É mão, é pata, é barbatana

Reinaldo José Lopes

Guarde esta expressão cabeluda na sua caixa de ferramentas conceitual: homologia profunda. Ela se refere ao fato inaudito de que estruturas apenas vagamente semelhantes presentes em grupos de seres vivos que estão muito distantes entre si na Árvore da Vida — ou seja, possuem parentesco muito, muito remoto — na verdade têm seu desenvolvimento controlado pelo mesmo conjunto básico de genes e outros elementos do genoma.

Estou com a homologia profunda na cabeça depois de escrever dois textos sobre ela não faz muito tempo. Num deles, mostro como a regeneração das barbatanas de um peixe brasileiro, a piramboia, funciona de modo quase idêntico à da regeneração das patas das salamandras. No que saiu hoje nesta Folha, conto como um “interruptor” de DNA está ligado tanto ao corpo sem patas das cobras quanto às nadadeiras dos golfinhos e às asas dos morcegos.

Há exemplos ainda mais estranhos — os olhos dos vertebrados e dos insetos têm estruturas totalmente diferentes e pareciam ter evoluído de forma independente, mas na verdade os mesmos genes-mestres estão envolvidos na formação deles. É mais um exemplo de como a evolução é um engenheiro sovina, que adora reaproveitar peças antigas para criar novas geringonças — e uma prova da profunda unidade entre os seres vivos, apesar das diferenças superficiais.

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