Gatos e furões podem ser infectados pelo coronavírus, diz estudo
Furões e gatos podem ser infectados pelo novo coronavírus com relativa facilidade e manifestam sintomas da doença nas vias respiratórias superiores (focinho e garganta), indica um estudo chinês que acaba de ser publicado na revista especializada Science.
A pesquisa, liderada por Zhigao Bu, do Instituto de Pesquisa Veterinária de Harbin, também verificou que outras espécies de animais domésticos – cães, porcos, galinhas e patos – são pouco suscetíveis ao vírus causador da Covid-19.
Com base nos dados, os cientistas serão capazes de definir caminhos para usar tanto gatos quanto furões como modelos experimentais da moléstia, ou seja, “simuladores biológicos” da infecção, o que é crucial para compreender o curso da doença e testar tratamentos e vacinas. Até onde se sabe, os camundongos, animais mais usados como modelos para o estudo de doenças em laboratório, não são infectados naturalmente pelo vírus, o que aumenta a necessidade de encontrar espécies que possam desempenhar esse papel.
De certo modo, os furões eram uma escolha óbvia para esse tipo de estudo porque esses mamíferos já são usados como modelos de outras infecções respiratórias. Os pesquisadores chineses obtiveram duas amostras diferentes do vírus – uma isolada no mercado de peixes de Wuhan onde a pandemia parece ter começado, outra vinda de um paciente – e as inocularam no focinho dos furões.
Após quatro dias, os animais foram anestesiados e sacrificados. O grupo examinou em detalhes diversos órgãos dos animais, mas só acharam material genético do Sars-CoV-2 nas estruturas nasais, no céu da boca e nas amígdalas dos furões, confirmando o que também parece ser verdade em seres humanos: o vírus “gosta” de se replicar (ou seja, de se multiplicar) nas vias aéreas superiores.
Um outro grupo de furões que também recebeu o coronavírus foi acompanhado por um período mais longo, entre duas e três semanas. Um terço dos bichos manifestou sintomas como febre e perda de apetite. Exames mostraram danos pulmonares típicos de uma forma leve de bronquite. Os animais não chegaram a morrer por causa do vírus.
O mesmo processo, envolvendo administração do vírus na cavidade do focinho, foi empregado com gatos domésticos, cuja idade variava entre seis e nove meses. Além disso, os pesquisadores também colocaram gatos que não receberam os vírus em jaulas que ficavam do lado das ocupadas pelos felinos contaminados.
Mais uma vez, a presença do material genético do vírus foi marcante em locais como as narinas, o céu da boca e as amígdalas. Em um dos casos, o Sars-CoV-2 também foi detectado na traqueia. Também foi possível detectar a infecção de um dos gatos que não tinha recebido o vírus originalmente. Eles repetiram o teste com gatos mais jovens (com idades entre dois e três meses), com resultados parecidos, mas também lesões mais sérias nos pulmões.
Para os autores da pesquisa, os resultados indicam que é preciso monitorar o vírus também em gatos domésticos. Mas o trabalho também tem limitações que exigem cuidado, afirma o zoólogo Hugo Fernandes-Ferreira, da Universidade Estadual do Ceará.
Ele aponta que a dose viral usada para infectar os animais foi bastante alta, não refletindo a transmissão natural do patógeno. Para Fernandes-Ferreira, é preciso levar em conta também que felinos jovens, como os usados no estudo, possuem sistema imune (de defesa do organismo) bastante débil. Além disso, ainda não há evidências de que a transmissão entre felinos e seres humanos possa ocorrer, destaca ele.
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