O crocossapo do Paraná

Reinaldo José Lopes

Eu sei, eu sei que “crocossapo” é feio pra dedéu, mas não consigo imaginar jeito mais vívido de descrever o glorioso Australerpeton cosgriffi. Trata-se de um anfíbio (daí o “sapo”) com 2,5 metros ou mais de comprimento e corpo de crocodilo — inclusive escamas, o que é completamente bizarro quando estamos falando de quase todos os anfíbios modernos, como decerto você sabe.

Reconstrução da espécie em obra do paleoartista Rodolfo Nogueira (Crédito: Divulgação)
Reconstrução da espécie em obra do paleoartista Rodolfo Nogueira (Crédito: Divulgação)

 

Esse monstro viveu num sistema de lagos e dunas costeiros no longínquo Permiano, lá se vão 260 milhões de anos, quando todas as terras emersas do planeta estavam reunidas num único continente, a célebre Pangeia. O que restou do lar do A. cosgriffi é hoje a serra do Cadeado, no interior do Paraná.

A analogia mais próxima não é com qualquer crocodilo, mas especificamente com os gaviais, répteis da atual Índia que possuem um focinho alongado muito parecido, dedicado a capturar peixes n’água — provavelmente também era essa a ocupação do nosso crocossapo.

A espécie é conhecida dos paleontólogos brasileiros desde os anos 1990, mas uma nova pesquisa, coordenada por Estevan Eltink e Max Cardoso Langer, da USP de Ribeirão Preto, fez uma nova e detalhada descrição do crânio da criatura, com o objetivo de determinar onde ela se encaixa no álbum de família dos anfíbios primitivos. Trata-se, ao que tudo indica, de um animal cujos parentes mais próximos tinham focinho curto e viviam na atual África do Sul.

Mais detalhes sobre a pesquisa você encontra nesta reportagem que escrevi para a Agência Fapesp.

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