Quando os europeus eram considerados atrasados pelo seu clima
Volta e meia alguém ressuscita a conversinha mole de que os habitantes de nações quentes (tipo esta aqui em que estamos) são mais pobres/atrasados/preguiçosos etc. do que os dos países temperados por causa do clima. Sabe como é, calor tropical dá uma leseira, né?
Ahã. Senta lá, Claudia.
Depois de ouvir algumas vezes esse papo, foi uma grata surpresa ver que, no século 11 da Era Cristã, um escritor muçulmano usou exatamente esse argumento do determinismo climático DE FORMA INVERSA. Afinal, no tempo dele, a frígida Europa, nas latitudes temperadas da Inglaterra, Alemanha etc. é que era social, cultural e tecnologicamente atrasada perto do mundo islâmico. Vejam só o que ele diz:
“As outras pessoas desse grupo [o dos bárbaros], que não cultivaram as ciências, são mais semelhantes a feras do que a homens. Pois para aqueles que vivem mais ao norte, entre o último dos sete climas e os limites do mundo habitado, a distância excessiva do sol em relação à linha do zênite faz com que o ar se torne frio, e o céu, nebuloso. Os temperamentos deles, portanto, são frígidos, seus humores, cruentos, seus ventres, fartos, sua cor, pálida, seus cabelos, longos e escorridos. Assim, falta-lhes agudeza de compreensão e clareza de inteligência, e são sobrepujados pela ignorância e apatia, falta de discernimento e estupidez.”
Aqui, os molengas são os que vivem no frio, e não os que vivem em lugares quentes. As palavras acima foram escritas por Said ibn Ahmada, em 1068, na cidade espanhola de Toledo.
O mundo não gira, gentil leitor — ele capota mesmo.
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