O que distingue uma espécie inteligente de um animal? Compaixão
Ou, pelo menos, é o que creio que aprendi ao ler “Speaker for the Dead” (em português do Brasil ficou “Orador dos Mortos”), do escritor de ficção científica americano Orson Scott Card (em primeiro plano na foto acima). O sujeito lançou uma série de polêmicas nos últimos anos com declarações homofóbicas e uma oposição meio biruta ao governo Obama, mas “Speaker for the Dead” é um primor. É o que a ficção científica realmente deveria ser: força narrativa e profundidade filosófica mescladas num todo viciante. Mas o que me pegou pelos colarinhos foi a pseudoepígrafe do livro, um trecho de outro “livro ficcional dentro do livro” que é uma reflexão sobre o que significa ser humano, e ser uma criatura racional, num Universo tão vasto quanto o nosso:
“Já que ainda não estamos totalmente confortáveis com a ideia de que pessoas do vilarejo vizinho são tão humanas quanto nós mesmos, é presunçoso ao extremo supor que algum dia seríamos capazes de observar criaturas sociáveis e criadoras de ferramentas que surgiram de outras trajetórias evolutivas e ver não feras, mas irmãos, não rivais, mas companheiros de peregrinação rumo ao santuário da inteligência.
Contudo, é isso o que vejo, ou o que anseio por ver. A diferença entre ‘raman’ [criatura racional] e ‘varelse’ [animal não racional] não está na criatura julgada, mas na criatura que julga. Quando declaramos que uma espécie diferente é ‘raman’, não significa que eles atravessaram um limiar de maturidade moral. Significa que nós o atravessamos.”
Em dias como estes que vivemos, pensar nisso me conforta um pouco. Quem não mira no alto não acerta nem no meio.