Mamíferos planadores da Era dos Dinos!
Dois fósseis absolutamente incríveis das profundezas do período Jurássico reforçam a ideia de que ao menos alguns mamíferos aprenderam a dominar (parcialmente) os ares muito antes que morceguinhos adejassem acima de nossas cabeças numa tarde invernal. São duas espécies de criaturas pequenas e peludas que possuíam membranas unindo suas patas dianteiras e traseiras com a região da cauda, de um jeito que seria ideal para planar saltando de árvore em árvore.
O pesquisador que coordenou a descrição dos bichos de 160 milhões é talvez o maior especialista do mundo em mamíferos primitivos: Zhe-Xi Luo, chinês que trabalha na Universidade de Chicago. As duas novas espécies, descritas em artigos na revista científica “Nature”, foram achadas na China e seus fósseis estão abrigados no Museu de História Natural de Pequim. Foram batizadas com os nomes científicos Maiopatagium furculiferum e Vilevolodon diplomylos. A imagem do alto deste post é uma reconstrução artística da M. furculiferum.
Como os cientistas podem dizer que eles provavelmente planavam? Excelente pergunta. Eis as principais pistas:
1)Pra começar, houve o golpe de sorte espetacular da preservação do patágio (daí o nome Maiopatagium), que é justamente a tal membrana planadora, vagamente similar às asas dos morcegos, mas sem as adaptações para o voo autopropelido. Análises com luz ultravioleta mostraram que não é só sujeirada em volta do fóssil: há fibras de pele e pelos ali mesmo;
2)A proporção dos membros — relação de comprimento entre patas de trás e da frente etc. — de ambas as espécies é muito parecida com a de mamíferos planadores atuais. Tipo o esquilo-voador — este cara aqui ao lado;
3)Ainda em relação ao Maiopatagium furculiferum, o nome de espécie do bicho é muito significativo: furculiferum se refere à presença da fúrcula, ou seja, às clavículas fundidas na região do peito do animal, muito parecidas com o “osso da sorte” das aves — o qual, como você deve ter imaginado, é importante para o voo (ajuda a reforçar os músculos do tórax para essa tarefa);
4)Até os dedinhos das patas são significativos, porque a anatomia deles sugere que eles funcionariam muito bem para que os bichos ficassem dependurados de ponta-cabeça nos galhos das árvores, numa postura semelhante à dos morcegos atuais. Falando em árvores, a dentição de ambas as espécies indica dieta herbívora, num dos casos bem parecida com a dos esquilos atuais (matéria vegetal mais dura), na outra com dieta mais mole.
Por um lado, essas criaturas são absurdamente primitivas do nosso ponto de vista — seu grupo, o dos Haramiyida (juro que este é o último nome impronunciável deste texto!), separou-se dos demais mamíferos antes do aparecimento de todos as subdivisões existentes hoje, como os monotremados (representados pelos ornitorrincos), os marsupiais (cangurus e companhia) e os placentários (nós, os cães, as baleias etc.). Por outro lado, eles se aproximam demais do estilo de vida de criaturas fofas e peludas que ainda estão entre nós. Ainda dá pra imaginá-los dando seus pulinhos pelo céu noturno.
——-
Visite o novo canal do blog no YouTube!
Conheça meus livros de divulgação científica!
Conheça e curta a página do blog Darwin e Deus no Facebook