As origens mitológicas da desigualdade, segundo os nórdicos

Reinaldo José Lopes

Imagino que pouca gente no Brasil tenha ouvido falar do poema escandinavo “Rígsthula”, que teria sido composto por volta do século 10 d.C. Como muitos outros mitos, o “Rígsthula” tem certa função didática, tentando explicar por que certo aspecto do mundo à nossa volta adquiriu a feição que tem hoje — e o tema desse texto específico é a desigualdade social ou “de classe” na antiga sociedade da Era Viking.

Conta o poema que o deus de nome Ríg (aparentemente outra designação do célebre Heimdall, guardião de Bifröst, a Ponte do Arco-Íris que une o reino dos deuses à Terra — quem assistiu os filmes do Thor sabe do que estou falando) resolve, um belo dia, visitar a terra e vai se hospedando na morada de um casal diferente a cada noite.

Só que, a cada noite, ele dorme entre o marido e a mulher que o acolheram, o que significa que, nove meses depois, acaba nascendo um menino em cada lugar. Na primeira casa, uma choupana muito pobre, a visita de Ríg é seguida pelo nascimento de um bebê chamado Thrael (algo como “servo”). Quando cresceu, ele tinha “pele enrugada, dedos nodosos e grossos, de feio rosto, curvas costas, longos calcanhares”. Thrael se casou com Thír (“serva”) e teve filhos destinados ao trabalho pesado.

Na noite seguinte, o deus foi acolhido numa casa espaçosa e bem cuidada, que pertencia a um casal bem apessoado. Acabou nascendo ali um menino chamado Karl (“homem livre”). “Suas faces brilhavam, seus olhos reluziam. Aprendeu a amansar o boi, a fazer o arado, a construir casas e erguer celeiros.” Karl se casou com Snör (“nora”) e teve filhos que levavam uma vida decente em sua propriedade.

Na terceira noite, o deus Ríg chegou à mansão de um casal extremamente bem-vestido, que lhe ofereceu um jantar no qual serviçais cuidaram de tudo. O encontro levou ao nascimento de Iarl (“homem nobre, conde”). “Belo era seu cabelo, ferozes seus olhos como jovens serpentes”, diz o poema. Iarl tornou-se um guerreiro, um caçador e o dono de vastas propriedades. Ele e sua mulher tiveram 12 filhos homens. O mais novo era conhecido como Konr Ungr (Kon, o Jovem), um trocadilho com a palavra “konungr”, que significa “rei” (tal como “king” em inglês).

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