Não é um fóssil vivo: équidna

Reinaldo José Lopes

Vamos ser claros: a ideia de “fósseis vivos” não é a descrição mais precisa do mundo para criaturas que retiveram, por um motivo ou outro, características consideradas primitivas. Nenhum ser vivo para no tempo, por mais que suas características pareçam ser “do tempo dos dinossauros”. Basta olhar as taxas de mutação do DNA dessas criaturas, entre outras coisas, para ver que o tique-taque do relógio evolutivo continua correndo o tempo todo.

Mas é claro que é impossível não notar a significância do fato de que, por exemplo, uns poucos mamíferos vivos hoje, os monotremados, ainda botam ovos. Entre eles, a minha favorita sempre foi essa mocinha aqui embaixo:

Cuti-cuti-cuti do tio!

 

Essa, senhoras e senhores, é uma équidna-de-bico-curto (Tachyglossus aculeatus), nativa da Austrália e da Nova Guiné — o filhotinho de uma. É um bicho fossorial, ou seja, adaptado para cavar, capaz de tolerar altas concentrações de gás carbônico debaixo da terra e cuja única defesa natural são os espinhos da versão adulta:

Équidna adulta: armada e mais ou menos perigosa, mas ainda assim fofa

 

É comum as pessoas pensarem nas équidnas como parentes próximas dos ornitorrincos (aqueles do bico de pato e rabo de castor), mas isso só é verdade na mesma medida em que seres humanos são parentes próximos dos cavalos porque as fêmeas de ambas as espécies produzem placentas. OK, ornitorrincos também botam ovos, mas a estimativa é que as linhagens dos dois bichos tenham divergido na época da extinção dos dinossauros, lá se vão 65 milhões de anos.

Acho uma tremenda injustiça chamarem um bicho tão simpático com o nome do monstro Équidna, a “mãe dos monstros” da mitologia grega – essa ninfa com metade do corpo de serpente e metade de mulher gerou seres como Cérbero, o cão de três cabeças do Hades (a região dos mortos), e a Hidra de Lerna, serpente de muitas cabeças (sete, nove ou 50, as contas variam) destruída pelo herói Héracles/Hércules.

Como as équidnas do mundo real projetam um campo de força de fofice, é claro que os mitos sobre elas são bem mais simpáticos. Alguns grupos de aborígines australianos contam que o bicho surgiu quando um grupo de caçadores tentou abater um vombate (marsupial peludo que parece um pequeno urso) e jogou tantas lanças no bicho que elas viraram os espinhos da équidna.

Comentários

  1. Caro Reinaldo, é bom que os leitores tomem consciência de que os tais “fósseis vivos” é uma expressão que não corresponde totalmente a esse significado. Muitos pensam que a espécie manteve inalterada todas as suas características, quando na verdade, ela mantém uma ligeira semelhança com a espécie fossilizada das rochas, e é claro, sofreu algumas adaptações ao longo das eras geológicas. Tomemos como exemplo, o Celacanto, prato cheio para os criacionistas, que procuram utilizar o exemplo para refutarem a Evolução. O que poucos sabem é que o Celacanto encontrado em 1938 pertence à mesma família de algumas espécies fossilizadas e não é a espécie fossilizada, confusão muito comum.
    Mas o fato em si de mamíferos colocarem ovos, assim como os marsupiais é uma clara evidência de que a classe mammalia originou-se no período Mesozoico e evoluíram, sendo que algumas formas como o Ornintorrinco e o Équidna, dos monotremados sobreviveram até os nossos dias, desta linhagem tão antiga. É uma pena que os sinapsídeos da era Paleozóica não tenham deixado descendentes. Seria bom que explicasse aos leitores do porque, na Austrália, como uma das provas da Evolução, antes da colonização britânica, só se encontravam mamiferos marsupiais.

  2. Acho uma tremenda injustiça chamarem um bicho tão simpático com o nome do monstro Équidna, a “mãe dos monstros” da mitologia grega, tambem concordo

  3. Sem falar que não tem nada a ver fisicamente a Equidna da mitologia grega com o mamífero monotremado diferente de outros animais reais que realmente se parecem com os seres mitológicos dos quais receberam o nome, como a harpia, a píton, os sirênios, as ninfas e a chimera.

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