Tende piedade dos sapos

Reinaldo José Lopes

Definitivamente não tá fácil ser sapo (ou rã, ou perereca, ou salamandra, ou cobra-cega) nestes tempos bicudos. Os anfíbios estão entre os animais mais ameaçados do planeta — um terço das espécies deles corre risco de extinção e 42% têm passado por declínios populacionais nos últimos anos.

Os vilões são, em parte, os suspeitos de sempre (perda de habitat por desmatamento e espécies invasoras, entre outros), mas a saparia e companhia também é especialmente azarada quando o assunto são patógenos, pelo visto. Sua pele delicada, que os ajuda a fazer trocas gasosas com o ambiente circundante, também pode ser atacada com relativa facilidade. Veja, por exemplo, o caso do fungo Batrachochytrium dendrobatidis, que tem dizimado populações de anuros (ou seja, todos os anfíbios, com exceção das salamandras e cobras-cegas) mundo afora. O troço provavelmente se espalhou pelo planeta graças ao comércio internacional de anfíbios domésticos os quais, mais tarde, escaparam para a natureza.

A má notícia: um novo estudo mostrou que há todo um grupo de patógenos letais de anfíbios à solta por aí do qual a gente nem tinha ouvido falar. São protistas (micro-organismos complexos) do grupo Perkinsea, com parentesco distante com os parasitas da malária e da toxoplasmose. Houve uma mortandade em massa de girinos nos EUA, ligada a essas criaturas, na década passada — os micróbios atacavam o fígado dos girinos. A nova pesquisa, da qual participou a brasileira Gabriela Bueno Bittencourt-Silva, identificou o DNA dos Perkinsea no organismo de girinos da Guiana Francesa, de Camarões, da Tanzânia, de São Tomé, do Reino Unido e da República Tcheca.

Tudo indica que se trata de um conjunto de espécies diferentes do grupo fazendo estrago. Não se sabe ainda se o problema está se espalhando, mas é um sinal de alerta — até porque você sabe com que país a Guiana Francesa faz fronteira ao sul e ao leste, não é?

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