Sai o manifesto do Design Inteligente
Aconteceu na semana passada o Congresso Brasileiro do Design Inteligente, em Campinas — infelizmente, não pude ir acompanhar o evento in loco.
O que é o Design Inteligente? Confira os links abaixo para entender, insigne leitor.
Entrevista com pesquisador da Universidade Federal do Amazonas e adepto do DI
O paradoxo da cebola: por que as afirmações do Design Inteligente sobre o genoma não se sustentam
Como reagir ao Design Inteligente?
Conforme prometido, os organizadores do evento, que fundaram a Sociedade Brasileira do Design Inteligente durante o evento, divulgaram um manifesto sobre a questão do ensino da teoria da evolução e do Design Inteligente no país. Reproduzo o texto deles abaixo. Aproveito para grifar alguns pontos que considero problemáticos.
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MANIFESTO PÚBLICO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DO DESIGN INTELIGENTE -TDI BRASIL- SOBRE O ENSINO DA TEORIA DA EVOLUÇÃO E DA TEORIA DO DESIGN INTELIGENTE NAS ESCOLAS E UNIVERSIDADES PÚBLICAS E PRIVADAS
A TDI-BRASIL declara, como sua política educacional, não ser favorável, na atual conjuntura acadêmica, ao ensino da Teoria do Design Inteligente (TDI) nas escolas e universidades brasileiras públicas e privadas, como também nas confessionais.
Nossa posição se fundamenta na opinião atual da Academia, que ainda não acata em sua maioria a TDI e o seu ensino, posição essa que nós da TDI BRASIL, como acadêmicos, devemos acatar.
Outro fundamento de nossa posição contrária ao ensino da TDI nas escolas é a não existência, no quadro educacional atual, de professores capacitados para corretamente ensinar os postulados da TDI.
Entendemos, porém, que os alunos têm o direito constitucional de ser informados que há uma disputa já instalada na academia entre a teoria da evolução (TE) e a TDI quanto à melhor inferência científica sobre nossas origens. Inclusive há outras correntes acadêmicas, além da TDI, que hoje questionam a validade da TE oferecendo uma terceira via.
Quanto ao ensino da TE, a TDI BRASIL defende que este ensino seja feito, porém, de uma forma honesta e imparcial, tanto nos livros didáticos quanto na exposição dos professores em salas de aula. Defendemos que sejam eliminados exemplos fraudulentos ou equivocados atualmente presentes em livros didáticos, e que sejam expostas as deficiências graves que a TE apresenta, e que se agravam a cada dia frente às descobertas científicas mais recentes- o que hoje não ocorre.
Quanto ao criacionismo, na sua versão religiosa e filosófica, por causa de seus pressupostos filosóficos e teológicos, entendemos que deva ser ensinado e discutido, junto com as evidências científicas que porventura o corroborem, em aulas de filosofia e teologia, dando a estas disciplinas o seu devido valor no debate sobre as nossas origens.
TDI-BRASIL, Campinas, 16 de novembro de 2014
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Alguns rápidos comentários — quem sabe eu consigo voltar ao tema mais tarde, mas é importante não deixar passar em branco:
1)Parece curioso o argumento de que os defensores da TDI têm de aceitar o fato de que a maioria dos seus colegas ainda é contra a ideia. É comum os adeptos do TDI dizerem que o consenso científico não deve ser seguido apenas por ser consenso. A impressão é que, nesse caso, eles estão dando ao menos algum valor ao consenso científico.
2)É claro que é importante e válido mostrar, em sala de aula, como o conhecimento científico é algo que se constrói e reconstrói o tempo todo. Padecemos, no mundo todo, e especialmente no Brasil, do mal de retratar a ciência como algo fechado, quando se trata de um processo extremamente aberto. Existem inúmeros debates importantes rolando a respeito de como a evolução acontece hoje. A questão é se esse debate passa mesmo pela TDI, como o manifesto defende. Ao que tudo indica, a resposta é não. Mas a existência da TDI talvez seja um bom pretexto para os professores debaterem filosofia da ciência, por exemplo, ou a diferença entre naturalismo metodológico e naturalismo filosófico.
3)De novo: é ótimo que os alunos, em todos os níveis, saibam que teorias são modelos do mundo, e não dogmas. Seria excelente eliminar a desinformação que existe a respeito da biologia evolutiva — só para dar um exemplo banal, Darwin era tão “lamarckista” quanto Lamarck, mas pouca gente ouve falar disso no ensino médio. É importante ensinar os alunos a não apenas aderir a uma teoria como também a pensar em maneiras de testá-la e achar seus possíveis furos. O que não significa se render a fraquezas imaginárias de uma teoria — que é o que, quase sempre, a TDI acaba fazendo.
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