Biologia, teu sobrenome é Queiroz
Foi um bocado divertido ler o livro “The Monkey’s Voyage” (“A Viagem do Macaco”), do biólogo americano Alan de Queiroz, e contar um pouco da perspectiva histórica sobre a origem da biodiversidade que o livro traz em reportagem na edição de hoje desta Folha. (Resumo da ópera: travessias oceânicas de plantas, insetos, répteis, aves e até anfíbios e mamíferos são absurdamente comuns na história do planeta e ajudaram a forjar espécies conhecidíssimas e muito importantes ecologicamente, como os nossos macacos sul-americanos, que vieram da África). Mas mais divertido ainda foi quando eu me dei conta do seguinte: hmmm, peraí. Alan DE QUEIROZ? Biólogo americano, interessado em biodiversidade? Onde é que eu já vi isso antes mesmo?
A resposta era óbvia e ficou clara logo nas primeiras páginas do livro. Alan é irmão de Kevin de Queiroz, também biólogo, a respeito de quem eu já escrevi diversas vezes (a primeira foi neste texto para o finado caderno Mais! desta Folha. Putzgrila, faz mais de dez anos…). Se você está se perguntando sobre o sobrenome suspeitamente com cara de português da dupla, veja como o próprio Kevin explicou sua história familiar:
“Sim, o meu sobrenome é português, mas o meu avô era mexicano e se chamava Padilla. Ele mudou de nome várias vezes, volta e meia adotando nomes portugueses. Queiroz é o nome que ele usava quando meu pai nasceu.” E a família ainda tem ascendência parcialmente japonesa. “Acho que meus nomes e meu sangue são bem misturados”, brinca. Não tem quem diga 😛
As coincidências entre os dois irmãos vão além do sangue, dos nomes e do curso de graduação. Ambos acabaram sendo herpetólogos — especialistas em répteis e anfíbios –, por exemplo. E ambos têm um gosto apurado na hora de escolher seus temas de pesquisa, sempre enfocando algumas das grandes questões teóricas da biologia moderna.
Kevin, por exemplo, é uma das mentes por trás do polêmico PhyloCode, um novo sistema de classificação dos seres vivos que propõe deixar de lado categorias clássicas, como família e ordem, por exemplo, e definir suas classificações exclusivamente com base nas relações evolutivas entre as espécies classificadas. Já o novo livro de Alan é uma exploração bastante detalhada, bem escrita e bem humorada, de como os biólogos (bem, originalmente, os naturalistas) pensaram as relações entre espécies que, apesar de separadas por oceanos, pareciam ter parentesco entre si.
Um dos pontos mais interessantes de “The Monkey’s Voyage” é justamente mostrar como a ciência também não está isenta de modas e de vieses, com o progresso da pesquisa às vezes travado (graças a Deus, temporariamente, em geral) por pesquisadores que só conseguem pensar dentro de um paradigma que eles mesmos defendem, sem ouvir opiniões divergentes.
Longa vida, portanto, à carreira da família Queiroz na biologia!
——
Quer saber quem sou? Confira meu currículo Lattes
Siga-me no Twitter ou no Facebook
Conheça “Além de Darwin”, meu primeiro livro de divulgação científica