Sobre ídolos e pôneis

Reinaldo José Lopes

Não consigo resistir à tentação de compartilhar com vocês uma passagem deliciosa do livro “The Meaning of the Bible” (“O Significado da Bíblia”), escrito por Douglas Knight e Amy-Jill Levine, sobre a dificuldade de interpretar restos arqueológicos de antigos povoados israelitas, em especial quando esses restos parecem ter significado religioso, à primeira vista.

“Embora numerosos artefatos, incluindo figuras de animais e humanos, amuletos e suportes de incenso, pareçam indicar funções cúlticas, a palavra ‘pareçam’ é uma precaução necessária. Se fizerem uma escavação de uma casa do século 21 daqui a 3.000 anos, poderão acabar achando pequenas figuras com seios impossivelmente empinados e concluirão que aqueles eram objetos ligados ao culto da fertilidade. Colecionadores de Barbies saberão que isso é bobagem. A pequena estátua equina com asas poderia ser um deus, ou um exemplar de ‘My Little Pony’. Dá calafrios imaginar o que os antropólogos do futuro pensarão sobre a Hello Kitty. Amuletos podem ser joias, suportes de incenso podem ser purificadores de ar arcaicos. Para complicar ainda mais a questão de determinar a natureza de um objeto cúltico: aquilo que é um símbolo sagrado para um grupo é um falso ídolo para outro (como sabe todo adulto que já tentou separar uma menininha de quatro anos de idade de seu My Little Pony).”

Resumindo: aquela estatueta pode parecer um cavalo divino alado, mas às vezes é só a Rainbow Dash mesmo.

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