Primatas em risco

Black-and-white ruffed lemur
Reinaldo José Lopes

É com prazer que trago para o insigne leitor mais uma reportagem na íntegra – desta vez, sobre a situação nada animadora dos primatas no planeta, detalhando as ameaças que nossos primos mais próximos no reino animal estão sofrendo. A coisa tá feia, mas ainda não é o caso de jogar a toalha, muito pelo contrário. Se quiser conferir a versão editada e bem mais curtinha que saiu no jornal impresso, basta clicar aqui.

É com prazer que trago para o insigne leitor mais uma reportagem na íntegra – desta vez, sobre a situação nada animadora dos primatas no planeta, detalhando as ameaças que nossos primos mais próximos no reino animal estão sofrendo. A coisa tá feia, mas ainda não é o caso de jogar a toalha, muito pelo contrário. Se quiser conferir a versão editada e bem mais curtinha que saiu no jornal impresso, basta clicar aqui.

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O parentesco próximo com o ser humano não tem sido suficiente para dar algum sossego às cerca de 500 espécies de primatas que existem mundo afora. Muito pelo contrário, aliás: 60% dos macacos, lêmures e companhia correm risco de sumir do mapa neste momento, e três quartos dessas espécies estão passando por declínios populacionais.

As contas nada animadoras foram feitas por uma equipe internacional de cientistas, entre os quais três brasileiros, e acabam de ser publicadas em artigo na revista especializada “Science Advances”. O grupo mapeou ainda quais são as principais ameaças aos primos da humanidade, advertindo que uma possível extinção em massa desses bichos pode acabar tendo efeitos nem um pouco desejáveis para a nossa própria espécie.

“Os primatas são uma parte importante dos ecossistemas em que vivem, em especial nas florestas tropicais”, diz um dos autores do estudo, Anthony Rylands, da ONG Conservação Internacional. Entre outros serviços essenciais, os bichos ajudam a polinizar flores, a dispersar sementes e abrir clareiras nas quais novas mudas de árvores podem germinar.

Menos primatas, portanto, podem significar florestas menos saudáveis – o que, por sua vez, é uma má notícia para o abastecimento de água e a estabilidade do clima, fatores que têm forte elo com uma boa cobertura florestal. “Em resumo, nós também precisamos dessas espécies e desses ecossistemas para prosperar”, argumenta Rylands.

O BRASIL E OS OUTROS

Quando se fala em diversidade de primatas, o Brasil está no topo da lista, com mais de cem espécies do grupo. Só Madagáscar, país-ilha da África Oriental, chega perto dessa abundância (também com cerca de uma centena de espécies), enquanto o terceiro lugar cabe à Indonésia e o quarto, à República Democrática do Congo.

Juntos, esses quatro países respondem por dois terços do número de espécies do planeta. Por enquanto, no que diz respeito à conservação, a situação do Brasil é menos feia do que a de outros países ricos em primatas: só uns 30% dos nossos macacos correm risco de desaparecer, contra quase 70% das espécies indonésias e quase 90% dos lêmures de Madagáscar, criaturas tão únicas que só existem por lá.

Por outro lado, muitos dos mesmos processos econômicos que estão colocando bonobos contra a parede no Congo e encurralando as populações de orangotangos em Bornéu também estão em plena ação nas florestas brasileiras, em especial na Amazônia.

Os pesquisadores calculam que quase 80% das espécies de macacos e companhia estão perdendo seu habitat natural por conta da expansão da agricultura, 60% delas sofrem com a atividade madeireira e 31% dessas espécies estão sendo pressionadas pelo avanço da pecuária – situações muito comuns nas fronteiras agrícolas do Brasil.

Além disso, há a questão da caça. Regiões da África dilaceradas pela guerra civil, como o próprio Congo, acabaram ficando célebres pelas imagens de gorilas e chimpanzés abatidos para o consumo de sua carne, um problema que também afeta 60% das espécies de primatas. É difícil encontrar macacos de grande e médio porte mesmo em áreas aparentemente conservadas da mata atlântica brasileira, o que também sugere a continuidade da caça dessas espécies, segundo mostram alguns estudos recentes.

Outro ponto sensível é a captura para o mercado ilegal de bichos de estimação e para o uso em pesquisas biomédicas. Um exemplo particularmente assustador é o dos macacos-da-noite (gênero Aotus) da Amazônia. Calcula-se que, só em 2007 e 2008, mais de 4.000 desses bichos, capturados na área de fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Peru, tenham sido vendidos para um único laboratório colombiano – embora as estatísticas oficiais falassem em apenas 400 macacos-da-noite vendidos legalmente mundo afora entre 2005 e 2014.

E há, finalmente, a ameaça das mudanças climáticas, que pode afetar os habitats dos primatas de forma imprevisível e causar colapsos populacionais, já que são espécies de ciclo de vida relativamente lento e com mais dificuldade para se adaptar a mudanças ambientais. Um dos autores brasileiros do novo estudo, Andreas Luis Schwarz Meyer, da Universidade Federal do Paraná, simulou o efeito do aquecimento global futuro (até 2080) sobre populações das diferentes espécies de mico-leão. A conclusão é que várias delas, incluindo o célebre mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), terão seus habitats reduzidos pelas alterações ambientais ligadas ao aquecimento.

Apesar dos riscos, os pesquisadores defendem que é possível ter otimismo em relação ao futuro dos primatas, desde que sejam tomadas ações claras para protegê-los. Para isso, argumentam eles, é essencial trabalhar junto com as populações locais das áreas de floresta tropical, encontrando alternativas econômicas para essas regiões que não envolvam a derrubada da mata ou a caça.

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