Vikings com senso estético

Reinaldo José Lopes

Acabei de ler recentemente um livro sensacional, “The Rise of Western Christendom” (“A Ascensão do Cristianismo Ocidental”), do historiador irlandês Peter Brown. Num passeio que vai do ano 200 ao ano 1000 da nossa era, Brown conta como uma pequena seita do Mediterrâneo Oriental acabou se espalhando por todos os cantos da Eurásia entre o fim da Antiguidade e meados da Idade Média. Um dos principais temas do livro é como cada população dessa área vasta, da Irlanda às fronteiras da China, aprendeu a lidar com as novas crenças e a pensar seu próprio passado “pagão”.

E uma das anedotas mais interessantes tem a ver com os aventureiros, soldados e comerciantes escandinavos, os chamados Rus (é, daí vem o nome “Rússia”) que acabaram fundando reinos na Europa Oriental. Pra todos os efeitos, esses caras eram vikings, adoradores de Odin e de Thor. Mas veja como uma crônica escrita em Kiev (atual Ucrânia) por esses guerreiros escandinavos relata os motivos pelos quais nossos amigos vikings resolveram virar cristãos ortodoxos ligados a Bizâncio:

“Fomos até os alemães [católicos ocidentais] e os vimos realizando muitas cerimônias em suas igrejas. Mas não vimos glória lá Então fomos até os gregos […] e eles nos levaram para os edifícios onde veneravam seu Deus, e não sabíamos se estávamos no céu ou na Terra. Pois na Terra não há tal esplendor ou tal beleza. Só sabemos que Deus lá vive entre os homens. Pois não conseguimos esquecer aquela beleza”.

Coração de viking é sensível, pelo visto. Quem diria?