Mais ratos que toupeiras
Eis que temos uma reviravolta na saga dos ratos-toupeiras, mamíferos africanos famosos por aparentemente serem uma versão dentuça e cavadora de túneis dos insetos sociais, como as abelhas e os cupins. Havia quem acreditasse que os bichos eram divididos em “castas” fixas — como os cupins operários, soldados etc. –, mas uma nova pesquisa indica que esses papéis são relativamente fluidos ao longo da vida dos ratos-toupeiras, ao contrário do que acontece entre insetos sociais.
Os dados foram obtidos pela equipe de Markus Zöttl, do Departamento de Zoologia da Universidade de Cambridge (Reino Unido). Os ratos-toupeiras vivem em colônias que lembram as colmeias ou os formigueiros pelo seguinte detalhe: normalmente existe uma “rainha”, única fêmea que se reproduz na comunidade, em geral pareada com um “rei”, enquanto os demais membros do grupo abdicam das funções reprodutivas até a morte de um dos membros do casal real. Achava-se que os demais ratos-toupeiras tinham tarefas fixas de cavar, defender o ninho etc.
A nova pesquisa, publicada na revista científica “PNAS”, construiu ninhos artificiais para os bichos em seu habitat, no deserto do Kalahari, e os acompanhou durante três anos. Resultado: as funções vão mudando conforme a idade, e quanto mais velhos os bichos, mais eles trabalham duro em prol da colônia. Zöttl argumenta que o estilo de vida dos roedores, portanto, não é mais estranho para mamíferos do que o dos suricatos ou cães-selvagens-africanos, que também se dedicam à criação comunitária dos filhotes do casal “real” do bando.
As conclusões valem para o rato-toupeira-de-damaraland (Fukomys damarensis), mas talvez funcionem também para seu parente mais célebre e fascinantemente feioso, o rato-toupeira-pelado (Heterocephalus glaber).
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