Game of Mitos: a entrevista

Reinaldo José Lopes

O colega Maurício Meireles, uma das mentes mais literárias da trupe do caderno Ilustrada, aqui da Folha, fez a gentileza de me entrevistar sobre o meu livro “Mitologia Nórdica”, publicado em julho, tomando como gancho as influências mitológicas escandinavas e celtas sobre “Game of Thrones” e outras sagas modernas de fantasia. Confiram o que ele escreveu e, caso tenham interesse em adquirir o livro, é só clicar aqui!

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Série relê tradição literária da mitologia
Em livro, jornalista analisa “Game of Thrones” e “O Senhor dos Anéis” a partir dos mitos que influenciaram as obras
Para autor, George R.R. Martin traz um olhar violento e sexualizado que seria volta às raízes dessas histórias

MAURÍCIO MEIRELES
DE SÃO PAULO

Esse medo de que o inverno esteja chegando não é algo inaugurado por “Game of Thrones”. Povos antigos, em seus mitos, já temiam a chegada de uma longa noite ou que o mundo fosse mandado para as cucuias.

“Na mitologia nórdica, há um ciclo de invernos apocalípticos que servem para destruir a civiliza­ção e começá-­la quase do zero”, diz o jornalista Reinaldo José Lopes, que assina uma coluna e o blog
“Darwin e Deus” no site da Folha.

Ele é autor de “Mitologia Nórdica ­ As Origens Perdidas de Game of Thrones, O Senhor dos Anéis e Outros Universos Fantásticos”, que chega agora às livrarias e bancas de revista. Na obra, o autor
aponta as referências mitológicas nessas obras da literatura fantástica.

A ideia de que o inverno vai chegar é próximo da concepção medieval de que o mundo está envelhecendo —e o fim, portanto, está próximo.O mundo em decadência, na série, aparece na ausência de elementos mágicos —pelo menos no começo.

Há dragões que não existem mais, a raça de homens que ocuparam Westeros e não existe mais, o aço valyriano que os personagens não sabem mais como fabricar.

Há outras referências. O menino Bran Stark, que é arremessado da janela, fica paraplégico, foge da morte —enfim, passa o diabo— e desenvolve a clarividência tem seus pés nos mitos celtas.

“Bran”, em galês medieval, diz Lopes, quer dizer “corvo”. Além do personagem sonhar com um corvo que o guia, seu nome é o mesmo de um rei celta com poderes clarividentes. Ao mesmo tempo, Odin, o deus nórdico, tem dois corvos que viajam pelo o universo e trazem informações do passado e do presente.

MITOLOGIA 4.0
Para o jornalista, George R.R. Martin, autor dos livros que inspiraram a série de TV, apresenta uma espécie de mitologia 4.0.

Primeiro, há as narrativas originais, depois sua leitura pelos romances de cavalaria da Idade Média —e, próximos de nós, J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis. Enquanto os dois forjaram sua mitologia influenciados pela moralidade cristã, “GoT” já teria uma visão mais pessimista do mundo —trazendo um olhar violento e sexualizado, que seria uma volta às origens desses mitos.

“O Martin é muito mais próximo desse ambiente desencantado com a política e a moral do nosso tempo. Ele me passa a impressão de um niilismo muito forte”, diz Lopes.

Outro exemplo da releitura da tradição é a relação de Daenerys Targaryen com seus dragões. Na mitologia ocidental, esses seres são quase sempre inimigos — não à toa, no cristianismo eles representam o Diabo. “No oriente, os dragões são figuras mais benéficas. É como se o autor juntasse as duas tradições”, afirma Lopes.

A aposta dele é que George R.R. Martin terá influência tão duradoura no gênero fantástico como tiveram Tolkien e Lewis. A mitologia, diz, forja histórias que captam a própria essência do que
significa ser humano.

AUTOR Reinaldo José Lopes
EDITORA Abril
QUANTO R$ 34,90 (260 págs.)