pré-Newton, quando o gênio britânico da física ainda não havia nascido nem formulado sua teoria da gravitação. Do ponto de vista hipotético, era mais ou menos fácil postular porque os planetas e estrelas giravam em torno da Terra: eles seriam feitos de um tipo diferente e “sutil” de matéria, capaz de rodar rapidamente pelos céus.

No entanto, num mundo sem uma boa teoria da gravidade, era um bocado difícil postular que, na verdade, a Terra — esse troço pesadão e aparentemente imóvel em cima do qual todos nós vivemos — é que estava rodando em torno das “esferas celestiais”. Para o dinamarquês Tycho Brahe, o maior astrônomo da época, a Terra era um “corpo imenso e preguiçoso, inapto para o movimento” ao qual se estava atribuindo “um movimento tão rápido quando o das tochas etéreas” (lindo, não?).

2)A treta do tamanho das estrelas

A matemática por trás desse segundo ponto é um tanto complicadinha, mas basta dizer que, tirando a Terra do centro cósmico e transformando-a em simples planeta, Copérnico redefiniu para mais — aliás, para muito mais — o tamanho do Universo e, em especial, o das estrelas. Os astrônomos da época costumavam medir o diâmetro das estrelas que viam no céu (sabemos que hoje esse diâmetro ou largura é aparente, um truque da passagem da luz pelo olho ou por um telescópio, mas na época ninguém sabia). Levando em conta as distâncias postuladas por Copérnico e essa “largura estelar”, a conclusão inescapável é que o diâmetro real das estrelas seria da ordem… de centenas de vezes o diâmetro do Sol.

Tycho Brahe achava, com razão, que essa conta só podia estar errada. OK, hoje sabemos que algumas estrelas podem ter milhares de vezes o raio do Sol, mas a medida feita pelo sistema copernicano originou indicava que qualquer estrelinha vagabunda, mesmo as que (hoje sabemos) são relativamente pequenas, teriam esse tamanho absurdo.

Curiosamente, o argumento usado pelos copernicanos pra tentar convencer seus pares foi, em parte… religioso. Como escreveu um deles, Christoph Rothmann, para Brahe: “Deixe que a vastidão do Universo e os tamanhos das estrelas sejam tão grandes quanto você quiser — ainda assim parecerão ínfimos diante do Criador infinito. Faz sentido que, quanto maior o rei, tão maior será o palácio adequado à sua majestade. Então, qual o tamanho do palácio que lhe parece adequado a Deus?”.

Além dos grandes avanços teóricos trazidos por Newton (depois da morte de Galileu), o problema do tamanho aparente das estrelas só seria resolvido pra valer no século 19.

Acho que vale aqui (como em tantas outras áreas da vida) a boa e velha modéstia. A história (mesmo a história da ciência) não vem com retrovisor. Nem toda objeção ao que parece progresso é coisa de idiota ou fanático religioso, mesmo que se revele uma objeção equivocada, no fim das contas.

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Um papado socioambiental? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/03/19/um-papado-socioambiental/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/03/19/um-papado-socioambiental/#comments Wed, 20 Mar 2013 01:31:01 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=121 Ainda parece cedo para dizer em que direção vai o novo pontificado de Francisco em relação ao diálogo entre ciência e religião — embora, como arcebispo e cardeal, Jorge Bergoglio tenha manifestado sua oposição à pesquisa com células-tronco embrionárias humanas, o que não é de surpreender, já que se trata da oposição oficial da hierarquia católica desde que esse tipo de estudo entrou em pauta. Por outro lado, os primeiros sinais, a começar pelo nome escolhido pelo novo papa, sugerem que a preocupação ambiental deve ganhar maior relevo neste pontificado.

Papa Francisco: “Nossa relação com o mundo criado não é exatamente boa, não?”

É claro que é exatamente isso o que se espera de um pontífice que decide se chamar Francisco por causa de são Francisco de Assis. O santo medieval que chamava até o fogo, o Sol e a Lua de irmãos, sobre quem se contam inúmeras histórias de uma relação muito próxima com os animais, sempre foi considerado um profeta do movimento ambientalista. Quando ficou confirmado que a homenagem do nome era mesmo para o “pobrezinho” de Assis, muita gente achou que seria só questão de tempo até as referências à crise ambiental  pela qual o mundo passa aparecessem nos discursos do novo papa.

A primeira pista de que a coisa era mesmo por aí veio no primeiro encontro entre Francisco e os jornalistas, no último sábado, dia 16. Ao contar como escolheu seu nome, ele citou três fatores: a pobreza; a paz (Francisco, lembrem-se, foi talvez o único representante da Igreja medieval a tentar converter os muçulmanos conversando, e não no lombo de um cavalo de guerra); e, finalmente, porque Francisco é “o homem que ama e protege o mundo criado; neste momento também nós temos com o mundo criado uma relação não tão boa, não?”.

E, nesta terça, na homilia da missa que marcou o início oficial do pontificado de Francisco, o tema voltou à baila diversas vezes. Talvez o centro do sermão, cujo tema é o cuidado que José tem com Maria e com o menino Jesus, seja este tema essencialmente franciscano:

“A vocação de proteger, porém, não diz respeito somente a nós cristãos, tem uma dimensão que precede a isso e que é simplesmente humana, diz respeito a tudo. É o proteger a criação inteira, a beleza da criação, como nos diz o livro do Gênesis e como nos mostrou são Francisco de Assis: é ter respeito por toda criatura de Deus e pelo ambiente no qual vivemos.”

Muito já se escreveu sobre a parcela da culpa da tradição judaico-cristã e do livro do Gênesis pela crise ambiental atual — basicamente pelo fato de os ocidentais terem levado a sério o mandamento divino de “dominar” a Terra e de fazer uso dela. São Francisco de Assis nada contra essa corrente ao chamar todos os seres vivos (e até não vivos) de irmãos.  Se o papa enfatizar de fato esse aspecto da espiritualidade franciscana — e quem sabe escrever uma encíclica sobre ele? — coisas interessantes podem acontecer. Here’s hoping.

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Os papas e a evolução https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/03/06/os-papas-e-a-evolucao/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/03/06/os-papas-e-a-evolucao/#comments Wed, 06 Mar 2013 12:10:52 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=63 Como estamos em temporada papal, achei que seria uma boa ideia fazer um resuminho básico da relação entre a Santa Sé e a teoria da evolução — de jeito nenhum exaustivo, mas que pelo menos dá uma ideia geral das tendências históricas até aqui. E, conversa vai, conversa vem, relativamente pouca gente conhece esses fatos. Dá pra encontrar um bom relato sobre o tema no livro “Pilares do Tempo” (editora Rocco), do saudoso paleontólogo Stephen Jay Gould (1941-2002). Dividindo as coisas por século:

SÉCULO 19

Não houve nenhum pronunciamento oficial da alta hierarquia católica quando Darwin inaugurou a biologia evolutiva moderna ao publicar “A Origem das Espécies” em 1859. O livro, é bom lembrar, nunca foi parar no famigerado “Index Librorum Prohibitorum”, o catálogo de livros vetados ao bom católico (hoje não mais existente).

Nenhum papa menciona diretamente o darwinismo ou a teoria evolutiva em suas encíclicas, as grandes cartas pastorais que são, na era moderna, o principal veículo do magistério (ensinamento) papal. Alguns teólogos mais inovadores que ensaiam como conciliar o pensamento cristão tradicional com as descobertas de Darwin e sucessores chegam a ser repreendidos pontualmente pela Igreja.

SÉCULO 20

Pio 12: simplesmente um luxo

Os papas só se põem a mexer realmente no vespeiro a partir de Pio 12 (1876-1958; pontífice de 1939 até sua morte). Na encíclica “Humani Generis”, de 1950, vejamos o que Pio 12 diz.

“A Igreja não proíbe que… pesquisas e discussões, por parte de pessoas com experiência em ambos os campos [ciência e teologia], aconteçam com relação à doutrina da evolução, enquanto ela inquira a respeito da origem do corpo humano a partir de matéria viva pré-existente.”

De temperamento conservador, o papa considera, portanto, a questão em aberto e alvo de discussão legítima, não sem uma pontinha de ceticismo. Na mesma encíclica, deixa claro o que, pra ele, é inegociável: a ideia de que, hominídeos à parte, a alma humana (em contraposição ao corpo) é criada diretamente por Deus; e a doutrina do pecado original: a situação “caída” do homem — o fato de estarmos afastados da graça de Deus desde o nascimento — só poderia ser explicada pela culpa original de Adão e Eva. É preciso, portanto, crer que descendemos do único casal original, e não de vários casais criados independentemente por Deus, doutrina apelidada de “poligenismo” e considerada herética.

O grande “salto para a frente” nas relações diplomáticas entre catolicismo e darwinismo, porém, foi mesmo o dado por João Paulo 2. (apesar do lado conservador do véio, é inegável sua abertura para dialogar com tradições externas à Igreja). O marco é um discurso do papa à Pontifícia Academia de Ciências, datado de 22 de outubro de 1996.

“Em sua encíclica ‘Humani Generis’, meu predecessor Pio 12 já afirmava que não há conflito entre a evolução e a doutrina da fé a respeito do homem e de sua vocação, desde que não percamos de vista alguns pontos fixos (…) Hoje, mais de um século e meio meio século depois do aparecimento daquela encíclica, algumas novas descobertas nos levam a reconhecer que a evolução é mais do que uma hipótese. De fato, é notável que essa teoria tenha tido uma influência cada vez maior sobre o espírito dos pesquisadores, seguindo uma série de descobertas em diferentes disciplinas acadêmicas. A convergência dos resultados desses estudos independentes — que não foi nem planejada nem ativamente procurada — constitui, em si mesma, um argumento significativo em favor da teoria.”

Incidentalmente, vocês viram que o papa polonês distingue direitinho “hipótese” de “teoria”, certo? (Nada surpreendente para um sujeito com o treinamento filosófico dele, mas sempre é bom colocar os pingos nos is.)

A ressalva, de novo, é a questão da alma — o único elemento de “criacionismo”, digamos, no pensamento dos papas.

SÉCULO 21

Houve quem interpretasse algumas falas do então cardeal Joseph Ratzinger como uma possibilidade de aproximação entre a Igreja e o criacionismo, em especial em sua vertente disfarçada de “design inteligente”.

Bento 16, porém, demonstra ter uma posição basicamente igual ao de seu predecessor (e, ao menos na linguagem que utiliza, parece até conhecer melhor as hipóteses sobre evolução humana, por exemplo). Por exemplo, veja abaixo.

“O barro se tornou homem no momento em que um ser, pela primeira vez, tornou-se capaz de formar, ainda que de forma difusa, a ideia de ‘Deus’. O primeiro Tu, ainda que gaguejante, dito por lábios humanos a Deus marca o momento no qual o espírito surgiu no mundo. Aqui, o Rubicão da antropogênese [origem humana] foi cruzado. Pois não é o uso de armas ou o do fogo, nem novos métodos de crueldade ou atividade útil, que constituem o homem, mas sua capacidade de estar em relação imediata com Deus. Isso tem relação direta com a doutrina da criação especial do homem (…) e aí (…) está a razão pela qual o momento da antropogênese é impossível de ser determinado pela paleontologia: a antropogênese é o surgimento do espírito, que não pode ser escavado com uma pá. A teoria da evolução não invalida a fé, nem a corrobora. Mas, de fato, desafia a fé a se entender de forma mais profunda e, assim, a ajudar o homem a compreender a si mesmo e a se tornar cada vez mais o que ele é: o ser que deve dizer Tu a Deus pela eternidade.”

Dá até pra pensar em como, teologicamente, superar a obrigação da “criação especial da alma” e ainda assim manter a ortodoxia cristã básica — mas isso fica para um futuro post. Por enquanto, deixemos os papas falarem.

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