Otavio Frias Filho e o valor da curiosidade intelectual
Conversei pela última vez com Otavio Frias Filho, diretor da Redação da Folha que nos deixou na madrugada desta terça-feira, faz mais ou menos um ano. Ligou rapidamente para fazer um balanço de como estava sendo minha colaboração com o jornal, mas o que ele queria mesmo era… bater um papo sobre evolução humana.
Perguntou-me como andavam as hipóteses sobre as origens do bipedalismo da nossa espécie — a primeira coisa a nos diferenciar dos demais grandes primatas. Queria entender por que o continente africano tinha desempenhado papel tão importante ao longo de todo o processo evolutivo do Homo sapiens, outro ponto que os paleoantropólogos ainda estão tentando entender melhor. Sugeriu que poderiam ser bons temas para futuras colunas de domingo e despediu-se com a reserva e cortesia que lhe eram peculiares.
Escrevo isso não apenas para lamentar a perda do Otavio, que atinge duramente a todos nós, lógico, mas para destacar a diferença que a curiosidade intelectual dele fez, creio, para o jornalismo científico brasileiro, meu ganha-pão. Cobrir ciência com excelência sempre foi “política de Estado” na gestão dele, em parte, não duvido, pela sua mente onívora e curiosa, pela sua gana de entender o mundo, mas também porque ele via com clareza como mostrar ao público todas as facetas da ciência é essencial para uma democracia moderna e, ouso dizer, para formar cidadãos livres e capazes de debate racional. Mais do que nunca, precisamos desse legado.
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