Milhares de cientistas assinam carta contra política ambiental de Bolsonaro

Reinaldo José Lopes

Recebo da ecóloga Carolina Levis, pesquisadora de pós-doutorado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), o link para acessar um importante artigo assinado por ela e por seu colega Bernardo Flores, da Unicamp, na revista científica Nature Ecology & Evolution. Trata-se de um manifesto contra o desmonte da política ambiental brasileira promovida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. A dupla e seus colegas conseguiram que o manifesto fosse endossado por uma impressionante lista de 1.230 cientistas brasileiros das mais variadas instituições dentro e fora do Brasil.

A boa notícia é que se trata de um dos textos mais sensatos, claros e baseados em dados já publicados sobre a questão. Didaticamente, Levis, Flores e companhia explicam a importância dos serviços prestados pelos ecossistemas naturais do Brasil:

– Regulação do clima e do ciclo da água;

– Sequestro de carbono (cada vez mais importante num mundo que sofre com as mudanças climáticas causadas pela queima de combustíveis fósseis);

– Alimentos, matérias-primas, diversidade genética para a agricultura e inspiração para a indústria e a biotecnologia;

– Valores imateriais culturais e espirituais.

Enquanto a política bolsonarista enxerga esses ecossistemas apenas como espaço para ampliar áreas de cultivo, a equipe advoga, corretamente:

– O uso inteligente de áreas já degradadas para evitar novos desmates;

– O investimento numa cadeia de produtos biotecnológicos criados a partir da pesquisa com a biodiversidade brasileira;

– A valorização do conhecimento das populações tradicionais (indígenas, ribeirinhos, quilombolas etc.) para o uso sustentável desses recursos.

Infelizmente, é quase certo que toda essa sensatez encontre apenas ouvidos moucos no Planalto. Ignorar as complexidades apontadas pelos cientistas é o projeto do governo Bolsonaro. Mas o trabalho tem a grande virtude de mostrar a gravidade do cenário atual para a comunidade acadêmica do mundo todo. E pressões externas talvez sejam mais eficazes que as internas, no longo prazo.

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