Um jesuíta leva a medalha Carl Sagan

Reinaldo José Lopes

Estou dando a notícia com um atraso enoooorme, mas ela é bacana demais pra ser ignorada. Ocorre que o vencedor deste ano da medalha Carl Sagan, ofertada regularmente pela Sociedade Astronômica Americana em honra ao saudoso e brilhante astrônomo e divulgador científico homônimo (que nos deixou neste vale de lágrimas em 1996), é o jesuíta americano Guy Consolmagno. Ele tem essa cara de Richelieu aí embaixo, mas parece ser um excelente sujeito.

O jesuíta americano Guy Consolmagno na bela coleção de meteoritos do Observatório do Vaticano. (Crédito: Alessia Giuliani/Divulgação)
O jesuíta americano Guy Consolmagno na bela coleção de meteoritos do Observatório do Vaticano. (Crédito: Alessia Giuliani/Divulgação)

Seguindo a tradição de Sagan, a medalha honra cientistas de alto nível que também mandam muito bem como comunicadores. Segundo a declaração da Sociedade Astronômica Americana, Consolmagno “ocupa uma posição única dentro da nossa profissão, ao atuar como um porta-voz crível da honestidade científica dentro do contexto da crença religiosa”. A sociedade cita um dos livros do sacerdote, “Turn Left at Orion” (“Vire à Esquerda em Órion”) um guia para astrônomos amadores iniciantes.

“Como irmão jesuíta, Guy se tornou a voz da justaposição da ciência planetária e da astronomia com a crença cristã, um porta-voz racional que consegue explicar de forma excepcionalmente boa como a religião e a ciência podem coexistir para os crentes”, continua a nota oficial.

O prêmio será entregue em novembro, em Tucson, no Arizona.

Dei uma fuçada na biografia do nosso padre espacial e descobri que ele só entrou para o seminário relativamente tarde na vida, depois de fazer pós-doutorado e dar aulas em Harvard (antes, ele também passou pelo prestigioso MIT), além de fazer trabalho voluntário no Quênia. Hoje, ele trabalha no Observatório do Vaticano, e sua especialidade é o estudo de asteroides e meteoritos.

Os céticos mais radicais talvez achem que Sagan estaria se revirando na tumba por ter seu nome associado a um empregado do papa. Bem, bobagem, minha gente — basta ler seu romance “Contato” para ver que Sagan não via as religiões como bicho-papão a ser destruído.

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