Cinco apostas para os estudos sobre evolução humana em 2019

Toumaï
Reinaldo José Lopes

Já que estamos em época de retrospectivas e prospectivas, eu também resolvi fazer minhas apostas para o ano que se inicia. Eis cinco temas da pesquisa sobre evolução humana que, com alguma sorte, podem bombar em 2019, organizados temporalmente dos mais antigos para os mais recentes:

1)Quem é Toumaï, afinal? Oficialmente, o crânio batizado com o nome científico Sahelanthropus tchadensis e apelidado de “Toumaï”, ou “esperança de vida”, é o mais antigo hominídeo, ou seja, membro da linhagem humana depois da separação entre esta e os ancestrais dos chimpanzés. (O crânio é a imagem acima.) O problema é que o bicho é muito antigo — talvez com 7 milhões de anos — e vem do Chade, um lugar considerado “fora de mão” para o cenário principal da evolução do homem, que aconteceu principalmente no leste e no sul da África em suas fases mais recuadas.

Por isso, há quem duvide que ele integre mesmo a linhagem dos ancestrais dos seres humanos. Descobertas de novos fósseis no Chade ou em regiões vizinhas, ou quiçá novas análises comparativas dos fósseis já disponíveis, podem sanar essa dúvida.

2)O mistério dos hobbits indonésios! Não, eles não tinham o sobrenome Bolseiro nem viviam na Terra-média — eram habitantes da ilha de Flores, na Indonésia, o que lhes deu o apelido de Homo floresiensis. Teriam vivido até poucas dezenas de milhares de anos atrás. De estatura (1 m) e cérebro diminutos, também dividem opiniões: há quem os ache uma espécie arcaica que encolheu por viver numa ilha, há quem os classifique como seres humanos modernos com doenças genéticas. De novo, a resposta definitiva pode vir com achados de novos fósseis — ou com análises genômicas (o que é difícil por causa do clima tropical indonésio, mas está ficando menos improvável — veja o item 5 abaixo).

3)Quando teremos o próximo genoma de hominídeos? Os cientistas estão avançando cada vez na obtenção e análise do DNA dos ancestrais do ser humano. Já temos rascunhos bastante abrangentes do genoma de neandertais e denisovanos (misteriosos hominídeos da Sibéria). Humanos arcaicos da Espanha com idade de 400 mil anos também integram a lista, mas de modo mais modesto — só foi possível, até agora, obter pedacinhos de seu DNA mitocondrial (presente nas mitocôndrias, as usinas de energia das células). Será que teremos genomas completos de novas espécies de hominídeos em 2019?

4)Quando e como surgiu o Homo sapiens? Até pouco tempo atrás, 200 mil anos atrás parecia ser a data-limite para a gênese africana da nossa espécie. Novos achados fizeram essa data recuar, segundo alguns pesquisadores, para 300 mil anos antes do presente. Será que ela é ainda mais antiga? E por que o Homo sapiens surgiu quando surgiu? E, se me permite mais uma pergunta, por que demorou tanto pra se expandir mundo afora?

5)Genômica antiga made in Brazil! Sim, por aqui também devemos ter ótimas notícias pela frente. A equipe coordenada pelo arqueólogo André Strauss, da USP, obteve financiamento da Fapesp, a fundação estadual paulista de apoio à pesquisa, para montar o primeiro laboratório de genômica pré-histórica do país. Grandes mistérios populacionais do passado brasileiro — a origem dos construtores de sambaquis do litoral, as grandes disputas entre etnias guerreiras da Amazônia antes de Cabral etc. — têm tudo para ficar um pouco menos obscuros. No ano que passou, um trabalho deles já lançou luz sobre o misterioso povo de Luzia em Lagoa Santa (MG), mostrando que eles têm parentesco distante com os indígenas atuais, diferentemente do que se pensava.

E é isso — em 2020, podem vir aqui me dizer o quanto eu estava errado 😉 Feliz Ano Novo a todos!

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