Uma ajudinha cristã para o budismo na China

Reinaldo José Lopes

Coisas um bocado interessantes e inesperadas estavam acontecendo na Ásia nos primeiros séculos do que nós, no Ocidente, chamamos de Idade Média. Exemplo? Um bispo (cristão, claro, da tendência teológica conhecida como nestoriana) dando uma ajudinha para missionários budistas na China.

Essa história aparentemente maluca — e fascinante — está contada no livro “The Lost History of Christianity” (“A História Perdida da Cristandade”), do historiador galês Philip Jenkins, da Universidade Baylor (EUA). Nas palavras do próprio Jenkins:

“Por volta do ano 780 d.C., o missionário budista Prajna chegou à capital imperial chinesa de Chang’an, mas não conseguiu traduzir as escrituras em sânscrito que trouxera consigo para o chinês. Sem saber o que fazer, ele acabou consultando o bispo nestoriano Adão, que já tinha traduzido trechos da Bíblia para o chinês. Tanto Adão quanto Prajna provavelmente tinham conhecimentos de persa, o que ajudou na comunicação entre eles. Juntos, estudiosos budistas e nestorianos trabalharam amigavelmente juntos por alguns anos e traduziram sete copiosos volumes de sabedoria budista. Os especialistas atuais ainda especulam se Adão infiltrou conceitos cristãos na escrituras budistas, de forma consciente ou inconsciente.”

Essa historinha é só a ponta do iceberg, aliás. Nestorianos e outros grupos cristãos orientais se espalharam por vastas extensões da Ásia e da África durante séculos, em locais que hoje são exclusivamente islâmicos, budistas ou hinduístas. É quase um universo alternativo.

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