Mais um hominídeo misterioso
Cabe mais um hominídeo misterioso aí, gente? Bem, parece que teremos de encaixar o moço ou moça (seja lá quem tenham sido eles) na nossa já complexa árvore genealógica. E, pra variar, o centro da bagunça toda é o Pacífico tropical, entre o Sudeste Asiático e a Oceania. É o que diz um estudo liderado por Jaume Bertranpetit, da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, que saiu não faz muito tempo na revista científica “Nature Genetics”.
Recapitulando o que já sabíamos antes: tudo indica que os ancestrais da humanidade moderna, que evoluíram na África, começaram a colonizar para valer regiões fora do continente africano há pelo menos 60 mil anos, espalhando-se para oeste (rumo à Europa) e leste (em direção à Ásia, passando pelo Oriente Médio e pela Índia no meio do caminho). O problema é que esse avanço não aconteceu num vazio. Todas essas regiões já eram habitadas por seres humanos ditos “arcaicos”.
Os mais famosos são os neandertais da Europa e do Oriente Médio, muito bem conhecidos por seus esqueletos e cultura material. Nos últimos anos, porém, os cientistas revelaram a existência dos denisovanos, habitantes da Sibéria que só foram identificados graças a um punhado de ossos, mas que tinham características genéticas próprias que os distinguem dos neandertais.
“Características genéticas” é a chave aqui. Com as novas técnicas de recuperação e sequenciamento (ou “leitura”) de pedacinhos ridiculamente pequenos de DNA, foi possível reconstituir rascunhos até que bem completos do genoma dos neandertais e dos denisovanos. E foi isso que permitiu identificar que pequenas porcentagens do genoma do Homo sapiens de hoje vieram dos neandertais e denisovanos (no caso dos neandertais, isso vale para quase todo mundo que não tem origem africana; no dos denisovanos, parece que só habitantes da Oceania, em especial melanésios e aborígines australianos, receberam a contribuição genética arcaica).
Fechando o círculo: o novo estudo examinou o genoma completo de dez habitantes das ilhas Andaman, na costa da Índia e de Mianmar (a foto de uma praia dessas ilhas adorna o topo deste post). Essas pessoas pertencem a tribos isoladas que são bastante diferentes de seus vizinhos do continente. Além disso, analisou 60 genomas de indianos do continente e comparou todos esses dados com os de populações do resto do mundo.
Resultado: trechinhos de DNA aparentemente arcaico, mas que não se encaixam no genoma dos denisovanos ou dos neandertais. Conclusão lógica: outro hominídeo misterioso, um “denisovano do B”, na jogada.
Aguardem as cenas dos próximos capítulos, gente linda.
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