Blogueiro convidado: os mares de Titã
Eu já disse pra vocês como é legal contar com leitores inteligentes e criativos, né? Pois tive mais uma grata surpresa nesta semana, quando um rapaz de apenas 17 anos, o Augusto César da Silva, que está terminando o ensino médio na Escola Estadual São José, em Ibiá (MG), resolveu me escrever, meio que do nada, oferecendo para publicação um texto que escreveu sobre a possível existência de formas rudimentares de vida em Titã, a superlua de Saturno.
Fico feliz em dizer que o texto está caprichado, ainda mais quando se considera a juventude do missivista (como diziam lá nos anos 1930). Portanto, nada mais justo, como um pequeno incentivo, que eu o publique por aqui e confira ao Augusto o título de blogueiro convidado. Ele me contou, por e-mail, que gostaria de fazer medicina, especializando-se na área de genética humana, ou então física. Seja como for, gostaria de pedir ao rapaz publicamente que não deixe totalmente de lado sua capacidade de escrever sobre ciência de forma correta e gostosa de ler.
Sem mais delongas, vamos ao texto dele! Fiz mínimas modificações editoriais por conta de errinhos de digitação.
Titã: um novo lar alaranjado
Titã, a maior lua de Saturno, possui características curiosamente semelhantes às da Terra primitiva, com intensa atividade geológica, uma atmosfera densa e uma complexa química com corpos líquidos em sua superfície. Além disso, há quantidade significativa de hidrocarbonetos – compostos orgânicos essenciais no desenvolvimento dos primeiros seres vivos em nosso planeta-, o que alimenta a hipótese de haver algum tipo de vida pulsando na atmosfera titânica. Essas características são fascinantes e fazem jus ao nome desse satélite. Titã é extraordinária. Desde que Christiaan Huygens, em uma noite de 1655, surpreendeu-se ao ver uma grande lua além dos anéis de Saturno, despertou-se especial interesse entre cientistas e curiosos sobre os mistérios guardados por Titã.
A sonda Cassini a tem observado por quase dez anos, mostrando-nos que ainda não sabemos tudo sobre ela. Torna-se evidente que devemos nos preocupar em estudar mais sobre esse misterioso satélite se quisermos avançar no conhecimento do Universo e da vida cósmica. Estudos revelaram que o hidrogênio que existe em abundância na atmosfera titânica desaparece quase por completo quando chega à superfície, fortalecendo a possibilidade de que pequenos organismos vivos o estão respirando.
A descoberta da vida em outro canto do Universo seria uma das grandes descobertas do século e da humanidade. Afinal, o fato de que a vida possa ocorrer em condições diferentes daquilo que consideramos ‘habitável’ e o fato de que os ácidos nucleicos podem não ser as únicas biomoléculas no Universo capazes de codificar a vida, não seria um tipo de Santo Graal da astrobiologia?
Recentemente, instrumentos a bordo do orbitador Cassini capturaram imagens de regiões escuras detectadas no hemisfério Norte de Titã, indicando a descoberta de lagos e “mares” de hidrocarbonetos em sua superfície. Novas imagens de sua região polar norte podem nos render resultados surpreendentes.
Podemos obter fortes evidências que respondam à pergunta que assombra a psique humana: existe vida extraterrestre? Além de pôr um ponto final nos debates sobre a existência de vida em Titã, essa descoberta poderia alterar não só o curso de futuras missões espaciais, mas também a nossa concepção da vida como um fenômeno cósmico. Estamos muito longe de desvendar todas as faces do “dodecaedro de Platão”. Estamos muito longe de responder a todas as questões existenciais e científicas. Talvez nunca saibamos o que há atrás da cortina da criação do Universo e de nós mesmos. Mas podemos desvendar o que é o brilho especial na superfície titânica. Não podemos esperar que o vento solar a que Titã está diretamente exposta nos traga essa resposta. Muitos cientistas acreditam que Titã viaje gritando pela Via Láctea a resposta para o mistério da vida extraterrestre, mas ainda não a ouvimos. Saturno é um grande agricultor. E pode estar cultivando em Titã a mais bela e excitante das culturas em todo o cosmos: a vida.