Diário do caçador de dinossauros
Dia de dinossauro “novo” no Brasil é dia de alegria, gente bonita. Tem matéria minha na Folha de hoje pra contar a história do novo bicho, mas achei que seria bacana colocar aqui a íntegra do relato de William Nava, do Museu de Paleontologia de Marília (SP), um dos persistentes caçadores de fósseis do Brasil, sobre como ele topou com o finado dino pescoçudo. Confiram o que ele me contou por e-mail. Com vocês, o diário do caçador de dinossauros.
“Em janeiro do ano 2000 estive na Unesp de Presidente Prudente por conta de assuntos relacionados à disciplina de História que eu cursava na Unesp, mas no campus de Assis.
Na saída de P. Prudente observei num terreno próximo à rodovia Raposo Tavares vários blocos de arenitos que haviam sido retirados das proximidades. Naquela ocasião o trecho dessa estrada estava sendo ampliado, por isso a remoção das rochas.
Resolvi investigar, claro, pois o trabalho de todo paleontólogo é investigativo, precisa analisar as rochas na busca por possíveis fósseis. Costumo dizer que é um trabalho de detetive, de Sherlock Holmes, rsrsrs.
E qual não foi a surpresa ao me deparar com inúmeros restos ósseos aflorando de alguns desses blocos de arenito e siltito (outro tipo de rocha). São rochas da Formação Adamantina, Cretáceo Superior. Logo de cara fui encontrando pedaços de costelas, vértebras, alguns restos ósseos já destruídos pelo tempo, todos associados a dinossauros, além de dentes de dinossauros herbívoros, carnívoros e dentes também de crocodilianos. Havia igualmente muitos coprólitos (excrementos fossilizados, alguns contendo escamas de peixe incrustadas), restos de tartarugas e de peixes.
Num dos grandes blocos que jaziam no terreno notei diversos ossos muito próximos: alguns estavam soltos da rocha, outros ainda presos ao arenito. De qualquer forma me pus a coletá-los, antes que se perdessem. Coletei vértebras cervicais, partes ósseas da cintura pélvica (ísquio e ílio bem fragmentados), parte das vértebras sacrais incompletas; costelas, um pequeno bloco de arenito fino com um osso “meio curvo” que depois, em Marília, concluí que era fragmento de dentário/mandíbula, mas não dava para ver dente algum devido à posição na rocha; um dente isolado, uma tíbia quase completa, um metatarsal e falanges. Encontrar esses fósseis foi um momento emocionante, pois a morfologia dos ossos me indicou estar diante do que era parte do esqueleto de um titanossauro.
Trouxe tudo para Marília, preparei (retirada de sedimentos) cuidadosamente alguns materiais, colei aqueles que estavam em condições de reconstituição, cataloguei como pertencentes a um dinossauro saurópode, como disse, um titanossauro, e os deixei juntos, dentro de caixas.
Então, em 2004, parte dele foi para o RJ, para melhor preparação.
Enfim, os estudos comparativos utilizando principalmente o dentário, revelaram um novo gênero e espécie de titanossauro para o Brasil. Como partes do crânio desses animais são “ouro” nas rochas sedimentares do Cretáceo do Brasil, esse achado revela-se de grande importância, pois fornece inúmeras informações acerca da morfologia do animal, e outros dados que o artigo traz e que a Elaine [Machado, primeira autora da pesquisa] poderá te falar melhor.”
Reinaldo quem é o autor das ilustrações? São de um naturalidade excepcional.
Já que você falou em “restos” de peixes etc, logo os criacionistas irão dizer que é uma “prova do dilúvio”. Aliás, nem importa a datação radiométrica: são provas do diluvio. Vamos aguardar os comentários. Claro que nunca se encontram girafas e coelhos nesses extratos, mas não importa: é prova do diluvio. Vamos ver.
Oi, tem a assinatura meio escondidinha no canto da ilustração, o autor é o Rodolfo Nogueira. Ele é muito bom mesmo. Abraço!
Parabéns pelas descobertas!!
Desculpe minha total ignorância no assunto, mas seria possível para um reles mortal, digo transeunte, identificar tais fósseis nestas rochas? (sem nehum treinamento)
Talvez um manual, ou algo do tipo, voltado para o publico leigo poderia trazer mais possíveis dinossauros a vida novamente.
Abraço!
Oi Fernando, uma coisa simples que me vem à cabeça é o seguinte: se você passar por um barranco ou corte de estrada e vir o que parecem ser ossos incrustados na pedra, é bom dar o alarme.
Rlopes, para mim é espantosa a percepção reconstitutiva de paleontólogos como William Nava, do Museu de Paleontologia de Marília (SP), um dos persistentes caçadores de fósseis do Brasil, como você postou.
A reconstituição de um animal extinto a partir de suas ossadas é muito fantasiosa, pois não há estruturas de partes moles para se basear e nem como se daria o enchimento das cavidades. Recentemente fizeram reconstituições hipotéticas a partir de esqueletos de animais conhecidos, usando o mesmo critério dos dinos. O resultado não poderia ser outro: surgiram monstros que não tem absolutamente nada a ver com os respectivos bichos. Ou seja, nunca saberemos qual seria a real aparência desses animais extintos, e muito menos podemos sequer imaginar o que já existiu por aí e que não deixou o menor vestígio
Fossil hunter, concordo plenamente com você quando afirma que “A reconstituição de um animal extinto a partir de suas ossadas é muito fantasiosa, pois não há estruturas de partes moles para se basear e nem como se daria o enchimento das cavidades.” O elogio que fiz ao dizer ” … para mim é espantosa a percepção reconstitutiva de paleontólogos como William Nava, refere-se à habilidade de montar fragmentos “ósseos” petrificados, que não tem nada de fantasiosos e cuja montagem segue o rigoroso caminho dos encaixes como um quebra cabeça, em geral incompleto ou mesclado com material fóssil de outro espécime, o que não tem nada de imaginário. Você concorda ?
Ap
Concordo em parte, pois a imagem que está aqui representada obviamente é fantasiosa. Juntar peças de um esqueleto como um quebra cabeças evidentemente é muito mais fácil, embora necessite de uma paciência de Jó
Fossil hunter, agradeço a atenção de seu retorno.
Louvável o Trabalho de William Nava.
Esta descoberta abrilhanta mais sua dedicação.
Parabéns, amigo!!!
Descoberta maravilhosa e muito rica para o Brasil!
Hunter o AP está corretíssimo. Mas há a anatomia comparada e há programas que reconstituem digitalmente os músculos. Claro que a cor da pele ainda fica ao sabor do artista. Mas peles já foram encontradas fossilizadas e são escamosas, o que já é um principio. Se olhar os dinossauros dos museus do inicio do século XX e os de hoje, verá como mudaram a postura dos esqueletos. A paleontologia possuiu muitos instrumentos e disciplinas para reconstituir tais animais extintos. Se não trata de puro palpite ou achismo. Informe-se mais.
Programas que reconstituem músculos são sim baseados no achismo do programador, pois não há referencial em que se basear. Não temos nenhum dinossauro vivo atualmente. O fato de se encontrar raríssimos fragmentos de pele escamosa não significa necessariamente que todos os demais esqueletos de outras espécies também o sejam (o mesmo se aplica em relação a fragmentos de penas)
Prezado D.d.u.i.p.d., obrigado pela gentileza de sua assertiva.
Muito pelo contrário Hunter, os programas são baseados na anatomia comparada de outros animais. Por exemplo, os grandes saurópodes tinham uma estrutura similar à dos elefantes para manterem seus enormes corpos. Seus membros assemelhavam-se a colunas, como o dos elefantes e isto é um bom ponto de partida. Reconheço que nunca saberemos ao certo detalhes da sua epiderme, mas a musculação não é um achismo. Outra. Muitas fósseis, conservaram a silhueta de seus possuidores, o que nos dá uma boa ideia do seu aspecto físico exterior. Veja por exemplo, os fósseis chineses dos dinos que deram origem às aves e verá que os estratos conseguiram manter as estruturas mais delicadas dos corpos, como penas, até pigmentos.
Se podemos reconstituir um Mamute, só a partir dos ossos, – apesar de que encontramos fósseis intactos – o mesmo se dá com os esqueletos. A paleontologia é uma disciplina estabelecida desde o século XIX e serve-se cada vez mais da tecnologia para fazer as reconstituições. Claro, que nunca teremos um T-Rex vivo para sabermos como era sua real aparência, o odor que devia emitir, o som que produzia etc. Mas nos dá uma precisão de mais de 95%. E a medida que os métodos forem se sofisticando, mas precisão se encontrará para reconstituir os achados. Não perca as esperanças.
Mas só de olhar seus esqueletos, já dá para termos uma visão de como eram, mesmo sem cobertura orgânica.
D.d.u.i.p.d. Muito bem feito seu comentário. Muito proveitoso como leitura. Parabéns.
Assistam ao Planet Dinosaur.
Como A BBC se valendo das leis de “direitos autorais” veda a publicação no You tube, prestando um grande desserviço ao conhecimento, nos resta o Piratebay de onde baixei esse documentário. Só que está em english.
Aliás, vcs já perceberam que tudo o que é bom no youtube está sumindo devido à invocação das leis de direitos autorais?
Eu diria que esta é uma daquelas leis de incentivo à burrice e a sonegação de informações.
Por favor, não acho que autores de livros, artigos, filmes, documentários e os editores não devam ser protegidos.
Só que algo que sai na TV e não se tem um DVD para comprar, deveria ser deixado para quem quisesse assistir, bem como livors esgotados deveriam ser disponibilizados na rede ou possíveis de serem reprografados.
http://vimeo.com/30692417
(legendado em espanhol)
Excelente documentário Elyson. Ainda tenho um DVD que grava e é claro: gravei o documentário. A perfeição chegou a um ponto que parecem reais.