Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Foi mal, Homem-Aranha https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/01/19/foi-mal-homem-aranha/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/01/19/foi-mal-homem-aranha/#respond Tue, 19 Jan 2016 13:46:09 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/01/pobre-aracnídeo-180x54.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3218 A imagem aí de cima realmente fez meu coração se compadecer pelo pobre Homem-Aranha. Afinal, acabamos de descobrir que, para conseguir escalar paredes, ele precisaria ter 40% de seu corpo coberto com ganchinhos microscópicos. Ou seja, não ia rolar.

Obviamente, essa conclusão não foi financiada pela Marvel nem versava originalmente sobre o Amigão da Vizinhança dos quadrinhos e do cinema, mas realmente integra uma pesquisa científica — que, aliás, acaba de ser publicada. David Labonte e seus colegas da secular Universidade de Cambridge, do Reino Unido, fizeram um levantamento abrangente de como funcionam as patinhas adesivas das muitas espécies de animais que são capazes de escalar paredes ou ficar grudadas em galhos de árvores, por exemplo.

Ao fazer esse amplo trabalho comparativo, concluíram que a chave para a capacidade “grudativa” dos bichos é a relação entre massa corporal da criatura (o popular peso), de um lado, e a área de superfície do pedaço do animal usado para se grudar (em geral, estamos falando das patas, claro). Veja uma ilustração do que estou dizendo abaixo. A imagem do alto usa porcentagens para indicar quanto da área de superfície do corpo de cada bicho é necessária para torná-lo “grudável”.

bicharada
De pererecas a aranhas, passando por morcegos e besouros, as áreas que os bichos usam para se grudar às paredes (Crédito: Divulgação)

A questão é que, conforme o animal vai ficando maior, a área de superfície precisa crescer numa proporção ainda mais elevada para dar conta de grudá-lo à parede. Ou seja, em criaturas tão grandes quanto nós, a conta não fecha — ou, no mínimo, o pobre Homem-Aranha teria de ficar arrastando a barriga pelas paredes dos prédios de Nova York para não despencar. Não me parece muito heroico.

O estudo está na revista científica “PNAS”.

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Xô, Lamarck! https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/xo-lamarck/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/02/04/xo-lamarck/#respond Wed, 04 Feb 2015 12:13:16 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2317 Lamarck: tá bonito na foto, mas não tão bem quando o assunto é evolução (Crédito: Reprodução)
Lamarck: tá bonito na foto, mas não tão bem quando o assunto é evolução (Crédito: Reprodução)

O post mais recente do blog, sobre a evolução da mão humana, rendeu uma pequena polêmica. Recebi um e-mail do simpático leitor Miguel Falcão perguntando o seguinte: as frases abaixo, ditas pelo antropólogo Matthew Skinner, não seriam lamarckistas?

“De qualquer forma, se os dedos dos primeiros hominídeos fósseis ficaram mais curtos, o polegar ficou mais longo de modo natural, em termos relativos, e essas novas proporções da mão facilitariam a oposição entre o polegar e os demais dedos (ou seja, o movimento de pinça de precisão). Esse pequeno aumento de destreza manual poderia abrir novas oportunidades, como o acesso a novas fontes de alimento, as quais levariam, no fim das contas, a uma vantagem seletiva forte, incentivando ainda mais o uso do polegar.”

Para quem não sabe, o lamarckismo é a ideia às vezes resumida com a frase “uso e desuso”, segundo o qual o esforço direto de um ser vivo — a girafa esticando o pescoço para pegar uma folha lá no alto da árvore, por exemplo — altera não só os órgãos desse indivíduo mas também as características que ele passará para seus descendentes. Essa ideia empresta seu nome de Jean-Baptiste Pierre Antoine de Monet, cavaleiro de Lamarck (1744-1829), naturalista francês. Meio injusto, na verdade, porque se trata de uma crença muito comum entre os naturalistas dos séculos 18 e 19 — o próprio Darwin era “lamarckista”, como a gente pode ler em seu clássico “A Origem das Espécies”.

É OU NÃO É?

Enfim, vamos ao que interessa: o raciocínio de Skinner é lamarckista ou não?

A resposta é negativa. A questão é que a maneira como a linguagem humana funciona trai um pouco a gente. Pra seres como nós é difícil expressar acontecimentos sem usar metáforas de “agência”, ou seja, de alguém ou algo agindo de maneira propositada. É o problema da palavra “incentivando” lá em cima. Mas o que evita maiores confusões é uma expressão-chave que, por sorte, também está presente na fala de Skinner: “vantagem seletiva”. Ou seja, seleção natural em ação.

Recordemos, dileto leitor, os pontos-chave da seleção natural: 1)existe variação natural de características em qualquer população de seres vivos; 2)ao menos parte dessa variação é herdada, ou seja, transmitida geneticamente de pais para filhos; 3)algumas dessas variantes ajudam os seres vivos a sobreviver e, principalmente, reproduzir-se com mais eficiência do que outras.

É só isso o que a frase do antropólogo quer dizer. Alguns hominídeos tinham destreza manual ligeiramente superior à dos demais, graças a variações pequenas na estrutura dos dedos que tinham raízes genéticas. Essas variações permitiram que as criaturas tivessem mais sucesso reprodutivo e, na geração seguinte, ficaram mais frequentes na população — e assim por diante.

Portanto: vade retro, Lamarck! Sai deste hominídeo que não te pertence!

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Antes que eu me vá do recinto, um lembrete rapidinho: quem quiser participar de um papo sobre meu novo livro, “Os 11 Maiores Mistérios do Universo”, abordando vários temas do blog, das origens do Universo à existência de Deus e da vida após a morte, será muito bem-vindo na Campus Party, em São Paulo, nesta semana: quinta (amanhã), dia 5, tem mesa redonda às 18h30 sobre o livro e depois lançamento/autógrafos, no Palco Sol! Será um prazer falar com visitantes do blog. O evento acontece na São Paulo Expo (Rodovia dos Imigrantes, km 1,5, a 850 m da estação Jabaquara do metrô).

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Como as mãos evoluíram? https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/02/01/como-as-maos-evoluiram/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/02/01/como-as-maos-evoluiram/#respond Sun, 01 Feb 2015 23:56:40 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=2306 Comparação entre mão de chimpanzé e de humano. Não vou dizer qual é qual pra não insultar a sua inteligência, né? (Crédito: Reprodução)
Comparação entre mão de chimpanzé e de humano. Não vou dizer qual é qual pra não insultar a sua inteligência, né? (Crédito: Reprodução)

Dizer que gente tem mãos e bicho tem patas da frente é uma injustiça, no mínimo quando o assunto são os grandes macacos. Basta olhar as mãos — pois é, mãos — de um chimpanzé para conferir isso. No entanto, não deixa de ser verdade que a mão humana tem algo de especial, como você pode ver nessa comparação entre nós e os chimpas à esquerda. Acabam de surgir novas evidências de que a nossa capacidade de manusear e produzir ferramentas com as mãos emergiu há pelo menos 3 milhões de anos, como conto nesta reportagem na edição impressa da Folha. Os dados-chave se referem ao nosso especialíssimo polegar, capaz tanto de tarefas de precisão quanto de força em conjunção com os demais dedos.

Mas como o uso de ferramentas teria influenciado a evolução das mãos? Ou será que primeiro veio a habilidade e depois o hábito de usar instrumentos de pedra? Fiz essa pergunta ao antropólogo Matthew Skinner, da Universidade de Kent (Reino Unido), autor da pesquisa. A resposta é bem interessante e, pra variar, complexa. Diga lá, Matt!

“Bem, eu diria que é um pouco o caso do ovo e da galinha. Tradicionalmente a ideia é que a mão humana evoluiu num ancestral que provavelmente tinha dedos longos e um polegar relativamente curto, já que os grandes macacos atuais têm mãos desse tipo que são vantajosas para escalar e ficar suspenso de árvores.

Conforme os hominídeos fósseis evoluíram a postura bípede, passando menos tempo nas árvores, haveria um relaxamento da seleção para dedos longos. Ou outra hipótese sugere que, conforme nossos pés se adaptaram ao bipedalismo, conforme nossos dedos dos pés ficaram mais curtos, os dedos das mãos também encurtaram simplesmente como subproduto desse processo, a chamada pleiotropia genética [quando um gene controla vários traços relacionados do organismo ao mesmo tempo].

De qualquer forma, se os dedos dos primeiros hominídeos fósseis ficaram mais curtos, o polegar ficou mais longo de modo natural, em termos relativos, e essas novas proporções da mão facilitariam a oposição entre o polegar e os demais dedos (ou seja, o movimento de pinça de precisão). Esse pequeno aumento de destreza manual poderia abrir novas oportunidades, como o acesso a novas fontes de alimento, as quais levariam, no fim das contas, a uma vantagem seletiva forte, incentivando ainda mais o uso do polegar.

Isso encorajaria novas características anatômicas (mais redução no comprimento dos dedos, alongamento do polegar, musculatura do polegar fortalecida etc.) que aumentaria a destreza, e assim por diante, em última instância levando a capacidades muito complexas de uso e produção de instrumentos.

Entretanto, é importante notar que ainda não sabemos como era a mão do último ancestral comum de chimpanzés e humanos, ou seja, como era a condição ancestral, e também precisamos lembrar que muitos primatas, como chimpanzés, macacos-prego e macacos resos, são usuários contumazes de ferramentas, ainda que lhes faltem muitas das características que encontramos em mãos de humanos atuais ou de hominídeos fósseis.”

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Agachadinha evolutiva https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/04/24/agachadinha-evolutiva/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/04/24/agachadinha-evolutiva/#comments Thu, 25 Apr 2013 01:48:59 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=224 Da próxima vez que vires uma galinha ou um peru, lembra-te dos dinos, ó gentil leitor. Em especial quando você estiver se deliciando com a coxa de uma dessas aves domésticas.

Corpo de peru, alma de dinossauro

Pode parecer maluquice, mas até os detalhes mais bobos da anatomia desses bichos de galinheiro trazem a marca indelével de seus ancestrais do Jurássico ou do Cretáceo. Mais uma pista sobre essa relação foi publicada na edição desta semana da revista científica “Nature” pela equipe cujo líder é John Hutchinson, da Real Faculdade de Veterinária de Hatfield, no Reino Unido. E tem a ver com a postura singular de galináceos e demais aves.

É provável que você nunca tenha parado para pensar nisso, mas a posição das pernas dos nossos amigos de penas é totalmente bizarra. Repare: é como se eles estivessem permanentemente com os joelhos dobrados. Do ponto de vista biomecânico, não faz muito sentido. O gasto de energia seria bem menor se as pernas ficassem retas, tal como as nossas patas de bípedes implumes.

O pensamento evolutivo, no entanto, é ideal para resolver esse tipo de paradoxo. Todos os seres vivos são, em alguma medida, um “puxadinho”, uma solução de compromisso entre a história de seu organismo, que é difícil de mudar e começar do zero, e suas necessidades presentes.

Foi isso que Hutchinson e companhia demonstraram no caso da postura das aves. Sabe-se que a posição “agachada” é, hoje, resultado da cauda curta e dos membros anteriores — mais conhecidos como “asas” — grandalhões. Essas características fazem o centro de massa das aves se deslocar para a frente, o que força a reorganização das patas para aquela postura esquisita. Supunha-se que fosse algo estabelecido quando os ancestrais das aves modernas começaram a voar.

Mas simulações feitas com base em esqueletos de dinossauros indicaram que essa tendência já estava presente em bichos que não voavam, como o célebre Velociraptor da série “Jurassic Park”. Ele também devia andar ligeiramente agachadinho. Primeiro houve um crescimento das patas da frente e, só mais tarde, sua transformação em asas. Para quem sabe inglês, um simpático videozinho colocado no YouTube pela equipe da “Nature” dá mais detalhes sobre a pesquisa.

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