Vídeo: DNA da corrupção
Este é o terceiro vídeo do nosso canal do YouTube, gentil leitor! Confira abaixo. Para deixar o conteúdo acessível para leitores com dificuldades de audição, segue logo abaixo do link do vídeo uma versão por escrito.
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Elen síla lúmenn’omentielvo — uma estrela brilha sobre a hora do nosso encontro, senhoras e senhores, meninos e meninas, amantes da ciência de todas as idades! Estamos de volta com mais um videopost no canal Darwin e Deus no YouTube. O tema hoje é coisa séria: corrupção.
A gente vive ouvindo dizer que o problema da corrupção no Brasil é histórico e cultural: o pessoal não tem vergonha de enfiar a mão grande no dinheiro público desde a época das caravelas, supostamente. Uma das grandes questões a respeito do tema é justamente essa: será que um clima geral de corrupção num país — quando a gente sabe que os políticos vivem fazendo o que não devem, quando há sérias dificuldades de punir os culpados na Justiça, quando todo mundo faz de tudo pra sonegar imposto etc. — realmente faz com que as pessoas, individualmente, acabem se comportando de um jeito menos ético?
Bom, pesquisadores tentaram responder essa dúvida experimentalmente, com experimentos de laboratório mesmo, e hoje eu quero contar o que eles descobriram.
O trabalho é de Simon Gächter e Jonathan Schulz, ambos da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, e saiu na revista científica “Nature”, que é uma das mais importantes do mundo. Eles conseguiram recrutar um mundaréu de gente pra participar: 2.568 voluntários de 23 países diferentes (infelizmente não havia brasileiros na amostra), estudantes, com idade média de 22 anos e de ambos os sexos.
O experimento em si era ridiculamente simples: pegue um dado normal de seis lados (quase igual a este meu dado de RPG) e jogue-o dentro de um recipiente opaco, como esta caneca. Faça isso duas vezes, mas anote apenas o PRIMEIRO resultado e passe esse dado pros pesquisadores. Se você tirou 1, ganha R$ 1; se tirou 2, ganha R$ 2 — e assim por diante até tirar 5. Se tirar 6, você não ganha nada.
Isso significa que, se todo mundo for honesto, em média as pessoas vão ganhar R$ 2,50 e, se mentirem sempre, vão ganhar em média R$ 5.
O grande lance agora são os gráficos dos resultados reais que você está vendo. Os países da amostragem foram divididos em dois grupos de acordo com um índice de honestidade nacional, digamos, que leva em conta o seguinte: frequência de fraudes políticas no país, estimativas de sonegação de impostos e índice de corrupção do Banco Mundial. Quem está bem nesse índice ficou marcado com a cor verde — países como a Alemanha, a Suécia e a Áustria. Quem está mal ficou com a cor roxa — temos aí nações como Marrocos e Tanzânia.
A primeira mensagem desse gráfico geral é que, tanto nos melhores quanto nos piores países, ninguém é santo e ninguém é o capeta. Repare que tem essa linha reta na diagonal, a reta inteiriça, que seria a honestidade perfeita. Em nenhum lugar ela foi atingida pela média da população. Por outro lado, em nenhum lugar temos a desonestidade completa — ela seria essa linha pontilhada do gráfico.
Mas, de fato, como a gente vai ver em mais detalhes, os países com instituições mais corruptas e economia mais corrupta também são os que têm pessoas menos confiáveis.
Acho que a comparação mais legal é entre a média das pessoas de cada país que eram totalmente honestas (a julgar pela proporção delas que afirmou ter tirado 6 nos dados, ou seja, sem ganhar nada) e as totalmente desonestas (as que disseram ter tirado 5 quando a probabilidade era tirar menos). Veja esses gráficos, lembrando que na horizontal a gente tem o nível de desonestidade do país e, na vertical, a porcentagem de pessoas primeiro totalmente honestas e depois totalmente desonestas.
Veja que a gente tem um predomínio dos europeus na proporção de totalmente honestos, na faixa de 80% a 70%, mas a Malásia está um pouquinho acima da Áustria. E, aliás, a proporção dessas pessoas é tão baixa na Itália quanto na China ou na Colômbia – menos de 30%!
E a coisa fica ainda mais complicada entre os totalmente desonestos — veja que os números são bem embolados mais ou menos entre 20% e 10%.
Um detalhe importante, óbvio, é que a gente não tem como saber com certeza onde o Brasil se encaixa. O país mais parecido com a gente na amostra é a Colômbia, com a qual, aliás, a gente mais ou menos empata no nível de corrupção estimado pelo Banco Mundial.
Alguns elementos pra gente resumir essa bagunça:
1)Sim, instituições e história fazem diferença — em média. É simplesmente mais difícil ser honesto num país em que a corrupção está entranhada na maneira como as coisas funcionam;
2)Por outro lado, exceções são possíveis, pro bem e pro mal — veja o caso da Malásia e da Itália;
3)Se você quer fazer a diferença, sim, exija políticos honestos — mas não se esqueça de que é preciso lutar por um sistema político e econômico que dificulte a desonestidade deles, sem falar na obrigação de todos nós de agirmos com correção na vida privada. Se ninguém topar pagar propina, político corrupto morre de fome.
Difícil? Pra caramba, sem dúvida. Mas não impossível.
Um beijo carinhoso, fiquem com Deus e até a próxima!
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