Jeitos de entender a instabilidade do núcleo dos átomos
Escrever às vezes é divertido, muitas vezes é inglório. Reaprendi isso da maneira mais difícil escrevendo meu mais recente livrinho, “Um Mergulho na Tabela Periódica”. A ideia era que cada capítulo da obra fosse acompanhado de atividades práticas que pudessem ser usadas, em sala de aula, como ferramenta para entender o conteúdo teórico do capítulo.
Acontece que um deles era sobre os elementos químicos muito pesados, que são inerentemente instáveis — seu núcleo se desfaz, dando origem a outros elementos. E eu penei pra bolar atividades condizentes com o tema. Esbocei duas, que foram rejeitadas na edição. Acabei sendo salvo pelo meu coautor, o químico Luís Brudna. Mas acho que as atividades ainda valem como metáforas para entender a instabilidade de certos átomos. Publico-as cá embaixo. Depois me contem o que acharam. E, se quiserem baixar o livro, é só clicar aqui, de graça (ou aqui, na Amazon, por um valor módico).
Atividade sugerida 1
Sugerimos que esta atividade seja realizada antes da apresentação do conteúdo teórico do capítulo, de forma que funcione como “provocação” ou introdução ao tema. Recomenda-se que os coordenadores tragam para a sala diferentes materiais que possam servir como blocos de construção. Podem ser conjuntos de peças de Lego ou brinquedos similares, bloquinhos de madeira, caixas de sapato, caixas de papelão etc.
Os participantes, divididos em grupos, têm uma missão simples: montar a maior pilha possível com esses elementos, com base numa estrutura linear, ou seja, apenas uma peça embaixo da outra, sem colocar, por exemplo, duas peças lado a lado de forma a reforçar a estrutura. O coordenador deve instruir os presentes a prestar atenção na estabilidade das pilhas e no momento em que ela começa a deixar de valer, levando ao desabamento das estruturas. Dez minutos de atividade é um tempo considerado suficiente, depois do qual passa-se para a exposição teórica do conteúdo.
Resultado da atividade: após o exercício, os participantes deverão ser capazes de estimar como diferentes tamanhos de pilhas e blocos componentes de estruturas influenciam a estabilidade do conjunto. Com base nessa constatação, o coordenador pode introduzir sua exposição teórica com o seguinte raciocínio: “Como vocês viram, existe uma quantidade limitada de blocos que conseguimos empilhar sem que a estrutura desabe. Mais ou menos a mesma coisa acontece com os átomos dos elementos químicos conforme eles ficam mais pesados, acumulando prótons e nêutrons em sua estrutura. Desta vez, vamos falar dos elementos pesados e altamente instáveis – ou seja, que desabam e se desfazem facilmente –, ocupantes das fronteiras da Tabela Periódica.”
Atividade sugerida 2
Sugerimos que esta atividade seja realizada antes da apresentação do conteúdo teórico do capítulo, de forma que funcione como “provocação” ou introdução descontraída ao tema. O coordenador da atividade deve providenciar um ou mais pacotes grandes de marshmallow ou outra guloseima de consistência mole (pelotas de algodão-doce também podem funcionar).
Pede-se que um dos participantes fique numa das extremidades da sala com os marshmallows nas mãos, enquanto os outros se posicionam na outra ponta do receito, o mais longe possível, de boca aberta. O objetivo é tentar acertar com precisão a boca dos participantes que estão longe. Obviamente, deve-se tomar cuidado com a força do arremesso para não machucar ninguém – daí a escolha dos marshmallows como “arma”. Os participantes podem se revezar no papel de lançadores e “bocas”, até que os pacotes estejam vazios e todo mundo tenha tido a chance de comer os doces. Antes da atividade, convém verificar se todos podem consumir as guloseimas ou se há alguma restrição alimentar no grupo. Após a conclusão, todos ajudam a limpar a sala caso marshmallows tenham ficado espalhados pelo chão. Se desejarem, os participantes podem montar estatísticas com as taxas de acerto de cada arremessador de doces.
Resultado da atividade: o coordenador pode explicar a brincadeira com o seguinte raciocínio. “Vocês viram como não foi fácil acertar a boca dos seus colegas, certo? Alguns doces caíram no chão, outros bateram no nariz em vez de chegar ao alvo etc. É preciso sorte. Agora, imagine que você fosse capaz de jogar 6 bilhões de sacos de marshmallow por segundo, cada um deles com mil doces cada, durante três meses. Os acertos iam ser muito mais numerosos, não é? Pois é mais ou menos assim que os físicos acabam conseguindo acertar alvos minúsculos com seus aceleradores de partículas, e as trombadas entre núcleos de átomos podem acabar levando à formação de elementos químicos muito pesados e desconhecidos da ciência. Vamos saber mais sobre esse processo agora.” A metáfora foi utilizada por Mark Stoyer, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Livermore (EUA), ao explicar como funciona a caça a novos elementos químicos em laboratório.
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