Primo da Semana: bonobo

Reinaldo José Lopes

Enrolado que andei, acabei não conseguindo fazer o Primo da Semana nos sete dias que passaram, mas ei-lo de volta. E, para manter a linha Frans de Waal do post anterior, vamos de bonobo (Pan paniscus).

Mãe bonobo com filhote em santuário na República Democrática do Congo

Sempre achei curioso que usassem o nome de Pan (ou Pã, se você for um purista da Última Flor do Lácio), o deus grego tocador de flauta, perseguidor de ninfas e com pés e chifrinhos de bode, para designar o gênero dos chimpanzés e dos bonobos. Mas, ao menos no caso destes últimos, acho que o apelido, e em especial a associação entre Pã, seu séquito de sátiros e o desejo sexual à solta, faz um bocado de sentido, porque esse negócio de transar é mesmo com os bonobos.

Chimpanzés comuns também são promíscuos, mas muitas observações, em especial as de cativeiro, mostram que entre os bonobos o sexo é usado como um difusor multipropósito de tensões sociais. E envolve tanto o sexo heterossexual “tradicional” quanto todas as modalidades temidas pelo Tim Maia quando ele diz que só não vale dançar homem com homem nem mulher com mulher.

Bem, com os bonobos vale, Tim. As bonobas, em particular, são conhecidas pela prática do esfregamento GG (genitália com genitália), popularmente chamada de “hoka-hoka” na África Central, região natal dos bichos. É, o nome é a onomatopeia mais vívida que eu já vi também.

Como diferenciar um bonobo de um chimpanzé comum? Verifique, primeiro, se o bicho tem lábios suspeitamente vermelhos e delicados. Bonobos também tendem a ser relativamente esbeltos e miúdos quando comparados aos mais bombados chimpanzés, e são mais elegantes quando adotam ocasionalmente a postura ereta, além de terem braços mais curtos.

Tudo indica que a relativa — nem de longe absoluta — falta de agressividade dos bonobos tem a ver com a predominância social das fêmeas, em vez do reinado masculino dos grupos de chimpanzés. Em comum, no entanto, as espécies têm o fato de que as fêmeas é que se transferem de um grupo para o outro quando chega o momento.

Restam entre 30 mil e 50 mil bonobos na natureza — a espécie ocupa a categoria de ameaçada na Lista Vermelha mundial da IUCN (União Internacional de Conservação da Natureza).

Comentários

  1. Fiquei bem empolgado quando anunciaram esse blog, mas só sobrou frustração. Esperava bem mais.

    1. Se você puder me dizer exatamente o que esperava, Diego, quem sabe eu não consigo suprir a sua frustração? 😉 Abraço!

      1. Esperava o que está escrito no seu “programa de governo” no primeiro post. Dispenso coisas que eu poderia encontrar na Wikipédia, como o “primo da semana”.
        Grato pela atenção.

        1. Your wish is my command. Quem sabe o post de hoje te anime. Mas o primo da semana é, bem, só uma vez por semana 😛

  2. Há algum tempo atrás homofóbicos diversos argumentavam contra a prática homossexual pq era uma coisa contra a natureza já que não era encontrada no reino animal. Lembro uma vez um debate na TV de não sei quem com a Marta Suplicy, há mais de 20 anos, em que o sujeito argumentava isso. Nada como o conhecimento pra romper com as nossas antigas crenças. Já foi observado comportamentos homossexuais em várias espécies mamíferas, e com propósitos diferentes, no caso especial dos bonobos ele parece ter a função social de mitigar os conflitos. Pra mim os bonobos são uma espécie de hippies do mundo dos primatas: “faça amor mas não faça a guerra”. Comportamento muito diferente dos chimpanzés.

      1. Caro Reinaldo,
        achei muito imprópria sua comparação entre primatas e nós. Eles nem sabem o que são na natureza e muito menos sobre nós.

        Animais agem por instinto, não tem senso moral, pois são irracionais lembra-se?! O homem, como os próprios homossexuais alegam, agem por inteligência e afeto. Logo, um animal agir homossexualmente, na cabeça deles, é como se agisse de modo heterossexual e natural, ao contrário de nós que podemos decidir o que fazer e o que não fazer. Somos racionais, seres com volição, cognição e moral e não submetidos a meros instintos naturais.

        1. Cícero, me desculpe, mas a comparação entre humanos e primatas é, sim, apropriada. Você precisa acompanhar a literatura sobre o assunto — aliás, vou te fazer esse favor e comentá-la em breve no blog. Essa separação absoluta entre “racional” e “irracional” é falaciosa. Grandes macacos fabricam instrumentos, planejam o futuro, são capazes de se reconhecer no espelho, recordam parentes e amigos mesmo após décadas de separação. Sobre a questão sexual, a coisa pode ser mais nebulosa, mas não seja tão rápido em menosprezar a consciência que eles têm de sua ações.

          1. Reinaldo,
            Alguns pássaros, focas, castores também usam objetos como ferramentas. Cães também se reconhecem no espelho.

            Sobre a tal “consciência”, qualquer animal: primatas, cachorros, gatos associam imagens do habitat (paisagens) como seu local de convívio (casa). Mas associação não é ler, entender e explicar por ex. uma estorinha de gibi da Mônica.
            Não sabem que “casa” significa lar, habitação. Não sabem que são símios no mundo em comparação a outras espécies. Não podem negar seus instintos naturais como o homem. Não pensam, filosofam e emitem conceitos, dogmas espirituais, morais, éticos etc.

            Não apenas na área cognitiva e razão, mas em vários outros atributos nota-se o abismo de diferenças entre nós e primatas. Apesar deles serem inteligentes, não se assemelham à inteligencia real e metafísica e introspecção peculiares ao homem.

          2. Somente os primatas e golfinhos se reconhecem no espelho. Golfinhos tem consciência própria também.
            Achar que só humanos tem características especiais surgidas do nada, ou dadas por um ser imaginário invisível é uma visão tão ultrapassada, que demonstra um total desconhecimento das pesquisas sobre comportamento animal, psicologia evolutiva, e antropologia, atuais.
            Até a neurociência tem mostrado nos últimos 20 anos que a mente humana funciona do jeito que funciona porque evoluiu de formas semelhantes á outros mamíferos e outros animais. Continuar achando que a espécie humana é mágica e superespecial, como se de repente tivesse surgido a inteligência e as cractarísticas que nos faz humanos é muita pretensão.

  3. Reinaldo, certeza que na foto é uma mãe com o filhote? Aquela massa rosa embaixo da perna do adulto não seria uma “bolsa testicular”?

    1. Oi Leonardo, ou muito me engano ou aquilo é um clitóris. Sim, clitóris de bonobas são imensos.

      1. Falando em clitóris imensos, seria interessante falar do particular sistema genital das fêmeas de hienas malhadas (sim, aquelas que sempre entram em treta com leões), que não possuem uma vagina própriamente dita, mas um clitóris com um buraco na ponta, pelo qual saem as hieninhas e cujo primeiro parto é… um parto, para os daí em diante serem mais sossegados porque ela já está mais alargada.

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