Brasileiros descobrem réptil que é primo extinto de fóssil vivo da Nova Zelândia

Reinaldo José Lopes

As camadas de rochas do interior gaúcho, célebres pelos fósseis de alguns dos mais antigos dinossauros, acabam de revelar ao mundo outro membro importante da biodiversidade do passado: o pequeno réptil Clevosaurus hadroprodon, bichinho com idade entre 237 milhões e 228 milhões de anos.

Não se trata de mera lagartixa (embora a criatura tivesse, de fato, o tamanho de uma). O C. hadroprodon pertence a um ramo peculiar do álbum de família reptiliano. Seu parentesco com cobras e lagartos modernos é distante. Classificado como um esfenodonte, o animal só tem um primo próximo ainda vivo: o tuatara (gênero Sphenodon), encontrado apenas na longínqua Nova Zelândia. Por pertencer a esse grupo desaparecido, o tuatara costuma ser chamado de “fóssil vivo”. Veja abaixo como é o bicho atual.

O réptil neozelandês tuatara, considerado um fóssil vivo. Crédito: Creative Commons

Partes do crânio e da mandíbula do C. hadroprodon foram achados no município de Candelária (RS). A descrição dos fósseis está em artigo recém-publicado na revista especializada Scientific Reports. A paleontóloga Annie Schmaltz Hsiou, da USP de Ribeirão Preto, liderou os estudos sobre a nova espécie, os quais contaram também com a participação de cientistas da Universidade Midwestern (EUA), Universidade de Alberta (Canadá), Universidade Federal de Santa Maria (RS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia e Universidade Federal de Sergipe.

Os esfenodontes, hoje quase extintos, chegaram a se espalhar por praticamente todos os continentes (na época, é claro, as massas continentais não tinham a mesma configuração dos últimos milhões de anos). A nova espécie é a mais antiga do supercontinente sulino Gondwana (formado pela união das atuais América do Sul, África, Índia e Antártida, entre outras terras), o que pode sugerir que a ascensão do grupo teve seus primeiros passos por aqui.

“O Clevosaurus hadroprodon é uma descoberta importante porque combina uma fileira de dentes primitiva com a presença de dentes maciços, semelhantes a presas, provavelmente usados para competição ou defesa, indicando que tais especializações antecederam mudanças na dentição dos esfenodontes relacionadas a estratégias de alimentação”, afirmou em comunicado o paleontólogo Randall Nydam, da Universidade Midwestern, um dos coautores do trabalho.

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