Churrasco de gonfotério
Esta descoberta vem literalmente do fim do mundo — aliás, de El Fin del Mundo, um sítio arqueológico localizado no deserto de Sonora, no México. A equipe liderada por Guadalupe Sánchez, da Universidade Autônoma do México, descobriu o que provavelmente são os restos de uma churrascada de gonfotérios — parentes extintos dos elefantes, também chamados comumente de mastodontes — acontecida há cerca de 14 mil anos. A pesquisa está na revista “PNAS”.
Os ossos dos bichos foram achados em associação próxima com artefatos — basicamente pontas de lança de pedra — típicos da chamada cultura Clovis, uma das mais antigas e mais bem estudadas das Américas, aparentemente formada por caçadores de grandes mamíferos.
Por que o achado é importante? Fico feliz que tenha perguntado.
Primeiro porque, durante muito tempo, o pessoal acreditou que a cultura Clovis era coisa “dos States”. Artefatos desse grupo nunca tinham sido achados ao sul da fronteira dos Estados Unidos, e os de El Fin del Mundo estão entre os mais antigos exemplares, o que sugere que a cultura Clovis poderia ter se originado no sul da América do Norte (expressão confusa, eu sei). A hipótese mais aceita até hoje falava numa origem do povo Clovis logo abaixo das grandes geleiras que cobriam o Canadá e a parte norte dos EUA no fim da Era do Gelo — seriam os primeiros imigrantes a atravessar as geleiras após chegarem ao continente, vindos da Sibéria. Parece que não foi assim que aconteceu, afinal.
Segundamente: a relação entre a extinção dos grandes mamíferos da Era do Gelo e a caça humana não é muito clara. Aqui no Brasil, onde também havia monstros do tipo, não há quase nenhuma evidência disso. Mesmo no caso da cultura Clovis, só havia evidências consistentes de eles terem caçado mamutes (que se extinguiram) e bisões (que não se extinguiram). O churrasco de gonfotérios amplia o cardápio dos sujeitos e dá um pouco mais de peso à ideia da mão humana como fator de extinção das criaturas.
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