Genética e raças humanas – versão do diretor
A Folha de hoje traz uma versão curtinha da reportagem/resenha que fiz sobre o novo livro do respeitado jornalista de ciência britânico Nicholas Wade, ex-“New York Times”, sobre as raízes biológicas das raças humanas. Abaixo, segue a “versão do diretor”, já que eu ando escrevendo muito mais do que cabe ultimamente. Tem muito mais de onde veio essa, hehehe… em breve, publicarei por aqui a íntegra da entrevista que fiz com Wade e minha opinião mais detalhada sobre o livro. Divirtam-se!
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As raças humanas não seriam mera “construção social”, como dizem antropólogos e pensadores de esquerda, mas entidades com bases biológicas reais. Mais importante ainda, as diferenças genéticas entre as raças poderiam até explicar, em parte, o fato de europeus terem criado nações desenvolvidas, enquanto africanos ainda sofrem com a pobreza e as guerras tribais.
Essas são as principais teses do novo livro do jornalista de ciência britânico Nicholas Wade, 72, intitulado “A Troublesome Inheritance” (“Uma Herança Problemática”), que acaba de ser publicado nos EUA. Após quase 50 anos de carreira, 30 deles como um dos principais nomes da prestigiosa seção de ciência do diário americano “New York Times”, Wade resolveu mexer num dos maiores vespeiros da pesquisa moderna – são raros os cientistas que se arriscam a defender em público as teses da obra.
Para o autor, no entanto, essa cautela tem um grande componente de autocensura politicamente correta. O estudo cada vez mais detalhado do genoma humano indicaria, segundo ele, que há motivos para considerar as raças humanas como biologicamente distintas.
MANTRA
Os principais argumentos de Wade em favor dessa ideia são condensados numa espécie de mantra com três palavras-chave, que ele repete ao longo de todo o livro. Os dados de DNA mostram que a evolução humana é “recente”, “abundante” e “regional”, diz ele.
Ao afirmar isso, ele se apoia numa série de estudos bem conceituados os quais, de fato, indicam que os últimos 10 mil anos, desde a invenção da agricultura, foram um período importante para a evolução da nossa espécie.
É que, conforme os seres humanos se adaptaram à vida em grandes densidades populacionais, cultivando plantas e criando aninais, as populações explodiram, criando tanto novas variantes genéticas (mutações) quanto oportunidades para se adaptar a novos ambientes. Os grandes exemplos vêm da alimentação: muitas pessoas de hoje são capazes de digerir leite na vida adulta, capacidade que só apareceu depois que as vacas foram domesticadas.
Algumas estimativas sugerem que essa evolução “recente” foi tão “abundante” que afetou cerca de 15% do genoma humano. E também teria sido “regional”, já que cada população se adaptou à sua região – a mutação responsável pela digestão do leite, por exemplo, não surgiu entre os indígenas da América, que nunca domesticaram bovinos.
Com base nesses dados, Wade argumenta que não faz sentido esperar que tal variação do DNA também não tenha afetado coisas como o comportamento e a inteligência dos diversos povos, variáveis que também parecem ter componente genética.
Na visão dele, povos como os europeus, os chineses e os japoneses, por terem séculos ou milênios de vida em cidades, com economias complexas, teriam passado por um processo de seleção natural que, na média, favoreceu genes que ajudam as pessoas a viver nessas condições. Isso seria um dos motivos de sua predominância no mundo de hoje.
ESPECULAÇÃO
Nesse ponto, o livro se torna altamente especulativo, coisa que o próprio Wade reconhece – ninguém faz a menor de ideia de quais seriam esses genes “de Primeiro Mundo”.
“Não acho que haja algo de errado com a especulação, desde que você deixe isso claro ao leitor”, disse o autor à Folha. “Que outro jeito há de explorar o desconhecido? O que o meu livro faz é mostrar que é razoável acreditar que há uma base genética para o comportamento social humano, e em alguns casos conhecemos os genes associados a esse comportamento, como variantes associadas a níveis maiores de agressividade.”
Para Wade, as variantes genéticas mais importantes para o desenvolvimento não seriam necessariamente as ligadas à inteligência, mas as que favorecem a coesão social, como a capacidade de confiar em outras pessoas ou de punir malfeitores. Ele também faz questão de frisar que os genes são só parte de uma equação na qual a cultura tem grande peso.
“A genética não explica tudo. A seleção natural provavelmente influenciou a transição entre uma cultura agrária e a Revolução Industrial, por exemplo. Mas as regras sociais são, em grande parte, definidas pela cultura. Algumas culturas favorecem a livre iniciativa e a inovação, outras não.”
“A TROUBLESOME INHERITANCE: GENES, RACE AND HUMAN HISTORY” (“Uma Herança Problemática: Genes, Raça e História Humana”)
AUTOR Nicholas Wade
EDITORA Penguin Press
QUANTO 281 págs.,R$ 26,57 (livro eletrônico)
AVALIAÇÃO regular
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