Darwin e Deus https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém entre elas Mon, 15 Nov 2021 14:20:48 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Os argumentos em favor da existência de Deus: de Gödel aos computadores https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/os-argumentos-em-favor-da-existencia-de-deus-de-godel-aos-computadores/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2019/08/13/os-argumentos-em-favor-da-existencia-de-deus-de-godel-aos-computadores/#respond Tue, 13 Aug 2019 18:58:41 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/10/adamah-320x213.jpg https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=5849 É com imensa alegria que recebo mais uma vez aqui no blog os textos escorreitos, informativos e divertidamente contraintuitivos do professor Walter Carnielli, do Centro de Lógica da Unicamp. Desta vez, ele faz uma análise da lógica formal por trás de um dos mais famosos argumentos em favor da existência de Deus, um debate que vem pelo menos desde meados da Idade Média, com uma pitadinha de inteligência artificial no fim do texto. Aproveitem a leitura!

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Os axiomas de Deus, o Maligno e a inteligência artificial

Walter Carnielli
Centro de Lógica, Unicamp
Advanced Institute for Artificial Intelligence -AI2
Instituto Modal

O nome de Kurt Gödel (1906-1978) pode não significar muito para algumas pessoas, mas entre os cientistas ele tem uma reputação semelhante à de Albert Einstein, que era seu amigo próximo. Nascido em 1906 na cidade de Brno, no que era então o Império Austro-Húngaro e agora é território tcheco, Gödel estudou em Viena antes de se mudar para os Estados Unidos fugindo da guerra, onde obteve uma posição em Princeton, local que também acolhera Einstein.

Gödel é o responsável pelos celebérrimos Teoremas da Incompletude da Aritmética, que têm tirado o sono dos matemáticos, filósofos e todos os outros cientistas por 88 anos, desde 1931. Esse mesmo Gödel foi quem produziu a mais sofisticada versão da prova ontológica da existência de Deus, em notas datadas de 1941. Contudo, só no início dos anos 1970, quando Gödel temia que pudesse morrer, foi que ele autorizou que sua prova se tornasse pública pela primeira vez.

Argumentos ontológicos são argumentos que concluem que Deus existe a partir de premissas que supostamente derivam de alguma outra fonte que não a observação do mundo — no caso, derivadas apenas da razão.

A prova ontológica de Gödel é um argumento formal (para quem se interessa, formulado na lógica modal S5 de ordem superior), mas não vamos espantar o leitor com isso. A prova segue e melhora uma linha de desenvolvimento que remonta a Anselmo de Cantuária ou de Canterbury (1033-1109).

O argumento ontológico de Santo Anselmo, em sua forma mais sucinta, como aparece em sua obra “Proslogion”, é o seguinte: “Deus, por definição, é aquele do qual nada maior pode ser concebido. Deus existe no entendimento. Se Deus existe no entendimento, poderíamos imaginá-lo ainda maior se existisse na realidade. Portanto, Deus deve existir na realidade “.

O raciocínio por trás desse argumento é conhecido como “redução ao absurdo”; de fato, se Deus não existisse na realidade, esse raciocínio levaria a um absurdo: poderíamos conceber um ser maior do que Deus, limitado apenas ao entendimento. Assim, um ser do qual nada maior pode ser concebido — isto é, Deus — deve forçosamente existir.

No milênio entre Anselmo e Gödel, muitos filósofos, teólogos e outros estudiosos criticaram, modificaram e melhoraram o argumento de Anselmo, incluindo aí Descartes, Spinoza e Kant. De particular importância para Gödel foi o trabalho de Gottfried Leibniz (1646-1716); essa é a versão que Gödel estudou e tentou esclarecer com seu argumento ontológico.

Os detalhes da matemática envolvidos na prova ontológica de Gödel são relativamente complicados, mas em essência seus teoremas e axiomas — suposições que não podem ser provadas mas que são aceitas como verdades básicas — podem ser expressos em linguagem comum. Os principais pontos desse que pode ser considerado um dos maiores teoremas da matemática, nada menos que o teorema da existência de Deus, são os seguintes “Axiomas de Deus”:

– Axioma 1: Se A é uma qualidade positiva (isto é, muito boa), e necessariamente ter a propriedade A implica ter a propriedade B, então B é também uma propriedade positiva.

Tal axioma pode ser entendido como a afirmação de que apenas coisas positivas decorrem de coisas positivas. Propriedades realmente boas não podem acarretar propriedades ruins.

– Axioma 2: Se A é uma qualidade positiva, então o oposto de A é ruim. Da mesma forma, se A é ruim, então o oposto de A é uma qualidade positiva.

Esse axioma afirma que qualquer propriedade é positiva ou sua negação é positiva. Em outras palavras, não existem coisas como propriedades neutras ou intermediárias.

– Axioma 3: Ser divino é uma qualidade positiva.

Esse axioma afirma que a propriedade de algo ser divino é uma propriedade positiva.

– Axioma 4: Se uma qualidade é positiva, é necessariamente positiva.

Esse axioma afirma que, se uma propriedade é positiva, isso tem de ser assim; isto é, a propriedade tem de ser necessariamente positiva. Não seria positiva por acaso, ou contingentemente.

– Axioma 5: A existência de coisas com qualidade positiva (isto é, muito boas) é ela própria de qualidade positiva.

A partir daí pode-se provar um teorema mais ou menos esperado que diz o seguinte:

Teorema 1 (Coisas boas acontecem): Se A é uma propriedade positiva, então é possível que exista algo que tenha essa propriedade A.

Aparece então a definição formal de divindade. Algo é divino se ele tem todas as propriedades positivas. Aplicando o Teorema 1 ao Axioma 3, provamos o:

Teorema 2 (Ateísmo absoluto é impossível): É possível que algo divino exista.

Gödel define então o que é uma propriedade essencial e, através de alguns passos mais complicados, usando o Axioma 2 e o Axioma 4, prova o:

Teorema 3 (A essência do Divino): Se algo é divino, ser divino é sua essência.

Define-se então algo como indispensável quando esse algo, com sua essência (quando tem uma essência), deve existir. A partir daí, pelo Axioma 5, podemos obter o grande final:

Teorema 4 (Existência de Deus): Algo divino necessariamente existe.

A parte difícil, que é onde Gödel refina todos os argumentos anteriores, é a seguinte: estabelecemos que é possível que Deus exista (Teorema 1). Em outras palavras, podemos imaginar um mundo onde Deus exista. Também aceitamos, pelo Axioma 4, que, se algo é divino, sua existência é necessária.

Isso significa que o fato de podermos conceber um “objeto divino” em nossa imaginação necessariamente força sua existência no mundo real. Caso contrário, nossa concepção dele é logicamente incoerente. Estes passos estão formalizados na passagem do Teorema 2 (Ateísmo absoluto é impossível), que atesta a possibilidade da existência de Deus, para o Teorema 3, que salta para a necessidade da existência de Deus.

Em termos intuitivos, essa é a essência destilada da maioria das provas ontológicas: basicamente, existir é bom, e Deus é bom, então, uma vez que podemos conceber um Deus, isso leva sua existência para fora do mundo de nossa imaginação, ou seja, para o mundo real, porque, do contrário, nossa capacidade de raciocínio seria logicamente incorreta— e se assim for, não tem sentido nem mesmo pensar. No caso de Gödel, tudo isso é refinado e matematizado, evitando-se as armadilhas da linguagem natural.

Há, como deveríamos esperar, dúzias de objeções contra a prova de Gödel. O “corolário do Diabo” propõe que um ser do qual nada pior possa ser concebido existe no entendimento. Usando a forma lógica de Anselmo, o argumento conclui que, como existe esse ser maligno no entendimento, um ser pior ainda seria aquele que existe na realidade; assim, tal ser existe.

Mas a prova sofisticada de Gödel não permite isso. Há no sistema de Gödel uma assimetria entre positividade e negatividade em favor da positividade, o que evita que se possa usar um argumento semelhante ao de Gödel para provar a existência do Diabo. Pelo menos um conforto resultante da lógica moderna!

É duvidoso que Gödel acreditasse ter encontrado a prova final e irrefutável da existência de Deus. Seu profundo interesse na prova ontológica, em vez disso, era sua intenção de defender o teísmo de Leibniz. As premissas de Gödel, mais tarde, mostraram conter um pequeno problema lógico conhecido como colapso modal.

Gödel compartilhou um manuscrito com o matemático Dana Scott nos anos 1970. Quando Scott circulou a prova conhecida para outras pessoas, ele deu a elas uma versão ligeiramente diferente, adicionando um pequeno ponto que corrigia Gödel, mas que passou despercebido.

Por mais de quatro décadas, um agente não humano percebeu um outro pequeno erro, cujas consequências permaneceram despercebidas, apesar de inúmeras análises e críticas do argumento.

Os seres humanos não notaram o erro apesar de anos de atenção à prova, até que um provador de teorema automatizado, em 2016, foi capaz de detectar a inconsistência em segundos. Esse trabalho foi liderado por dois lógicos especialistas em inteligência artificial, sendo um deles o brasileiro Bruno Woltzenlogel Paleo, à época trabalhando em Viena.

Essa participação de uma máquina no argumento mais refinado que a natureza humana já pôde produzir a respeito da religião é altamente relevante para a atividade científica, pois mostra, para além do fato que uma lenda matemática como Kurt Gödel, conhecido por sua atenção à precisão, pode cometer erros, que máquinas podem cooperar positivamente com o interesse humano. Nem sempre cooperam, mas podem cooperar.

E a vantagem de um sistema tão sofisticado quanto o de Gödel para uma das questões mais fundamentais da natureza humana é que, se alguém não aceita que a matemática prova a existência de Deus, menos ainda ela prova a existência do Maligno.

Referências:

J. N. Findlay. Can God’s existence be disproved? Mind 57 (226):176-183 (1948)

Ch.Benzmüller and B. W. Paleo. The Inconsistency in Gödel’s Ontological Argument:A Success Story for AI in Metaphysics. Proceedings of the Twenty-Fifth International Joint Conference on Artificial Intelligence (IJCAI-16)

Yujin Naga. The ontological argument and the Devil. The Philosophical Quarterly Vol. 60, No. 238 ISSN 0031-8094 January 2010 doi: 10.1111/J.1467-9213.2008.603.

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Como nascem os mitos? Autor de “O Senhor dos Anéis” responde https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/01/03/como-nascem-os-mitos-autor-de-o-senhor-dos-aneis-responde/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2018/01/03/como-nascem-os-mitos-autor-de-o-senhor-dos-aneis-responde/#respond Wed, 03 Jan 2018 13:05:04 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2018/01/thor-180x153.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=4725 Hoje, 3 de janeiro, é o aniversário de J.R.R. Tolkien (1892-1973), o autor de “O Senhor dos Anéis” e um dos responsáveis por criar a literatura de fantasia moderna. Durante a maior parte de sua vida, porém, o trabalho principal de Tolkien foi como pesquisador e professor da Universidade de Oxford, trabalhando como filólogo — uma espécie de “arqueólogo das palavras” –, estudando formas antigas do inglês e de outras línguas germânicas e as obras literárias que acompanhavam esses idiomas. Nada melhor, portanto, do que marcar a data com as reflexões teóricas do britânico sobre como nascem os mitos. O trecho abaixo vem do ensaio “On Fairy-Stories”, que eu tive o prazer de traduzir durante a minha dissertação de mestrado na USP.

“Em certa época era a visão dominante que toda matéria do tipo [mitológico] era derivada de ‘mitos da natureza’. Os deuses do Olimpo eram personificações do Sol, da aurora, da noite e assim por diante, e todas as histórias contadas sobre eles eram originalmente mitos (alegorias teria sido uma palavra melhor) das mudanças e processos elementais maiores da natureza. Épico, lenda heroica, saga etc. localizavam então essas histórias em lugares reais e as humanizavam ao atribuí-las a heróis ancestrais, mais poderosos que homens e contudo já homens. E finalmente essas lendas, diminuindo, tornavam-se contos folclóricos, ‘Märchen’ [contos de fadas, em alemão], histórias de fadas — contos de ninar.

Essa pareceria ser a verdade quase de ponta-cabeça. Quanto mais perto o assim chamado ‘mito da natureza’, ou alegoria dos grandes processos naturais, está de seu suposto arquétipo, menos interessante ele é, e de fato menos é um mito capaz de lançar qualquer iluminação que seja sobre o mundo. Vamos assumir para o momento, como essa teoria assume, que nada realmente existe de correspondente aos ‘deuses’ da mitologia: nenhuma personalidade, apenas objetos astronômicos ou meteorológicos. Ora, então esses objetos naturais podem apenas ser adornados com um significado e uma glória pessoal por um dom, um dom de uma pessoa, de um ser humano. Personalidade só pode ser derivada de uma pessoa. Os deuses podem derivar sua cor e beleza dos altos esplendores da natureza, foi o Homem que as obteve para eles, abstraiu-as de Sol e Lua e nuvem; sua personalidade eles a obtêm diretamente do Homem; a sombra ou brilho de divindade que está sobre eles, eles a recebem através do ser humano do mundo invisível, o Sobrenatural. Não há distinção fundamental entre as mitologias superiores e inferiores. Seus povos vivem, se vivem de algum modo, pela mesma vida, tal como no mundo mortal vivem reis e camponeses.

Tomemos o que parece um caso claro de mito da natureza ‘olímpico’: o deus nórdico Thórr. Seu nome é Trovão, de que Thórr é a forma nórdica; e não é difícil interpretar seu martelo, Miöllnir, como relâmpago. Contudo, Thórr tem (até onde nossos registros tardios mostram) um caráter, ou personalidade, muito marcados, que não podem ser encontrados no trovão ou no relâmpago, mesmo que alguns detalhes possam, de certa maneira, ser relacionados a esses fenômenos naturais: por exemplo, a barba vermelha do deus, sua voz forte e seu temperamento violento, sua força desastrada e esmagadora. Mesmo assim, é fazer uma pergunta sem muito significado se inquirirmos: o que veio primeiro, alegorias da natureza sobre trovão personalizado nas montanhas, rachando pedras e árvores; ou histórias sobre um fazendeiro irascível, não muito esperto, de barba ruiva, de uma força além da medida comum, uma pessoa (em tudo salvo na mera estatura) muito semelhante aos fazendeiros do Norte, os ‘baendr’ [camponeses] por quem Thórr era especialmente amado? Para uma imagem de tal homem pode-se sustentar que Thórr tenha ‘diminuído’, ou dela pode-se sustentar que o deus tenha sido aumentado. Mas duvido que qualquer uma das visões esteja certa — não por si sós, não se você insistir que uma dessas coisas deve preceder a outra. É mais razoável supor que o fazendeiro apareceu no exato momento em que o Trovão ganhou uma voz e um rosto; que havia um rosnado distante de trovão nas colinas toda vez que um contador de histórias ouvia um fazendeiro com raiva.”

Feliz aniversário, professor Tolkien!

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Darwin versus Deus: mitos e fatos https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/05/22/darwin-versus-deus-mitos-e-fatos/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/05/22/darwin-versus-deus-mitos-e-fatos/#respond Sun, 22 May 2016 12:31:33 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/05/darwinedeus-e1463916063203-180x54.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3677 É a batalha dos barbudos? Não exatamente, senhoras e senhores. Sim, é óbvio que o desenvolvimento da teoria da evolução teve um peso importante para os questionamentos contra a religião no fim do século 19 e até hoje, mas a relação do próprio Darwin com a ideia de uma divindade foi muito mais complexa do que o velho estereótipo do “homem que matou Deus”. Neste novo vídeo do canal do blog no YouTube, tento explicar como as ideias darwinianas sobre o Criador se desenvolveram.

E, para mais informações, confira um post meu sobre o filme “Criação” com dados úteis:

http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2015/10/30/ja-matou-deus-hoje-senhor-darwin/

Dois textos em inglês sobre o mesmo tema:

https://www.faraday.st-edmunds.cam.ac.uk/Issues_Spencer2.php

https://www.faraday.st-edmunds.cam.ac.uk/Issues_Spencer2.php#historical

Uma das melhores biografias de Darwin, em dois volumes:

https://www.amazon.com.br/Charles-Darwin-Viajando-Janet-Browne/dp/8539300877/ref=sr_1_4?ie=UTF8&qid=1463915837&sr=8-4&keywords=janet+browne

https://www.amazon.com.br/Charles-Darwin-Poder-Lugar-Browne/dp/8539301067/ref=sr_1_2?ie=UTF8&qid=1463915837&sr=8-2&keywords=janet+browne

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Dureza pagã https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/04/15/dureza-paga/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/04/15/dureza-paga/#respond Fri, 15 Apr 2016 20:26:00 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/04/1280px-Marco_Aurelio_bronzo-180x81.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3579 Quem acha que o paganismo da época romana era só festividades, sátiros, bacantes e orgias está precisando conhecer filósofos como o ex-escravo Epicteto (55 d.C.-135 d.C.) e o imperador Marco Aurélio (121 d.C.-180 d.C.). Adeptos da escola estoica, esses sujeitos tinham uma visão duríssima das forças cósmicas do Destino.

Epicteto aconselhava: “Toda vez que beijares teu filho, murmura: Amanhã, podes estar morto”. Quando seus conhecidos reagiam a isso dizendo “Que palavras de mau agouro”, ele retrucava: “De modo algum, elas apenas indicam um ato da natureza. Seria de mau agouro falar da colheita do trigo maduro?”

Marco Aurélio, fã de Epicteto, não só concordava como completava: “Em vez de dizer ‘Que desafortunado sou, por isso ter me acontecido’, cada um deveria dizer ‘Que afortunado sou, por isso ter acontecido e ainda assim estou são, nem esmagado pelo presente, nem aterrorizado com o futuro’ “.

É uma visão vertiginosamente desesperançosa. Mas não dá pra negar que é um bocado corajosa.

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Grego, ateu e engraçadinho https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/02/25/grego-ateu-e-engracadinho/ https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2016/02/25/grego-ateu-e-engracadinho/#respond Thu, 25 Feb 2016 15:24:16 +0000 https://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/files/2016/02/Diagoras_de_Melos_in_Ecoles_d_Athenes-180x165.jpg http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/?p=3421 Diágoras de Melos (um filósofo contemporâneo de Sócrates, que teve o auge de sua fama por volta do ano 415 a.C.), parece ter sido uma figuraça. Os indícios sobre o sujeito que chegaram até nós, reunidos no livro “Battling the Gods: Atheism in the Ancient World”, de Tim Whitmarsh (“Lutando contra os Deuses: Ateísmo no Mundo Antigo”), sugerem que ele teria sido um dos primeiros intelectuais ateus da história (bem, o apelido dele em grego era “ho atheos”, ou “o ateu”). Três historinhas sobre a figura dão uma ideia do seu senso de humor antirreligioso:

1)Dizem que ele deixou de acreditar nos deuses depois que um poeta fez um juramento solene (em nome das divindades gregas, claro) dizendo que não tinha plagiado uma obra do próprio Diágoras. Na sequência, o tal poeta se pôs a recitar um texto que era uma cópia descarada das composições do pensador. Como os deuses não puniram o plagiador, Diágoras teria virado ateu.

2)Tempos depois, ao sentir frio, ele cortou em pedacinhos uma estátua de madeira do herói/semideus Héracles (ou Hércules, para nós) e fez uma fogueira com ela, dizendo algo como: “Héracles, eis aí teu décimo-terceiro trabalho: aquecer-me” (lembre-se de que o herói ficou famoso por realizar 12 trabalhos, matando e capturando monstros míticos).

3)Certa vez, ele estava num navio e uma tempestade estava quase fazendo a embarcação naufragar, o que levou a tripulação a culpá-lo por atrair a ira dos deuses (uma situação que lembra a do livro bíblico de Jonas, aliás). Só que o filósofo viu outro navio ali perto que estava quase afundando na mesma tormenta e perguntou: “Será que eles também têm um Diágoras por lá”? (O engraçadinho sobreviveu para contar a história.)

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